São Paulo - A partir da vitória da oposição, em março de 1979, o Sindicato toma novo rumo para organizar os trabalhadores. No esteio da Folha Bancária, que passa a ser diária, a entidade se aproxima mais dos trabalhadores com a criação de sedes regionais e dos departamentos feminino, de imprensa, de informação e análise, e de educação e cultura. Organização fundamental para a realização das greves e das lutas que se seguiriam nos próximos anos.
> Página especial com a história dos 90 anos
A nova direção, além de romper com o modelo sindical corporativo, passa a apoiar oposições bancárias em todo país, movimento que amplia a organização da categoria nacionalmente e intensifica a luta por melhores condições de trabalho, salários justos, além do combate à ditadura militar.
Com as experiências obtidas com as greves de 1978 e 1979, o movimento sindical que então despontava chega a uma conclusão: a importância da aproximação maior entre direção e base. E assim caminhará o novo sindicalismo nos anos seguintes.
Arrocho salarial – O início dos anos 1980 é marcado pelo fato de o Brasil recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para renegociar com os credores e obter novos empréstimos. O chamado “milagre econômico” vira pesadelo com o Brasil tornando-se o maior devedor entre os países do mundo, além do drástico aumento da desigualdade social. Essa renegociação previa seguir a cartilha do FMI, com orientação de que a política de reajuste salarial deveria ser abaixo do custo de vida. Assim, o então presidente da República, João Figueiredo, publica decretos de arrocho salarial.
Nessa conjuntura, o Sindicato encabeçou uma luta frontal contra a política salarial do governo dos generais. Os resultados foram, de um lado, a intervenção no Sindicato, e, de outro, a fundação da CUT, em agosto de 1983.
Nesse cenário, 138 categorias, entre elas a bancária, marcam greve geral para 21 de julho. Na tarde do dia 20, no entanto, a Polícia Federal invade o Sindicato. A diretoria é cassada e a entidade sofre intervenção. A luta permanece e a Folha Bancária continua sendo diária, com o acréscimo da palavra “Livre” para marcar a resistência. As assembleias e reuniões da campanha salarial de 1983 ocorrem em outros sindicatos e igrejas.
Fim da ditadura – Paralelamente à resistência à política econômica, diversos segmentos, entre eles o movimento sindical, organizam o primeiro comício pelas Diretas Já, seguido por uma série de manifestações em apoio à Emenda Constitucional Dante de Oliveira – nome do deputado que propôs o projeto – para que fosse restabelecido o direito de eleições diretas no país. Era a ditadura militar agonizando. Nesse contexto, após vinte meses de intervenção, o Ministério do Trabalho cede e, em meio à greve de 24 horas dos funcionários do Banco do Brasil – primeira depois de 1979 –, anuncia eleições para o Sindicato, vencida pela chapa única Resistência, encabeçada por Luiz Gushiken.
Naquele ano é encerrado também o processo de abertura política do regime militar e o Colégio Eleitoral escolhe Tancredo Neves para presidente da República. Em 15 de março, com a morte de Tancredo, assume seu vice, José Sarney.
Novas formas de resistência – Com o início da chamada Nova República, os trabalhadores têm de enfrentar inflação ascendente, salário mínimo correspondente a 1/3 do proposto pelo Dieese e substituição da Constituinte livre por um Congresso Constituinte.
Nessa conjuntura, os bancários iniciam mobilização pelo reajuste trimestral. É a resistência para que direitos não sejam retirados. Com isso, a greve de 1985 é inovadora ao buscar diálogo com os clientes sobre a condição salarial dos bancários e ao organizar a categoria nacionalmente para o enfrentamento.
Assim, os bancários iniciam a greve em 11 de setembro, a primeira nacional depois de 1964. Em São Paulo, na noite do dia 12, a assembleia da categoria na Praça da Sé (foto) aprova proposta do TRT de reajuste de 90,78%, no julgamento do dissídio, considerado pelos bancários uma grande vitória, como demonstra trecho da Folha Bancária nº 1.206: “A proposta aprovada não era exatamente o que queríamos, mas representa uma vitória conquistada na mobilização e na unidade dos bancários. Retornamos ao trabalho de cabeça erguida, conscientes da nossa força e da nossa capacidade de luta”.
A resistência e a organização permanecem nos anos seguintes, acumulando conquistas específicas – como o tíquete-refeição e o auxílio-creche/babá, até hoje na categoria – e na luta pelo fortalecimento da democracia no país, que terá capítulos importantes nos anos seguintes, como o impeachment de Fernando Collor.
Tatiana Melim - 15/4/2013
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