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Chapéu
São Paulo

70 mil tomam as ruas na prévia da greve geral

Linha fina
Manifestantes protestam contra a lei da terceirização, sancionada por Temer no mesmo dia, e as reformas da Previdência e trabalhista, indicando a força da paralisação nacional marcada para o dia 28 de abril
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Foto: Anju

São Paulo – Mais uma vez dezenas de milhares de manifestantes tomaram as ruas de São Paulo em protesto contra as medidas promovidas pelo governo Temer e pelo Congresso Nacional que atacam direitos sociais e trabalhistas. Segundo os organizadores, 70 mil pessoas se levantaram contra a lei da terceirização, sancionada no mesmo dia pelo presidente, e as reformas trabalhista e da Previdência, em tramitação no Congresso Nacional.

A manifestação se concentrou em frente ao Masp na tarde da sexta-feira 31 e se dirigiu à Praça da República, no centro de São Paulo, cruzando as ruas da Consolação, Xavier de Toledo, e avenidas São João e Ipiranga.

O coordenador do MTST, Guilherme Boulos, destacou a pesquisa encomendada pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e divulgada nesta sexta-feira revelando que o governo é aprovado por apenas 10% da população, reprovado por 55% dos brasileiros e na qual 79% disseram não confiar em Temer.

“O jogo começou a virar. A ficha da maioria do povo está caindo em relação ao que representam esses ataques e o que representa esse governo que cada vez mais perde as condições de governar o país. O último presidente que teve 10% foi o Figueiredo. General, milico, que dizia que gostava mais de cavalo do que de gente. Se tivesse um pingo de vergonha na cara, o Temer pedia para sair. O povo brasileiro não quer Michel Temer, não quer esse Congresso que em sua maioria é composto de corruptos e contrários aos interesses populares.”

A presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, ressaltou as assembleias realizadas com bancários de mais de 20 centros administrativos para decidir se a categoria deve paralisar as atividades no dia 28 d abril. “A classe bancária não concorda ser representada por quem entrega direito, por quem não tem compromisso com a luta, com quem não está na rua defendendo a aposentadoria, a carteira de trabalho, o emprego decente, o salário decente. Hoje é um dia de luta, é um marco na nossa história. É uma preparação para o que vai acontecer no dia 28. E os bancários disseram um grande sim à greve geral.”

“O Temer quer instituir o bico no Brasil”, afirmou Vagner Freitas, presidente da CUT, referindo-se à reforma trabalhista que vai sobrepor a negociação entre patrão e empregado às leis trabalhistas, e à lei da terceirização, sancionada na noite desta sexta-feira.  “Nós fazemos um movimento para impedir esses retrocessos. O nosso movimento é também para resgatar a democracia, porque o Brasil não pode ser governado por um golpista.”

A coordenadora da União Brasileira de Mulheres (UBM), Maria das Neves, reforçou que a reforma da Previdência será particularmente cruel com elas, já que a maioria enfrenta jornadas triplas, tendo de cuidar das atividades domésticas e dos filhos, além de enfrentar a jornada de trabalho.

A manifestante Sílvia Cristina ilustra a calamidade que representa a reforma da Previdência. Além de mulher, ela é professora secundarista e por isso teria o direito de se aposentar com regras especiais. “Eu tenho dois cargos, tenho meus afazeres domésticos, já estou há 20 anos na educação e você imagina qual a minha projeção para aposentar? Tenho 46 anos. [Pelas regras atuais] Seria mais uns 6, 7 anos. Não consigo me ver com 70, 75 anos lecionando na sala de aula, até pelas condições. É uma reforma desumana para toda a classe trabalhadora. É o fim da aposentadoria.”

O projeto de reforma da Previdência de Temer prevê regras iguais para todos: homens e mulheres, trabalhadores do campo e da cidade, professores e demais trabalhadores que atualmente contam com tempo menor de contribuição por enfrentarem jornadas extenuantes, insalubres ou degradantes.

A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, enfatizou a primeira grande derrota do governo Temer: a rejeição, na Câmara dos Deputados, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permitiria às universidades públicas a possibilidade de cobrar mensalidade de cursos de extensão e pós-graduação lato sensu.

“A população que hoje pode sonhar com um futuro diferente não aceitará esses retrocessos. Vamos para as ruas derrotar cada um deles, com muita luta e unidade. Em 2016, os estudantes ocuparam escolas e universidades para defender o ensino público e agora se unem à classe trabalhadora para defender os direitos trabalhistas.”

“Eu discordo de tudo que vem acontecendo. Nem sei se existe mais Constituição no Brasil, cada dia é um golpe diferente”, desabafou o estudante de Direito Pedro Gomes. “É um governo ilegítimo que está tirando todos os nossos direitos, e estou aqui lutando para retomar a democracia, que infelizmente acabou. Temos que ir para a rua para restituir a democracia.”

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