Pular para o conteúdo principal
Chapéu
Artigo

Neiva Ribeiro: Globo de Ouro para os que defendem a democracia

Imagem Destaque
Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato, veste uma blusa verde

O Globo de Ouro conquistado pela atriz Fernanda Torres representa uma vitória de todos nós. Ou alguns de nós.

O filme Ainda Estou Aqui conta a história de Eunice Paiva, que lutou durante sua vida pela memória e a verdade de seu marido, o deputado cassado e morto pela ditadura militar. Rubens Paiva, deputado federal pelo PTB, foi cassado logo após o golpe de 1964 e acabou desaparecido (e posteriormente reconhecido como morto) enquanto estava sob custódia dos órgãos de repressão em 1971. Desde então, Eunice passou a vida lutando pela busca de respostas sobre o destino de Rubens e pela memória dos que foram perseguidos pelo regime e se tornou símbolo das campanhas pela abertura de arquivos sobre vítimas do regime militar.

A luta pela abertura dos arquivos oficiais é fundamental para que a sociedade tenha conhecimento pleno dessas violações e para que se possa, de fato, honrar a memória das vítimas. E saber o que de fato aconteceu com os que foram mortos, perseguidos e os responsáveis por esses crimes.

Importante lembrar que a Lei da Anistia no Brasil (Lei nº 6.683/1979) foi promulgada durante o governo do general João Baptista Figueiredo, no contexto de abertura “lenta, gradual e segura” que marcou os últimos anos da ditadura militar (1964–1985). A lei resultou de pressões internas e externas para a redemocratização do país e teve como objetivo principal conceder anistia a crimes de natureza política cometidos entre 1961 e 1979.

Anistia para quem? Para os agentes de Estado que torturaram e mataram? O filme faz um importante alerta para os que (ainda) defendem a ditadura. E, infelizmente, são muitos no Brasil.

Nos últimos anos vivemos uma disputa ideológica desigual preocupante após grande investimento da extrema direita em narrativas mentirosas, em uma estrutura financiada com um objetivo político que ameaça o estado democrático de direito. São milícias organizadas, patrocinadas por empresas e grandes grupos corporativos.

O crescimento de redes de desinformação e a disseminação de narrativas falsas representam um desafio real para as democracias em diversas partes do mundo. No contexto brasileiro, o investimento na construção de discursos extremados e na circulação de “fake news” faz parte de um fenômeno global que ganhou força com a hiperconexão das redes sociais e a facilidade de se produzir e compartilhar conteúdo sem checagem de fatos.

A preocupação principal está no potencial de tais estratégias para influenciar significativamente o debate público e, em casos extremos, fragilizar a confiança nas instituições, chegando a ameaçar a própria estabilidade democrática. As consequências podem incluir desde polarização social até atos antidemocráticos mais graves.

Por tudo isso, é uma vitória do nosso cinema, da nossa cultura, dos nossos artistas, afinal além da talentosíssima Fernanda Torres, que faz justiça a sua mãe, que há 26 anos concorreu ao mesmo prêmio, e trouxe a estatueta de melhor filme para Central do Brasil, destaca-se o talentosíssimo Selton Mello, o diretor Walter Salles e o autor do livro que deu origem ao filme, Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado morto pela ditadura.

O Brasil comemora ser premiado e faz de sua alegria um alerta de resistência para nunca mais permitir que esse período nefasto retorne ao país.

seja socio