A indicação de Carlos Victor Guerra Nagem, amigo particular de Jair Bolsonaro, para a gerência executiva de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras, é mais um caso esta semana que escancara o recente processo de aparelhamento das empresas públicas, prática que o novo governo atribui às administrações anteriores, mas que tem exercido com excelência. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, no primeiro tuíte do anúncio, Bolsonaro havia escrito o seguinte: “a era do indicado sem capacitação técnica acabou, mesmo que muitos não gostem”, mas apagou a frase em seguida.
Pelo menos outros dois casos semelhantes ocorreram no Banco do Brasil. O primeiro deles é o de Antônio Hamilton Rossel Mourão, filho do vice-presidente, general Hamilton Mourão, e funcionário de carreira do Banco do Brasil. Ele foi promovido de assessor empresarial da Diretoria de Agronegócio para assessor especial do presidente, saltando, assim, três níveis hierárquicos de uma vez e triplicando seu salário. Outro caso que causou estranheza foi o de Carlos Motta dos Santos, que saltou de superintendente do BB na Bahia para a vice-presidência de Distribuição de Varejo do banco, de acordo com o jornal O Estado de S.Paulo.
“O governo Bolsonaro veio com um discurso de ética e moral, acusando os governos anteriores de aparelharem empresas públicas. No entanto, o filho do Mourão teve no Banco do Brasil oito promoções ao longo das administrações passadas, todas por processos seletivos e por meio do TAO (talento e oportunidades), que o movimento sindical ajudou a construir e sempre defendeu. E o general Mourão, na maior desfaçatez, além de não reconhecer as promoções do filho, ainda disse que houve ‘mimimi’ de sindicalistas no episódio de uma nomeação que pulou três degraus”, diz João Fukunaga, diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo e funcionário do BB.
Segundo o dirigente, Antônio Mourão não estava inscrito em processo seletivo recentemente, o que coloca em xeque o fato dele virar assessor especial. Além disso, ainda de acordo com Fukunaga, foram burladas uma série de regras na nomeação. “Em relação ao Carlos Motta dos Santos houve a mesma situação, a subida de vários níveis hierárquicos numa canetada só! Eles estão aparelhando o Banco do Brasil e outras empresas públicas, como é o caso recente da Petrobras, com parentes e amigos, de forma escancarada”, acrescenta.
As nomeações de pessoas próximas ao novo governo refletem também num aumento expressivo dos vencimentos dos funcionários de carreira das estatais. O filho de Mourão passará de um salário de R$ 12 mil a R$ 14 mil para um de R$ 36,2 mil, além de também integrar o Programa de Alternativas para Executivos em Transição (PAET), que garante bônus na saída do cargo para quem ocupou função no banco por dois anos, um valor que pode chegar a R$ 2 milhões. No caso do amigo de Bolsonaro na Petrobras, segundo o jornal Folha de S.Paulo, “gerências executivas, cargo para o qual Nagem foi indicado, formam o segundo escalão na hierarquia da Petrobras, abaixo apenas da diretoria, com salário em torno de R$ 50 mil – a estatal não divulga os vencimentos de seus empregados”.
“O movimento sindical sempre lutou por transparência nos processos seletivos, em qualquer governo. Realizamos mesas de negociação e temáticas com o banco a respeito dos talentos e oportunidades, igualdade de gênero etc. Os dois cargos supracitados [Antônio Hamilton Mourão e Carlos Motta dos Santos] são de indicação política, mas contrariam tudo aquilo que o Banco do Brasil, ao longo destes anos, vem criando de mecanismo para evitar esse tipo de coisa, buscando se profissionalizar enquanto gestão”, salienta João Fukunaga. “O movimento sindical sempre pautou as gestões do BB para o reconhecimento e aplicação de processos seletivos justos, transparentes e objetivos, da mesma forma como ocorre na Previ. Nesta última, por meio das diretorias eleitas, conseguimos criar processos que são exemplos para os funcionários do BB”, complementa.