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Alckmin quer adiar rodízio que já acontece na prática

Linha fina
Especialista critica medida, ressalta que racionamento já ocorre entre população mais pobre e cobra prioridade da água para consumo humano em detrimento das atividades econômicas, como determina a lei
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São Paulo – O nível dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste subiu um pouco nos primeiros dias de fevereiro. No início do mês, o registrado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico era 16,8% da capacidade máxima de armazenamento. Na segunda-feira 9, o nível chegou a 17,4%.

A ligeira elevação no volume de chuvas levou o governador Geraldo Alckmin (PSDB) a adiar decisão sobre a implantação de um rodízio de água na Grande São Paulo, segundo noticiou a Folha de S.Paulo na quarta-feira 11. A determinação é criticada pelo especialista em recursos hídricos Renato Tagnin.

“A gente vive o instantâneo, mas o que temos de fazer é a gestão da demanda. Ficou claro até para quem não quer enxergar, inclusive, que o sistema não fecha a conta. Não tem a menor condição de subsistência e essa constatação deve levar a uma revisão da partilha do consumo de água. O rodízio de abastecimento já ocorre. Não adianta dizer que não, faltando com a verdade com a população mais pobre”, afirma.

Para o arquiteto, urbanista e especialista em planejamento ambiental e gestão de recursos hídricos, deve-se priorizar o consumo humano em detrimento das atividades econômicas, como inclusive está previsto na Lei Nacional de Recursos Hídricos. A ONU estima que cerca de 72% da água no Brasil seja utilizada para irrigar as plantações do agronegócio. O consumo humano é responsável por apenas 8% do total da água disponível. A indústria gasta cerca de 20%.

“É necessário fazer uma discussão social e política sobre o que fazer. Devemos seguir produzindo uma agricultura de baixo valor agregado baseada em commodities para exportação e alta ocupação do solo e consumo de água? Temos que aproveitar essa crise e discutir junto com a sociedade um processo de revisão amplo de restrição do consumo exagerado e socialmente injusto, que passa pela revisão da gestão da oferta. Nós não podemos estar ajoelhados à religião do fundamentalismo de mercado, que é tão ruim quanto o [grupo terrorista] Estado Islâmico.”

A proteção ambiental é outro fator que deve ser considerada com absoluta prioridade, segundo Renato. “É a preservação dos recursos biológicos que permite a continuidade da vida. A proteção ambiental vista como antagônica ao desenvolvimento econômico é completamente equivocada. Água não se produz em uma indústria. Temos de passar a reconhecer a realidade. A economia deve se reduzir a sua expressão, que é um subconjunto da sociedade.”


Rodolfo Wrolli – 11/2/2015
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