São Paulo – Somando mais da metade dos brasileiros, a população negra ocupa espaço subalterno no mercado formal de trabalho do país. O legado dos 350 anos da escravidão, a libertação incompleta e a precarização das condições de trabalho a que negros e negras são submetidos compõem o tema de curso de extensão promovido pela Secretaria de Combate ao Racismo da CUT-SP, em parceria com a Universidade Federal do ABC (UFABC), que realizou a sua aula inaugural nesta terça-feira 13, em São Paulo.
O curso de extensão sobre as desigualdades raciais no mundo do trabalho será ministrado pelo professor Ramatis Jacinto, autor de uma série de obras sobre o tema, entre elas o livro Transição e Exclusão – O Negro no Mercado de Trabalho em São Paulo Pós-Abolição – 1912/1920 (Nefertiti Editora, 226 págs.).
O primeiro tema abordado foi o legado científico e cultural dos africanos para a economia brasileira. "Se pegar períodos como, por exemplo, (os ciclos econômicos) do açúcar, depois a mineração, o café, a borracha, e mesmo a industrialização, a presença de trabalhadores negros foi fundamental. Nos 350 anos de escravidão quem construiu toda a riqueza do Brasil foram os trabalhadores negros", afirmou o professor à repórter Michelle Gomes, para o Seu Jornal, da TVT.
"A gente vive num país que diz que não se tem racismo. Temos 54% da população, mas não somos vistos nos meios de comunicação, no shopping você não vê os negros nas lojas. Quer dizer, a maioria dessa população é invisível", destacou a secretária de Combate ao Racismo da CUT-SP, Rosana Aparecida da Silva.
Segundo pesquisa do Instituto Ethos, os negros ocupam pouco mais de 6% dos cargos de gerência nas empresas, e menos de 5% no quadro executivo. Em alguns setores, a exclusão é ainda maior, como o bancário, por exemplo, em que os negros em cargos de chefia não chegam a 1%.