Foi realizada na tarde desta quarta-feira 26, na sede da Fenaban (federação dos bancos), mesa de negociação sobre assédio moral, sexual e outras formas de violência no trabalho bancário.
Na mesa, a representação dos bancários cobrou, entre outros pontos, garantia de sigilo nos canais de denúncias dos bancos; redução no prazo de apuração; informações sobre campanhas de conscientização realizadas pelos bancos; fim da pressão por metas abusivas, que está adoecendo a categoria; participação dos sindicatos no SIPAT (Semana Interna de Prevenção aos Acidentes de Trabalho); e debate sobre assédio algorítmico por meio do monitoramento digital do trabalho bancário.
No início da mesa de negociação, foram apresentados pelos representantes dos bancários dados de uma pesquisa (KPMG) que mostram que 30% das pessoas pesquisadas relataram sofrer algum tipo de assédio em 2024. Destes assédios, 41% ocorreram no local de trabalho. Porém, 92% dos pesquisados não denunciaram.
“Estes dados reforçam a nossa cobrança pelo fortalecimento e ampla divulgação dos canais de denúncia, garantindo a segurança e sigilo total, de forma que os trabalhadores tenham a confiança necessária para acioná-los”, pontua a presidenta do Sindicato e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, Neiva Ribeiro.
Canais dos Bancos
Por sua vez, a Fenaban apresentou dados dos canais de denúncia de 42 bancos, que empregam 97,6% da categoria, referentes ao 1º semestre de 2025, comparando-os com dados de 2024, apresentados em mesa de negociação anterior sobre o tema, realizada em fevereiro.
Nos dados consolidados em 2024, chamou a atenção o crescimento exponencial de denúncias. Entre 2020 e 2024, as denúncias de assédio moral cresceram 144,8%; de assédio sexual 600%; e de outras formas de violência 8.011,3%. Somadas as três categorias, o aumento percentual de denúncias foi de 713,8%.
Na apresentação dos dados do 1º semestre de 2025, em respostas as cobranças feitas pela representação dos bancários, a Fenaban destacou o aumento do número de medidas disciplinares decorrentes de denúncias como demissões e advertências disciplinares; a redução do tempo de apuração em relação a 2024; e o fato de que 95% dos bancos pesquisados terem feito declarações de repúdio a qualquer ato de assédio moral, sexual e outras formas de violências no trabalho, conforme determina a CCT dos bancários.
Sobre a disponibilização de informações aos trabalhadores sobre assédio moral, sexual e outras formas de violência, a Fenaban informou que 88% já o fizeram e 12% o farão até o final de dezembro deste ano. Já sobre a disponibilização de canal de apoio, 93% dos bancos pesquisados o fizeram e os outros 7% o farão até dezembro.
Outro dado destacado foi o fato de que 100% dos bancos pesquisados incluíram o tema do assédio moral, sexual e outras formas de violência no trabalho na SIPAT (Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho).
“Os dados apresentados pela Fenaban mostraram avanços importantes, feitos a partir das cobranças que fizemos na mesa de fevereiro, como o detalhamento das ações enquadradas como ´outras formas de violência´; o crescimento percentual de bancos que já realizaram a disponibilização de informações aos trabalhadores e a implementação de canais de apoio, com o compromisso de chegar a 100% até dezembro; e o aumento de punições concretas de assediadores”, pontua a presidenta do Sindicato, Neiva Ribeiro.
“Porém, reforçamos aos bancos a urgência de assegurar totalmente o sigilo das denúncias nos seus canais internos; de reforçar companhas de conscientização; da redução do prazo de apuração de denúncias; do combate efetivo ao assédio moral e metas abusivas, que levam aos índices alarmantes de adoecimento na categoria; e de transparência e acompanhamento pelo Sindicato dos fluxos de acolhimento e apuração de denúncias nos canais internos dos bancos”, acrescenta.
Adoecimento
O crescimento exponencial de denúncias de assédio nos bancos, impulsionado pela pressão crescente por metas abusivas, dado que consta no levantamento da própria Fenaban, caminha em paralelo com a vertiginosa curva ascendente de adoecimento, especialmente mental, na categoria bancária.
Apesar de a categoria bancária representar apenas 0,8% do emprego formal brasileiro, ela é responsável por 2,18% (2024) dos afastamentos reconhecidos como doenças ocupacionais (B91). Questões relacionadas com a saúde mental foram as principais causas de afastamento de bancários em 2024: 55,9% dos benefícios acidentários (B91) e 51,8% dos benefícios previdenciários.
Em 2024, os bancos múltiplos com carteira comercial ocuparam a 1ª posição entre os afastamentos acidentários por saúde mental, por atividade econômica, com 1.946 afastamentos; e a 5ª posição entre os afastamentos previdenciários, com 8.345 ocorrências.
Assédio Algorítmico
Outra cobrança do Comando Nacional dos Bancários foi o debate sobre o assédio algorítmico, traduzido na vigilância digital e uso de inteligência artificial para exercer controle e pressão sobre o trabalhador, o que pode aumentar ainda mais o adoecimento da categoria.
A Fenaban, em resposta, sugeriu que o tema seja debatido em mesa específica, agendada para 1º de dezembro, quando será abordado o monitoramento do trabalho bancário e a gestão ética da tecnologia.
“Este é um tema fundamental, que precisa ser negociado e regulado de forma que as novas tecnologias não sejam mais um fator de pressão, adoecimento e nem mesmo interfiram no direito à privacidade dos trabalhadores. Vamos para a negociação com uma proposta de cláusula que proteja os bancários”, conclui a presidenta do Sindicato.
Bisfenol
Sobre a substituição de papéis térmicos utilizados em impressoras e terminais eletrônicos que contenham bisfenol A (BPA) e bisfenol S (BPS), que oferecem riscos à saúde dos trabalhadores, o Comando Nacional dos Bancários cobrou novamente a retirada imediata das bobinas que contenham estes produtos. O tema voltará a pauta no dia 1º de dezembro.