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Fala preconceituosa de Bolsonaro sobre Aids gera revolta na sociedade

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Especialistas respondem a declarações de Bolsonaro e afirmam que distribuição gratuita de medicamentos impediu o sofrimento de milhões de pessoas
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Reprodução Youtube

Após Bolsonaro dizer que pessoas soropositivas são “uma despesa para todos no Brasil”, especialistas em saúde e a sociedade reagiram com fortes críticas a fala discriminatória e preconceituosa contra pessoas que vivem com HIV/Aids.

A cientista política Rosemary Segurado disse em entrevista Rede Brasil Atual que a fala do presidente reproduz um preconceito de 30 anos atrás. “São manifestações que não condizem com o cargo. A Presidência da República é um cargo de acolhimento da população, não de discriminação de setores da população. Nós sabemos que por aí vem embutido um preconceito que já tinha sido superado. Quando o HIV/Aids começou a ganhar os noticiários, era associado a um câncer gay, que só as populações homossexuais contraíam o vírus. Isso fazia com que as pessoas, no geral, não se protegessem contra as formas de contaminação, sobretudo pelo ato sexual”, avaliou Rosemary.

Ela ainda lembra que no ano passado, o governo Bolsonaro rebaixou o Departamento de IST, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde para parte de um setor mais amplo chamado Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. A medida revoltou ativistas, pessoas que vivem com a doença, que consideraram a mudança muito grave, por tirar do departamento a autonomia para a execução de políticas públicas. “... É lamentável tanto do ponto de vista da política pública, quanto do retrocesso em relação a temáticas que poderíamos estar avançando”, afirmou Rosemary.

O oncologista, pesquisador e escritor Drauzio Varella defende a manutenção dos programas públicos de prevenção às Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e de assistência médica aos soropositivos. Em vídeo postado em seu canal do YouTube, de pouco mais de quatro minutos, Drauzio Varella informa que tem sido questionado por jornalistas sobre o assunto.

 

 

Ele conta que foi “testemunha ocular dessa história”, desde que os primeiros casos de aids foram detectados no país, nos anos 1980. “Em 1995 que começaram a surgir os primeiros medicamentos”, lembra, contando em seguida que o chamado “coquetel” passou a ser distribuído gratuitamente pelo SUS a pessoas contaminadas. “Muita gente foi contra… mas nós embarcamos nessa política.”

No ano passado, o governo Bolsonaro rebaixou o Departamento de IST, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde para parte de um setor mais amplo chamado Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. A medida revoltou ativistas, pessoas que vivem com a doença, que consideraram a mudança muito grave, por tirar do departamento a autonomia para a execução de políticas públicas.

Sem citar em nenhum momento o nome do presidente da República nem fazer referências ao governo, Drauzio Varella afirma que a estratégia brasileira foi a responsável para que hoje o país tenha cerca de 800 mil soropositivos com sofrimento reduzido – deles, dos familiares e amigos – e razoável controle de contaminação. “Esses programas têm de ser mantidos. Se não forem, a situação escapa do controle completamente”, alerta. “O que nós temos de fazer é continuar a distribuição gratuita de medicamentos e a distribuição gratuita de preservativos.”

O Sindicato dos Bancários também criticou a fala de Bolsonaro. “O presidente chancela tacitamente a discriminação e é uma grave violação dos direitos humanos das pessoas que vivem com HIV - Aids,  isso em nada contribui no combate e nas campanhas de conscientização,  reforça o preconceito, despreza a luta da sociedade civil e nos remete a um retrocesso sombrio. Cabe ressaltar que o Brasil é referência no combate a Aids com distribuição de preservativos e retrovirais pelo SUS, com uma linguagem clara de conscientização e acolhedora”, lembra o dirigente sindical e Coordenador do Coletivo LGBT do Sindicato, Anderson Pirota.

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