O novo presidente do Banco Central, Roberto Oliveira Campos Neto, cujo termo de posse foi assinado na quinta-feira 28, pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), é francamente a favor da concentração bancária no país e deverá ser mais um representante dos interesses dos bancos à frente da instituição.
A reportagem é da Rede Brasil Atual.
Em sabatina no Senado na terça-feira 26, após a qual Campos Neto teve sua indicação para o BC aprovada na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e pelo plenário da casa por 55 votos favoráveis, 6 contrários e uma abstenção, ele afirmou que a concentração bancária no Brasil é equivalente à de outros países.
“Quando a gente olha a concentração bancária no Brasil, a concentração em si, ela é muito parecida com a concentração em vários outros países, como Alemanha, Itália, Inglaterra, e tem vários índices que medem isso como o IHH, e tem um índice que chama RC. Vários trabalhos foram feitos nesse sentido, e a concentração bancária no Brasil é equivalente a vários outros países”, defendeu.
Ele chegou a dizer que a concentração bancária elevada representa mais “segurança”. “Na crise financeira de 2008 e 2009, o que grande parte dos países fez foi aceitar uma troca de mais concentração por mais segurança. Quando olhamos os índices de concentração bancária em todos os países, com a experiência dos Estados Unidos, do Lehman Brothers, o que aconteceu foi que os governos de certa forma até estimularam mais concentração porque achavam que o sistema mais concentrado era mais sólido”.
Durante a sua exposição, o novo presidente do BC, que sucede a gestão de Ilan Goldfajn, outro representante do setor bancário, defendeu que é importante separar “concentração” de “competição”. Sobre esse segundo termo, que Campos Neto reconhece também ser um problema, ele adota o mesmo raciocínio anterior, de naturalizar a questão, para em seguida admitir, contraditoriamente, que os altos níveis de spread bancário resultam da ausência de competição.
“Em termos de competição bancária o Brasil, apesar de ser concentrado, acho que nós reconhecemos isso, dá para dizer que existe competição. No entanto, essa competição não gerou aí um spread adequado, já que hoje grande parte do questionamento dos senhores é que se tem competição bancária, se tem um incentivo do governo, se o Banco Central está atento, por que a taxa de juros de 6,5% não se reflete para o cliente na ponta, em uma taxa mais baixa?”, admitiu.
Negar a importância da concentração bancária nas travas que impedem o desenvolvimento da economia e da ausência de competição são atitudes já conhecidas no recorrente discurso de defesa dos interesses dos bancos. O economista Ladislau Dowbor, crítico do setor financeiro e para quem a financeirização é um processo que prejudica o consumidor, escreveu sobre o ponto de vista como o de Campos Neto em artigo publicado na Carta Maior no ano passado.
“Tem sido recorrente o uso, por parte dos arautos do sistema financeiro, da tese que nega a relevância da concentração, a pretexto de que ela não significa, necessariamente, ausência de concorrência. Ora, isto é verdadeiro para países que a despeito da alta concentração, ainda maiores ou iguais a do Brasil, não praticam spreads elevados, nem possuem alta rentabilidade, como é o caso de vários desenvolvidos do G-20. Mas, não vale para o Brasil, onde spreads e rentabilidade são elevados. Aqui, a concentração se traduz em diminuição da concorrência via preços, ou seja, juros. Soa estranha esta afirmação ao considerar-se a expressiva presença de bancos públicos – Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil – dentre os cinco maiores. Na prática, isto indica a adesão destes últimos ao comportamento colusivo do cartel bancário na fixação de spreads e juros", afirmou Dowbor.