Brasília – Integrantes da executiva nacional de vários partidos estão discutindo nesta terça-feira 5 as estratégias do Palácio do Planalto para fazer com que as bancadas aliadas apoiem a reforma da Previdência. A notícia que mais tem sido comentada na Câmara e no Senado é que, diante da incapacidade de fazer novas propostas para liberação de emendas e cargos no governo, o Executivo vem conversando com os presidentes das siglas, o que pode implicar, para os infiéis, em desvantagens como redução no horário eleitoral e menos recursos por parte do fundo partidário nas eleições de 2018.
Além disso, se o acordo for fechado, o Planalto passará a estabelecer favores e diretrizes para os partidos e não para os parlamentares em si. Mas essa responsabilidade não está sendo vista com bons olhos nem mesmo por integrantes da base do governo.
A proposta, que teria saído do presidente do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson, no último fim de semana, deixou irritados na manhã desta terça vários parlamentares e foi desconversada pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Os apoios à reforma da Previdência ainda estão sendo discutidos, tudo está em fase de análise. Não há uma definição e não sabemos se será possível colocar a proposta em votação no dia 13”, disse Maia, tentando mudar de assunto.
Nos bastidores, peemedebistas lembram que, mais fácil para o Palácio do Planalto do que pedir aos presidentes destes partidos para que intensifiquem pressões e punições junto às bancadas, seria tentar conciliar com o PSDB uma posição de apoio à reforma.
Uma vez, que, independentemente das brigas com o governo, a legenda tem caráter reformista. Muitos caciques tucanos concordam com essa posição e tentam unir os integrantes do partido, mas uma definição sobre o caso só acontecerá depois da realização de reunião da executiva nacional do partido, prevista para quarta-feira 6. Sem falar que, em meio à briga dos integrantes do PSDB sobre apoiar ou sair do governo, a bancada que mais se posiciona pela saída é a da Câmara.
‘Prestação de contas’ – Também estão relutantes em fechar questão sobre a reforma o DEM e o PSD, que são siglas da base aliada com ministérios importantes dentro do governo. Em reservado, deputados destes partidos disseram que um fechamento de questão entre as bancadas poderia pôr em risco algumas alianças que estão sendo firmadas nos estados com vistas ao próximo ano.
Enquanto as contas estão sendo feitas e as especulações tratadas em alto volume, os oposicionistas atuam para ampliar a mobilização popular contra a reforma. E avaliam que, por este caminho de punição aos deputados “infiéis”, a proposta não será aprovada antes das eleições de 2018.
“Todo partido sabe que não é fácil achar um candidato com chances de disputar uma vaga na Câmara e no Senado. Nenhuma sigla vai sacrificar a bancada por conta da reforma da Previdência, justo a que está sendo a mais impopular de todas”, comentou nesta terça 5 o líder do PT na Câmara, deputado Carlos Zarattini (SP).
Ele lembrou que os partidos da oposição estão preparados para, ao lado de centrais sindicais diversas, movimentos sociais e outras entidades da sociedade civil, divulgar amplamente os nomes dos que votarem favoravelmente à reforma em suas áreas eleitorais.
O petista disse que a questão não envolve apenas a mobilização que está sendo feita agora, mas também depois uma atuação constante dos oposicionistas após a votação, caso a data seja definida. “Não vamos deixar isso passar em branco. Quem votar, vai ter que prestar satisfações à sua base”, ameaçou.
Manifestação – Por parte das entidades sociais, a mobilização em Brasília nesta terça está programada para se iniciar por volta das 16h, na rodoviária do Plano Piloto. Os manifestantes pretendem entregar panfletos para a população com explicações sobre o texto da proposta e apontar os itens considerados prejudiciais para os trabalhadores.
Em nota oficial divulgada na última sexta-feira 1º, a CUT do Distrito Federal destacou que continuará com suas atividades contra a reforma.
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“A pressão da classe trabalhadora e a garantia de mais uma grande greve que pararia o Brasil fez com que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, anunciasse a inviabilidade de votar a reforma da Previdência nesta quarta-feira 6. Com o recuo do governo, a greve nacional prevista para o dia 5 foi suspensa, mas isso não significa o enfraquecimento da luta da classe trabalhadora”, afirma o texto.
Recentemente, o presidente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip), Floriano de Sá Neto, disse que “embora o Executivo tenha sido obrigado a ‘remendar’ a proposta de reforma da Previdência, mesmo assim o texto continua longe de ser o ideal para o trabalhador brasileiro".
“A proposta continua a atacar direitos sociais dos trabalhadores que contribuem para a Previdência. Essa reforma tem um viés de retirada do acesso à aposentadoria e o desgaste parlamentar em torno de sua aprovação se mantém”, destacou. Segundo ele, “a combinação entre a reforma trabalhista com as novas regras propostas para a Previdência vai fazer com que milhões de trabalhadores jamais se aposentem no Brasil”.
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