São Paulo – De segunda a sexta, Wallace dos Santos segue a mesma rotina, acorda às 6h para estar no trabalho às 8h, e à tarde vai para a escola, onde cursa o último ano do ensino médio. Aos 19 anos, ele se prepara para o vestibular e pretende se graduar na área em que trabalha: tecnologia da informação. Seria a rotina de qualquer menino de sua idade, não fosse por uma grande diferença: mesmo tão jovem, Wallace é o principal responsável pelo sustento da família, formada pela mãe e mais cinco irmãos. “Minha mãe não trabalha porque tem problemas de saúde e o pai de um dos meus irmãos ajuda às vezes. Se não ocorresse isso (o emprego), nem sei o que seria”, diz.
Wallace tinha 14 anos quando começou a frequentar oficinas lúdicas que chegaram à vizinhança de sua casa – em uma favela da Penha, zona leste da capital – por iniciativa do Projeto Travessia, fundação que trabalha com crianças e adolescentes em situação de risco social. “Eram oficinas de arte, música, hip hop. Participei de todas”.
A partir das oficinas, veio a oportunidade de trabalhar como jovem aprendiz. Wallace passou pelo processo de seleção e ocupou uma vaga no Sindicato, conciliando sempre com os estudos. Depois de um ano, foi contratado como funcionário e há quase quatro anos integra a equipe de TI do Sindicato. “Nossa! Não sabia nada de computador quando entrei. Aprendi com meus amigos de lá”, ele diz, referindo-se aos companheiros de departamento, responsáveis por inseri-lo em um mundo completamente novo. Como funcionário do Sindicato, além do salário, Wallace recebe vales alimentação e refeição e tem plano de saúde.
De um jeito tímido, característico de sua personalidade, relata o que mudou na sua vida: “A gente está numa casa com quatro cômodos e mais estrutura e saímos da favela. Antes éramos sete em uma casa de um cômodo.” Ciente da responsabilidade que a vida lhe reservou, acrescenta: “Tem de estar focado, não pode pisar na bola.”
Travessia – Wallace é uma das 13.700 pessoas atendidas pela Fundação Projeto Travessia. Iniciativa do Sindicato, o projeto foi criado em dezembro de 1995 com a missão de defender e garantir os direitos da criança e do adolescente, previstos no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). “Começamos atendendo as crianças em situação de rua do centro de São Paulo, onde fica a sede do Sindicato. Mas como o objetivo é reintegrá-los à família, passamos a implementar projetos em seus bairros de origem e a atender também crianças que não estavam na rua, mas que viviam com suas famílias em situação de risco social, como o Wallace”, explica a coordenadora-geral do Travessia, Cleuza Rosa da Silva.
Colabore com doação – Em 17 anos, o Travessia implantou e geriu cerca de trinta projetos que promoveram direitos de crianças, adolescente, famílias e comunidades em situação de vulnerabilidade social. Esse trabalho é desenvolvido por meio de parcerias públicas e privadas, além de doações. A partir de junho, os bancários também poderão ajudar, doando parte ou a totalidade do imposto sindical ao projeto.
O imposto ou contribuição sindical é uma taxa compulsória criada por Getúlio Vargas em 1939. Corresponde a um dia de trabalho descontado no holerite de todos os funcionários no mês de março. Por ser contra o imposto, o Sindicato devolve os 60% do tributo que lhe cabem aos bancários com cadastro ativo e que solicitarem a devolução. A solicitação é feito por meio de um link no site, que fica disponível nas últimas semanas de junho. O reembolso em geral acontece na segunda quinzena de julho.
Andréa Ponte Souza - 23/4/2013
Linha fina
Após passar pelo projeto, Wallace conseguiu emprego, sustenta a família e se prepara para a faculdade
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