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Democracia é conquista dos trabalhadores

Linha fina
Durante palestra na Escola de Ciências do Trabalho do Dieese, economista Paul Singer abordou avanços do sindicalismo no mundo
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São Paulo – “A política de austeridade é uma das tolices mais trágicas da história da humanidade. É óbvio que se o governo corta gastos, vai arrecadar menos ainda. Infelizmente é o que os governos europeus estão fazendo”, criticou o secretário nacional de Economia Solidária, Paul Singer, durante palestra na Escola de Ciências do Trabalho do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), em São Paulo.

Singer lembrou o industrial inglês Robert Owen, considerado o pai do cooperativismo no século 19. Segundo ele, já na época Owen sugeria o aumento de gastos públicos para que o país saísse da crise pós-guerras napoleônicas. “Considero Owen o antecessor de Keynes, que também propôs aumentar os gastos para criar demandas”, disse. Economista inglês da primeira metade do século 20, John Keynes propôs maior intervenção do Estado para salvar as economias após a grande depressão da década de 1930.

Crise na Europa – Mas os governos europeus, lamentou Singer, insistem em apostar no corte de gastos públicos e, assim, gerar cada vez mais desemprego. “Mais da metade dos jovens entre 16 a 30 anos na Espanha estão desempregados. E ainda assim o governo espanhol continua cortando gastos e privatizando saúde e educação. Há hoje uma epidemia de suicídios econômicos na Espanha”, disse.

Ao abordar o tema Sindicalismo e Economia Solidária, na sexta-feira 26, o economista resgatou a Revolução Industrial do século 19 e o período anterior a ela. “Antes os trabalhadores eram donos de seus instrumentos de trabalho. É na Revolução Industrial que se dá a separação entre o trabalho e os meios de produção e que nascem, ao mesmo tempo, as duas classes: a operária e a capitalista, que dependem uma da outra.” Ele destacou o surgimento dos assalariados, trabalhadores que vendem seu tempo nas fábricas, e as péssimas condições de trabalho da época. “Surge uma classe trabalhadora que não tem nenhuma cidadania.” A partir daí, Singer abordou o surgimento dos sindicatos e do cooperativismo e as conquistas da classe trabalhadora, até os dias de hoje.

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“Num primeiro momento atuando na ilegalidade, aos poucos os sindicatos vão se fortalecendo, conquistam a legalidade e direitos históricos como a redução da jornada, saúde e educação públicas e, em 1945, a semana inglesa que adotamos até hoje, com cinco dias de trabalho e dois de descanso.”

Singer mais uma vez citou Robert Owen que, de forma pioneira e por conta própria, reduziu a jornada de seus empregados, proibiu o trabalho de crianças – que no século 18 eram mão de obra nas fábricas – e criou escolas para os filhos dos funcionários. “Aquilo que a classe trabalhadora levou cem anos para conquistar, Owen fez na fábrica dele e curiosamente teve mais lucros do que os capitalistas que estavam explorando os trabalhadores até a última gota de sangue. Ninguém entendia esse milagre, mas a explicação é simples: como os outros trabalhavam de sol a sol, trabalhavam devagar para se poupar. Na fábrica de Owen trabalhava-se intensamente.”

Ou seja, acrescentou, “a produtividade aumenta quando se reduz a jornada de trabalho. Isso significa que as 40 horas, que os trabalhadores brasileiros reivindicam, provavelmente não vão custar nada ao patronato, porque se compensa essas horas a menos com trabalho mais produtivo”, disse o economista, referindo-se a uma das principais bandeiras da CUT (Central Única dos Trabalhadores).

Sindicalismo e democracia – Ao abordar as conquistas da classe operária organizada por meio de sindicatos, Paul Singer afirmou que os avanços dos trabalhadores foram os avanços da própria democracia. “As grandes conquistas dos trabalhadores são as conquistas da democracia, quanto mais os trabalhadores se organizam, mais temos avanços sociais.”

Ele lembrou do surgimento do sufrágio universal masculino, na França de 1888; do início do movimento feminista nos Estados Unidos, que nasce na primeira metade do século 19 junto com a luta pelos direitos dos negros; e da instituição do voto feminino no Brasil, em 1934. “É a partir da democracia que os trabalhadores tornam-se cidadãos, portadores de direitos. Se algo nos torna mais felizes e menos oprimidos esse algo é a democracia, e ela foi conquistada após décadas e décadas de lutas pelo mundo”, frisou.


Andréa Ponte Souza - 29/4/2013

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