Em mais um flagrante desrespeito a quem se esforça para garantir seus lucros (e os dividendos pagos aos acionistas) cada vez mais expressivos, o Santander demitiu uma bancária em pleno tratamento contra o câncer, e às vésperas do Natal.
Paula (nome fictício) enfrenta uma batalha contra um tumor na mama e tinha acabado de retornar do período de férias. A demissão ocorreu um dia depois, no dia 19 de novembro.
“Faço acompanhamento no médico de seis em seis meses, tomo comprimido todos os dias e injeção de três em três meses. (...) apresentei atestados comprovando que eu faço tratamento e, na terça feira, (...) quando foi umas 9h, me demitiram com a justificativa de performance. Eu perguntei ‘Por quê? A minha atividade não está em dia? Não está tudo certo?’ O gerente respondeu que sente muito, e que a área está passando por uma transformação.”
Ela trabalhava no departamento de manufatura, no centro administrativo Radar (antigo Casa 1). A área está sob supervisão de uma consultoria independente que analisa os processos para automatiza-los a fim de cortar custos com pessoal.
“Um monte de gente estava sendo demitida e eu fiquei muito preocupada com meu plano de saúde. Fui até o hospital e pedi para o médico me dar alta porque eu achava que ia ser demitida e não ia conseguir custear os medicamentos. O médico falou ‘não, você não pode ter alta porque ainda corre risco de morte’”, conta Paula.
Após a demissão, ela procurou o Sindicato, que a orientou a pedir um laudo médico no hospital. No dia 21 de novembro foi enviado para o Santander um e-mail, com o laudo médico em anexo, explicando o quadro médico da trabalhadora e cobrando a revisão da demissão. Mas até o momento da publicação deste texto não houve retorno do banco.
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No dia 22, o dirigente sindical e bancário do Santander Roberto Paulino entrou em contato com a área de RH de Relações Sindicais do banco. “É uma contradição um banco, através do seu presidente e diretoria executiva, promover campanha de prevenção do câncer de mama e demitir uma bancária em pleno tratamento contra a mesma doença”, protesta o dirigente.
“Assim como é uma vergonha um banco lucrar tanto à custa da sociedade e da saúde dos trabalhadores e ainda contratar uma consultoria, visando demitir, em um banco com sobrecarga de trabalho em muitas áreas, e em um país com 12 milhões de desempregados”, acrescenta Paulino. “Isso resume a falta de humanidade da gestão brasileira do banco com matriz na Espanha, onde seria impensável o mesmo tipo de postura”, afirma.
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Somente com o que arrecada com tarifas e serviços cobrados dos clientes, o Santander poderia pagar praticamente duas folhas de pagamentos (199%). “Isso representa mais 49.000 trabalhadores. O banco precisa de uma concessão pública para atuar no mercado financeiro do nosso país. Se é público, é um direito do povo brasileiro. E o Santander deveria retribuir à sociedade brasileira por meio da geração de empregos, e não demitindo pais e mães de família às vésperas do Natal”, afirma Roberto Paulino.
A trabalhadora demitida agora diz ter mágoa de uma empresa para a qual trabalhou por 13 anos e da qual disse sempre ter sentido orgulho.
“Eu fiquei muito decepcionada, indignada. Sempre vi o banco de uma forma muito positiva. A empresa sempre se preocupou em mostrar que é um banco justo. Mas justo com quem? Não é justo nem com os funcionários, porque o banco tem noção das coisas que acontecem. Eu fiquei bem decepcionada, indignada, porque esperaram eu voltar das minhas férias para me mandar embora mesmo sabendo de todo o processo [clínico]”, desabafa.