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Chapéu
Fórum Social Mundial

Na era do capital improdutivo, bancos descumprem papel social

Linha fina
Instituições financeiras ignoram função de desenvolvimento econômico e social, e servem ao capital, retirando recursos do Estado e da sociedade
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Foto: Seeb-SP

Salvador – Se há uma só conclusão possível para a conferência Era do Capital Improdutivo, ministrada pelo economista Ladislau Dowbor (foto abaixo), é que os bancos não cumprem nenhum de seus papeis esperados para o desenvolvimento do país. A mesa abriu o segundo dia de atividades na Tenda da Contraf/CUT no Fórum Social Mundial, realizado na capital baiana até o sábado 17.

“O sistema de crédito se deformou no Brasil, e ao invés de servir a economia, dela se serve. Hoje temos 61 milhões de brasileiros adultos, mais da metade da população economicamente ativa com restrições de crédito, submetidos a esse sistema de agiotagem. Sem poder consumir, essas pessoas não compram e as empresas não têm para quem vender. A inflação cai porque se quebrou a economia”, explica o economista.

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A solução, apontada pelo palestrante, não é mirabolante e funciona em outros lugares do mundo: é preciso gerar renda para a base da população, criando assim demanda no mercado, incrementando a atividade empresarial e o consumo, o que produz receitas para o Estado e permite contas acertadas em relação ao orçamento.

Onde funciona – Dowbor cita exemplos de países que ‘funcionam’ aplicando o dinheiro de forma que ele seja produtivo, como Alemanha e China. “Os alemães não aplicam seu dinheiro na poupança, mas em caixas municipais, que investem os recursos em melhorias na própria cidade, gerando emprego e renda locais.”

Ele relembra casos onde os investimentos no capital produtivo ajudaram a retomar o crescimento econômico, como no ‘New Deal’ americano, no milagre do crescimento da Coreia do Sul e na reconstrução da Europa pós-guerra.

“É uma receita simples, de dona de casa. Você amplia a capacidade de renda da população, aumentando a demanda, o que gera crescimento da atividade empresarial e emprego. Isso faz com que você crie riqueza e receita para o Estado, através de impostos sobre consumo e isso cobre o que o Estado investiu na base da população”, explica Dowbor.

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Papel social – Para a vice-presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira, o lucro recorde dos bancos em 2017 se deu por intermédio da drenagem de recursos da sociedade e dos fundos nacionais. “E isso demostra que nosso sistema financeiro não é voltado para o povo, mas para os rentistas”, critica a ex-presidenta do Sindicato.

“Os bancos são concessões públicas, que existem para financiar o desenvolvimento econômico e social com inclusão, mas no Brasil fazem exatamente o contrário. Além disso, retiram recursos do Estado e da sociedade para concentrar renda para quem já é muito rico”, ressalta.

Juvandia diz que é preciso pensar em uma regulação do sistema financeiro de forma que ele sirva às pessoas e não ao dinheiro. “Precisamos acabar com essas taxas de juros, as maiores do mundo, precisamos que os bancos cumpram seu papel de indutor de crescimento econômico, que gera emprego e renda, e ajuda na distribuição, e não na concentração de renda.”

O banco que queremos – A economista do Dieese, Vivian Machado, reforçou que os bancos pouco têm cumprido seu papel de desenvolvimento do país, apenas ‘sugando’ e não devolvendo nada para a sociedade.

“Os quatro maiores bancos do Brasil lucraram quase R$ 65 bilhões em 2017, têm uma das maiores rentabilidades do mundo, um dos maiores spreads bancários, cobram juros altos, muitas tarifas bancárias, e dão pouco retorno para a sociedade, já que a oferta de crédito, essencial para o desenvolvimento, para a economia e para a sociedade, tem sido cada vez menor”, explica Vivian.

E como se não bastasse, demitem cada vez mais bancários, acabando com a renda de milhares de trabalhadores, observou a economista. Somente em 2017, os bancos fecharam 17.905 postos de trabalho.

Para Vivian, é importante pensar o banco que queremos para o desenvolvimento da economia e da população. Ela cita como exemplo a mudança realizada pelos bancos públicos em 2003, quando ganharam um novo papel no sistema financeiro nacional.

“Os bancos públicos aumentaram a oferta de financiamento e crédito, gerando o fomento do desenvolvimento econômico por meio do financiamento do investimento. Eles tiveram um papel preponderante também nas crises econômicas que atingiram outros países de forma mais dura, mas que não tiveram tanto impacto no Brasil”, explica.

“O debate sobre o sistema financeiro que queremos para o Brasil, para que e para quem servem os bancos é uma das principais discussões que queremos fazer com a sociedade. Não é possível que os bancos só lucrem, desempreguem e não deem contrapartida social da forma como deveriam”, acrescenta a secretária-geral do Sindicato, Neiva Ribeiro.

Homenagem – Durante o evento, uma homenagem à vereadora Marielle Franco, do Rio de Janeiro, assassinada na noite de quarta-feira 14, emocionou os presentes. Nos discursos, os participantes da mesa lembraram que vivemos tempos de ataque contra os que lutam pelos direitos dos mais pobres. E se solidarizaram com a família, os amigos de Marielle e entoaram a palavra de ordem: “Marielle Franco, presente!”.
 

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