São Paulo – A gestão do prefeito da capital paulista, João Doria (PSDB), autorizou a empresa MobiBrasil a operar sem cobrador em cinco dos 17 ônibus da linha 576C – Metrô Jabaquara-Terminal Santo Amaro. A medida vai servir para avaliar o impacto da proposta de Doria de extinguir a profissão em São Paulo. O presidente do Sindicato dos Condutores de São Paulo, Valdevan Noventa, esteve hoje no local para dialogar com os trabalhadores e taxou a proposta de “indecente”. “O prefeito está tentando fazer isso na surdina, aos poucos, e quando for ver já está 100% sem cobrador. Nós não aceitamos e vamos usar todas as forças para impedir”, afirmou.
O teste na MobiBrasil se iniciou no sábado 1º. A gestão Doria argumenta que somente 6% das tarifas são pagas em dinheiro, o que demonstraria que não há necessidade de se manter o cobrador. Além disso, o governo municipal pretende instalar sistema de cobrança externa nos terminais, como feito na gestão da ex-prefeita Marta Suplicy (PT, hoje senadora pelo PMDB), para que o passageiro pague a tarifa antes do embarque. Em fevereiro, Doria andou em ônibus da capital e mencionou ideia de extinguir os cobradores.
Segundo Noventa, a medida causará prejuízo aos passageiros, já que somente o motorista passaria a exercer todas as funções. “O cobrador não faz só o trabalho de receber a tarifa. Ele ajuda a orientar os passageiros, garante a utilização correta dos assentos reservados, auxilia o embarque de cadeirantes. É uma atividade importante. São Paulo não está preparada para a extinção dessa função”, afirmou o presidente do sindicato. Nestes dias de teste da MobiBrasil, quem estava sem o Bilhete Único foi impedido de embarcar.
Os trabalhadores avaliam como irreal a promessa de Doria de que nenhum cobrador ficará desempregado. “Não tem espaço para transformar os cerca de 18 mil cobradores em motoristas”, pontuou Noventa. Além disso, se todos virarem motoristas, passariam a ter salários maiores do que na função atual, contradizendo a demanda de redução de custos das empresas. Os vencimentos de um cobrador são, em média, R$ 1.500. Já os de um motorista chegam a R$ 2.200. Estimativas da prefeitura indicam redução de R$ 1 bilhão no repasse às empresas com a retirada dos cobradores.
O sindicato tem invocado a Lei Municipal 13.207/2001, que proíbe a retirada dos cobradores. Segundo a norma, todos os ônibus da capital paulista “deverão ter, no mínimo, um funcionário, além do motorista, para fins de orientação e auxílio ao usuário, além da cobrança da passagem quando for o caso”. “Em um momento como esse, de crise e desemprego, é inconcebível que o prefeito queira arriscar o emprego de tantos pais de família. Queremos que o prefeito respeite a lei”, comentou Noventa.
Em 2014, a Câmara aprovou um projeto de lei sobre parcelamento de dívidas de IPTU e ISS, no qual foi incluído um artigo que acabava com a exigência de cobradores no transporte coletivo. A lei foi questionada pelo sindicato na Justiça e os trabalhadores conseguiram uma liminar suspendendo a medida. O mérito da causa ainda não foi julgado.
Os motoristas marcaram uma reunião para terça 4 com a empresa MobiBrasil para exigir o fim do teste. Além disso, pretendem manter o diálogo com a gestão Doria para por fim à ideia de extinção dos cobradores. Se não houver saída, os trabalhadores pretendem ir à greve. “Caso não haja acordo, não tenha dúvida de que vamos paralisar totalmente o serviço contra essa medida absurda”, concluiu Noventa.
Em nota, a São Paulo Transporte (SPTrans) informou que “autorizou, em caráter experimental, a operação de cinco veículos da viação MobiBrasil na linha 576C – Metrô Jabaquara-Terminal Santo Amaro, sem a presença de cobrador, de forma intercalada, com ônibus com cobradores. Ao todo operam 17 ônibus na linha. Existe um compromisso da empresa com a SPTrans para que não haja demissão de cobradores”.
“Atualmente no sistema municipal, 6% pagam em dinheiro enquanto outros 94% utilizam o Bilhete Único, nos seus modelos (Vale Transporte Comum, escolar, mensal) e aproveitam as integrações que esses oferecem. Nesta linha em teste, apenas 2% da sua demanda diária fazem o pagamento em dinheiro. Os demais 98% utilizam Bilhete Único”, conclui a SPTrans.