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Crise da água: “Uma conta que não vai fechar”

Linha fina
Governo recorre à União e anuncia medidas contra desabastecimento; especialista alerta para escassez de água limpa causada por falta de saneamento básico e aumento da população
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São Paulo - O governo do estado planeja retirar mais água da Represa Billings, na zona sul de São Paulo, para reforçar os sistemas Guarapiranga e Alto Tietê. A medida integra pacote de ações para amenizar a falta d’água que inclui ainda obras para transposição do rio Paraíba do Sul, esta anunciada em conjunto com o governo federal.

A Billings tem capacidade para armazenar 1,2 trilhões de litros. Entretanto, recebe com frequência águas provenientes do ultrapoluído rio Pinheiros. Para abastecer a população, a captação é feita em dois braços menos contaminados do reservatório: do Rio Grande e do Taquacetuba.

Segundo o especialista em recursos hídricos RenatoTagnin, a Billings tem uma capacidade limitada por já ser aproveitada para abastecimento de cidades da região do ABC, Baixada Santista e para geração de energia para o polo industrial de Cubatão.  “O que acontece é que não tem muita folga, o que é preocupante, porque terão de utilizar água do rio Pinheiros para abastecimento.”

Ele conta que no ano 2000 foi realizada reunião entre governo do estado, prefeitos das cidades da região metropolitana abastecidas pela Billings e especialistas, para debater formas de recuperação ambiental do manancial.

“Mas nada do que discutimos foi implantado. Pelo contrário. Aumentou a ocupação da bacia, foi feito o Rodoanel, que desmatou um trecho enorme, foram adensadas partes que não estavam ocupadas, se tentou fazer algum saneamento, porém foi inexpressivo, além disso, se continuou bombeado água suja do Pinheiros.”

Rio Paraíba do Sul – Outra mediada anunciada pelo governo do estado, com auxílio do governo federal, é a transposição do Paraíba do Sul. O curso é responsável pelo abastecimento de grande parte do estado do Rio de Janeiro, inclusive sua capital. A medida também é vista com ceticismo por Tagnin.

“Se acostumaram com a história de pegar água limpa e devolver suja, porque no Brasil quase não se trata esgoto. Rio faz isso, São Paulo faz isso. Aumentou a população, aumentou a poluição, a água limpa ficou mais rara e tem mais gente pra usar. É uma conta que não vai fechar.”

Em uma declaração incomum pela sinceridade, em áudio que vazou para a imprensa, o diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato Yoshimoto, mostra que concorda com Tagnin: “Essa é uma agonia, uma preocupação (...) Saiam de São Paulo porque aqui não tem água, não vai ter água para banho, para limpeza da casa, quem puder compra garrafa, água mineral. Quem não puder, vai tomar banho na casa da mãe lá em Santos, Ubatuba, Águas de São Pedro, sei lá, aqui não vai ter”.


Rodolfo Wrolli – 3/2/2015

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