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Bancos apostam em desemprego e especulação

Linha fina
Balanços dos cinco maiores mostram que setor continua altamente rentável apesar do baixo crescimento da economia, mas demitem e expandem pouco o crédito; Caixa foi a única a criar postos de trabalho
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São Paulo – Os cinco maiores bancos no Brasil – BB, Caixa, Itaú, Bradesco e Santander – já divulgaram seus balanços referentes ao ano de 2014. Os números mostram que o setor continua ganhando alto, mesmo com a economia em baixa. Juntos, tiveram lucro líquido de R$ 60 bilhões no ano passado, o que representa crescimento de 18,4% em relação a 2013, enquanto que o PIB do país cresceu 0,2% até o terceiro trimestre do ano passado. Mas a análise de seus resultados indica diferenças no comportamento da Caixa, que expandiu sua carteira de crédito em proporção muito maior que os demais e criou empregos quando todos os outros cortaram postos de trabalho.

A carteira de crédito da Caixa cresceu 22,4% em 12 meses e a instituição respondeu sozinha por 36,1% do crescimento total do mercado de crédito no país. Apesar de também ser público, o Banco do Brasil apresenta comportamento similar ao dos privados. Sua carteira de crédito cresceu 9,8%, um pouco acima da do Itaú, que expandiu 8,7%%. A carteira de crédito do Santander aumentou 7,9% e o Bradesco teve a menor evolução: apenas 6,5%.

A Caixa também foi a única dentre os cinco que criou postos de trabalho. Em 2014, a instituição expandiu seu quadro de pessoal com a criação de 3.286 vagas, enquanto todos os demais extinguiram: no BB foram cortados 588 postos, no Santander 312, Itaú extinguiu 2.611 e o Bradesco foi o campeão, acabando com 4.969 empregos.

Diante dos dados e da ameaça de abertura de capital da Caixa, veiculada pela imprensa no final de 2014, a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, destaca o quanto é importante que o banco se mantenha 100% público. “As operações de crédito da Caixa movimentaram R$ 605 bilhões, um crescimento de 22% em um ano delicado para nossa economia. Isso ressalta o quanto ela é fundamental para o Brasil”, diz a dirigente.

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Os números do Banco do Brasil – instituição pública mas de capital aberto – mostram como age cada vez mais como uma empresa de mercado. O diretor do Sindicato e funcionário do BB João Fukunaga ressalta que isso fica claro com a mudança da missão do banco. “Antes o texto era ‘ser um banco competitivo e rentável, promovendo o desenvolvimento sustentável do Brasil e cumprindo sua função pública’. Recentemente, a missão mudou para ‘banco de mercado com espírito público’. Ou seja, o BB está assumindo essa postura que resulta em corte de postos de trabalho, sobrecarga, aumento da pressão por metas e adoecimento dos funcionários.”

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Devendo à sociedade – Para a presidenta do Sindicato, a análise dos números das instituições financeiras revelam, portanto, que elas continuam acomodadas em um cenário de Selic alta e devendo à sociedade. “Os bancos continuam deixando de cumprir sua função social que é promover o crédito, apostando no capital produtivo e, assim, no crescimento do país. Ao invés disso, continuam querendo o lucro fácil que vem da especulação financeira pois, com o aumento da Selic, ganham em cima dos títulos da dívida pública, dos quais são os principais detentores.”

E a julgar pelos discursos dos executivos bancários, tudo indica que essa aposta conservadora vai se manter em 2015, com corte de gastos administrativos – que se traduzem principalmente em corte de empregos –, a preocupação em preservar a rentabilidade em detrimento do crescimento do crédito e em aumentar o lucro dos acionistas.

“O que o movimento sindical reivindica é que os bancos deem uma contrapartida desses ganhos à sociedade, por meio de crédito mais acessível para movimentar a economia, criação de empregos e atendimento de qualidade à população. Não dá para só eles ganharem”, acrescenta Juvandia.

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Redação - 13/2/2015

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