São Paulo – Promessas de ótimos salários, o sonho americano de ganhar muito dinheiro num banco de investimento, serviço garantido e promoções no prazo de um ano numa instituição em franco crescimento.
Foi assim que o Original – banco idealizado por Henrique Meireles, atual ministro da Fazenda do governo Temer – atraiu quase 100 bancários para trabalhar nas áreas de cadastro e fraude.
Quatro meses depois, mais de 60 trabalhadores estão vivendo, na realidade, um pesadelo. Foram todos demitidos arbitrariamente, no dia 3 de abril, numa situação de profundo desrespeito.
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O Sindicato já solicitou reunião com a direção do banco, que será realizada na quinta-feira 6, pela manhã.
Os nomes dos dispensados foram falados na frente dos demais colegas, chamados para uma sala onde estavam o RH e o gerente operacional, que demitia um a um. Eram cerca de 5h da manhã. Quem entrava para trabalhar era levado direto para a sala da degola. “Estamos passando por uma reestruturação e você será desligado”, dizia o gerente operacional.
“A gerente de RH ficava numa outra sala entregando um papel com agências de emprego para recolocação e mais nada. Menos de cinco minutos, tudo assinado e tchau!”, relata um dos demitidos, que não se conformam com esse discurso pronto.
“O banco alega estar mal, mas segue fazendo 11 sorteios de R$ 100 mil semanais (foram três até agora), altos investimentos com propaganda no Faustão, sendo R$ 3 milhões para contrato até maio, todos os domingos, apenas nas vídeo-cassetadas, e isso não tem gerado retorno algum”, denuncia o trabalhador. “Além disso, será patrocinador oficial do Cirque du Soleil no Brasil. Como, se estão cortando custos? Fico sem entender.”
Golpe – Em grupos de conversa os bancários já começam a perceber que foram usados pelo Original para baixar o volume de contas paradas, que estava altíssimo.
Para dar conta da demanda, “muitos de nós tiveram a carga de trabalho dobrada, pois o banco havia acabado de iniciar suas operações. Não dá nem para contar as vezes em que eu e muitos outros ficamos trabalhando dias a fio, das 9h da manhã até as 21h, as vezes até as 22h, inclusive aos sábados e feriados, para suprir a demanda do banco. Tudo isso para agora sermos descartados de forma arbitrária, sem critérios específicos e assim, em massa”, indigna-se uma bancária.
“De 105 analistas 60 foram demitidos. Quando entramos, eram apenas 12 e havia 15 mil contas paradas, 30 dias para uma abertura e muita reclamação. Aí nos contrataram prometendo o mundo. Muitos pediram demissão de outros bancos sob a promessa de que tinha serviço para um ano e que após esse ano o banco já teria mais de 1 milhão de contas ampliando a alta demanda e tendo vagas em diversos departamentos. Pediam para termos paciência vestir a camisa do banco que em um ano coisas boas iriam acontecer, que a projeção deste ano já estava fechada, mas para não termos medo de demissões”, relata um trabalhador.
“Dá até medo de pensar nas projeções de crescimento feitas pelo senhor ministro da Fazenda para o Brasil, se nem seu banco, que é de pequeno porte, a equipe consegue administrar e acaba causando tantos prejuízos na vida de dezenas de bancários, imagine administrando um país”, critica a secretária-geral do Sindicato, Ivone Silva.
O Sindicato está cobrando do banco indenização a esses bancários, a prorrogação do convênio médico, do auxílio-alimentação. “Como têm menos de um ano no emprego, sequer conseguem recorrer ao seguro-desemprego. O banco tem de ter responsabilidade com essas pessoas, não pode destruir a vida delas e achar que ficará impune”, avisa Ivone. “O Sindicato vai denunciar a toda a sociedade o que significa trabalhar no Original do ministro Meirelles. Essa postura só reforça o tipo de administração que caracteriza o governo Temer: os trabalhadores que constroem o dia a dia do país são tratados como lixo e isso não vamos aceitar.”