De janeiro a novembro, os trabalhadores do Itaú representaram 42% do total de atendimentos a bancários afastados feitos pela Secretaria de Saúde no Sindicato dos Bancários de São Paulo. A porcentagem representa 464 bancárias e bancários.
Doenças como depressão, ansiedade e burnout foram responsáveis por 82,72% do total de afastamentos dos bancários do Itaú. Todas essas enfermidades são relacionadas ao trabalho. Em 2022, esse número tinha sido de 342 (40% do total).
“Além desses números absurdos de adoecidos, o Itaú vem adotando descaradamente uma prática discriminatória contra os trabalhadores que adoecem e se afastam do trabalho. O banco desrespeita e demite, sem nenhum pudor ético e humano, bancários e bancárias que, após apresentarem um atestado, retornam ao trabalho, sem estabilidade reconhecida pelo INSS”, denuncia Valeska Pincovai, secretária de Saúde do Sindicato e bancária do Itaú.
O Sindicato recebeu casos de bancários que pegaram atestado de 15 dias de afastamento e foram demitidos quando retornaram ao trabalho.
Também há casos de pessoas que são demitidas ao retornarem ao banco após o INSS não reconhecer o acidente de trabalho.
A entidade também apurou casos nos quais as pessoas pediram para trabalhar em home office para não se afastarem por mais tempo, e foram demitidas ao retornarem ao trabalho.
‘Minha sensação é que eu sou um lixo’
Em um desses casos, a bancária obteve um atestado médico de 15 dias e pediu para ficar este período em home office, com pedido médico recomendando o trabalho remoto. Isto porque ela não quis ficar afastada por mais de 15 dias, justamente para não ter de entrar no INSS. Com essa decisão, ela exerceria suas funções plenamente.
A sua gestora, porém, solicitou que ela retornasse antes dos 15 dias para o trabalho presencial, sob a alegação de que precisavam da “energia” dela na equipe. Ao se apresentar presencialmente, a bancária trabalhou até o final do expediente, quando foi demitida.
“Estava passando por processo seletivo para Gerente-Geral, ansiosa com meta, muita coisa na minha cabeça, muita informação. Entrei em depressão profunda, tive convulsão, fui no neuropsiquiatra, troquei os remédios, só que o médico queria me afastar pelo INSS. Pedi para não me afastar, então ele me deixou em home office por 15 dias. O afastamento acabaria hoje [quinta-feira 7], mas minha chefe me ligou dizendo ‘preciso de você, entendo que está em home, mas a galera gosta da sua energia’. Cheguei na agência, trabalhei até 15h30, quando minha chefe, que sempre foi minha parceira, chegou chorando e me demitiu”, relata a trabalhadora.
“Eu estou muito mal. A minha sensação é que eu sou um lixo, que eu não sou nada. Sempre fui ponta firme, braço forte, estava pronta para ser GG, sempre de prontidão, com pontuação acima de 1300. Estou sentindo que fui abandonada pelo amor da minha vida. Eu fico até emocionada, porque eu era apaixonada pelo que eu fazia. Você põe todas as expectativas naquilo, se mata de trabalhar”, desabafa a bancária.
RH Licenças: desrespeitos e desorganização
Além da discriminação e desrespeitos ao trabalhador que ficou doente por causa do próprio trabalho no banco, o setor de RH Licenças do Itaú não orienta corretamente os trabalhadores, e não fornece respostas rápidas para as consultas dos bancários que pedem orientações e encaminhamentos após aberto chamado no portal do banco. Com isso, os chamados se acumulam, sem retorno.
Outro problema gravíssimo do setor resulta em diversos casos de perda de prazo para marcação da perícia. O banco nem marca a perícia e nem orienta os bancários para que o façam.
Isso gera um enorme transtorno e perdas financeiras para o trabalhador, que nesses casos, só vai ter reconhecido o direito ao benefício a partir da data da marcação, e não a partir do 16º dia do afastamento, que seria o correto se o prazo de agendamento tivesse sido respeitado. Nesses casos, muitas vezes o INSS vai negar o beneficio.
Desconto no salário de valores antecipados
Outra questão: o banco já desconta valores antecipados em casos em que a pessoa já passou em perícia, mas ainda aguarda o resultado. Ou seja, o empregado entra em um limbo onde fica sem salário, sem benefício do INSS e nem pode voltar a trabalhar.
Um exemplo disso é de uma bancária que não quis a antecipação salarial e o banco mesmo assim fez a antecipação, sem ela pedir ou assinar. O banco perdeu o prazo da perícia e entregou a Declaração do Último Dia Trabalhado (DUT) com informações erradas.
Em face disto, o INSS pediu outro documento, em acerto pós-perícia. O banco, contudo, levou um mês para emitir nova DUT, gerando demora no resultado da perícia da bancária, mas já cobrou a antecipação que ela não tinha pedido. Essa bancária teve concedido o benefício apenas por oito dias, pois o banco tinha perdido o prazo.
Itaú: feito de futuro?
A desorganização no setor de RH Licenças do Itaú é tanta, que até mesmo para o Sindicato o setor demora para responder.
“Onde está o Programa de Retorno ao Trabalho e onde estão a prevenção e o cuidado e atenção às nossas pessoas, que fazem parte dos pilares do programa de saúde mental do banco, o ‘Saúde e Bem Estar’? No caso do Itaú, os Recursos Humanos deveriam se chamar Recursos Desumanos”, critica Valeska.
“Esse é o banco que diz ser feito de futuro: uma empresa que demite quem ficou doente de tanto trabalhar, e que não tem a mínima organização para encaminhar ao INSS aqueles que perderam a saúde por causa das metas abusivas e do assédio moral. Cobramos uma revisão da postura do Itaú e respeito aos trabalhadores, para que, de fato, seu novo slogan tenha algum sentido”, finaliza a dirigente.
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