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Sabesp causa confusão com “informações”

Linha fina
Companhia divulga que Cantareira atingiu 11% do volume total, mas ainda são necessários mais 182 bilhões de litros apenas para reservatórios saírem do vermelho; chuvas levam governador a adiar anúncio de rodízio que na prática já existe
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São Paulo – Durante a semana foi anunciado com alarde pelo governo estadual e pela imprensa que as recentes e abundantes chuvas levaram o sistema Cantareira a sair do segundo volume morto e atingir a cota zero do primeiro volume morto.  A Sabesp divulgou no seu boletim da quinta-feira 26 que os reservatórios atingiram 11,1% do seu volume total.

Entretanto, a contagem divulgada pela Sabesp confunde o entendimento da realidade nos reservatórios. Essa é a opinião do arquiteto José Bueno, do Instituto Rios e Ruas, que faz o mapeamento dos rios localizados dentro da cidade de São Paulo.

“O índice zero que a Sabesp está considerando é o reservatório vazio, com as reservas técnicas [volumes mortos] consumidas. Quando a Sabesp afirma que está em 11%, na verdade é uma leitura errada, uma desinformação, porque não deixa claro que estamos abaixo da linha que define o 0, que seria o 0 do volume útil”, explica. “Pela conta da Sabesp, a represa cheia vai ultrapassar 120% e isso não existe”, acrescenta.

No cálculo da Sabesp pouco divulgado pela companhia e pela mídia, ainda são necessários mais 182 bilhões de litros apenas para encher essa reserva técnica e atingir a “cota zero” do chamado volume útil.

E o rodízio? – Com as chuvas de fevereiro e o avanço dos níveis das represas, o governador Geraldo Alckmin decidiu adiar medidas para enfrentamento da crise de abastecimento. A principal se referia ao chamado gatilho de um eventual rodízio de água.

Até o começo do mês, a decisão do governo paulista era tornar público nesta semana um percentual mínimo que o sistema Cantareira deveria atingir até o final de março para evitar a adoção da medida. Se atingisse este gatilho, o rodízio seria evitado. Caso contrário, o racionamento teria início imediatamente em toda a região metropolitana da capital paulista.

Para justificar sua decisão, Alckmin disse que nada demonstra que haverá necessidade do rodízio e que se as obras forem entregues no prazo, não dependeremos de chuva.

“É uma falácia, já existe o rodízio”, afirma Mauro Scarpinatti, da ONG Espaço e da Rede de Olho nos Mananciais. “Só não é admitido pelo governo, por questões politicas, que esconde a realidade usando meros neologismos como ‘controle de vasão’, que é o mesmo que racionamento. Tanto é verdade que diversos bairros ficam sem água em certos horários. Há um racionamento velado, mas há racionamento e quem está sendo prejudicada é a população da periferia”, completa.

Água suja – Uma das principais obra anunciadas pelo governo é a interligação do Rio Pequeno ao Sistema Rio Grande, ambos braços da Billings. Isso permitirá a entrada de 2,2 metros cúbicos de água por segundo (m³/s), atendendo áreas que dependiam do Cantareira.

“É um reservatório com volume muito grande de água, mas absolutamente poluída”, frisa Scarpinatti. “Ninguém do governo ou da Sabesp explica que tipo de tratamento vai ser feito, o custo disso, não apresentaram nenhum estudo de viabilidade técnica, impacto ambiental, é uma absoluta falta de informação”, afirma.

“Paralelamente a isso, o governador há algumas semanas publicou no Diário Oficial decreto para implantação do comitê de crise, no qual foram citadas organizações da sociedade civil que participarão das discussões apenas quando convidadas, ou seja, o governador deixou claro que não será um processo transparente”, completa Scarpinatti.


Rodolfo Wrolli – 26/2/2015

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