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São Paulo vive apagão de transportes

Linha fina
Caos é resultado de política equivocada que aposta no automóvel em vez do público e coletivo
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São Paulo – Engarrafamentos, falta de corredores de ônibus, panes diárias no Metrô e na CPTM, vagões superlotados em metade das linhas sobre trilhos e uma média de 2,5 milhões de automóveis circulando por dia fazem da mobilidade urbana na Grande São Paulo um verdadeiro caos.

Em 2010, o IBGE consultou pela primeira vez os brasileiros sobre o assunto e os resultados, incluídos no Censo divulgado em abril, mostram que os moradores da região metropolitana de São Paulo estão entre os que mais tempo levam de casa ao trabalho.

> Vídeo: toda dificuldade de locomoção na cidade de São Paulo

Só na capital paulista 25,1% dos moradores demoram entre uma a duas horas para chegar ao trabalho. Enquanto que a média nacional aponta mais da metade da população ativa (52,2%) gastando entre seis a trinta minutos nesse percurso. Na região do ABC a situação é ainda pior: 22% das pessoas que trabalham em outros municípios perdem duas horas ou mais de seus dias nesse caminho.

O verdadeiro apagão nos transportes públicos, que vive hoje São Paulo, é fruto de décadas de descaso e políticas públicas equivocadas.

Para o presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), o engenheiro Ailton Brasiliense, as apostas das administrações estadual e municipal foram, com raras exceções, voltadas para o lucro da iniciativa privada, com prioridade para o transporte privado em detrimento do coletivo e investimentos em avenidas, viadutos e túneis, que só servem aos carros.

“O transporte individual causa congestionamentos e impõem suas condições à cidade. Só que o sistema viário é público e, portanto, tem de servir à maioria e não a uma minoria”, diz Brasiliense, que foi diretor do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e presidente do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) entre 2003 e 2005.

O engenheiro ilustra a política equivocada das administrações públicas com números. “Em 1950, com 2,5 milhões de habitantes, São Paulo tinha 300 km de trilhos urbanos (bondes elétricos) e 100 mil automóveis. Na década de 1960 acabaram com os bondes porque iriam investir em metrô. Hoje, com população de 11 milhões na capital, que aumenta para 20 milhões na Grande São Paulo, temos 200 km de trilhos (74 km de metrô e 130 km de trem), aproximadamente 140 km de corredores de ônibus e uma frota de 7 milhões de automóveis. Ou seja, com uma população três vezes maior temos menos trilhos.”

Brasiliense afirma que o que falta é rediscutir a utilização do espaço urbano e defende que os investimentos em transporte têm de fazer parte do planejamento da cidade. “Há dois tipos de cidade, a ordenada e a torta. Essa última vai sempre precisar de malha viária e ferroviária muito maior do que a cidade planejada, que pensa racionalmente o solo e distribui ao longo de um corredor viário, moradias e centros comerciais.” O engenheiro ressalta que o futuro da cidade depende de decisões políticas. “A população precisa decidir se quer continuar respirando óleo diesel ou se quer investir em transporte público organizado, com confiabilidade de tempo de espera e de tempo de viagem.”

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Andréa Ponte Souza - 7/5/2012
(foto na home: Almeida Rocha - Folhapress)

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