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Dos bancários e de todos os trabalhadores

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São Paulo - Em 2013, completo 33 anos. E mesmo me considerando bem jovem já presenciei muita coisa. Algumas definitivamente marcantes. Recordo, como se fosse ontem, do debate entre dois “Luizes”, que representavam, no início dos anos 1980, parte do passado, do presente e do futuro de uma nação. Naquela ocasião, Luiz Carlos Prestes, revolucionário do início e meados do século passado, e um tal Luiz Inácio, sindicalista e ex-peão de fábrica, deram uma verdadeira aula de história. Todos, e olha que tinha muita gente, saboreavam cada palavra dita por eles.

> Página especial com os perfis dos 90 anos

Após aquele encontro, passei a ter a sensação de que as coisas ocorriam com muita rapidez. Nos anos 1980, tive a oportunidade de assistir às apresentações de artistas como Lô Borges, Belchior e Ed Motta. Também teve um cara de cavanhaque e óculos escuro, um maluco beleza, subindo ao palco ao lado de outro doido, chamado Marcelo Nova, num show de rock de arrepiar. Nem sequer podia supor que aquela apresentação, em 26 de novembro de 1988, seria uma das últimas de Raul Seixas, morto no ano seguinte.

Nessas três décadas, vi um pouco de tudo: festa junina com o “quadrilheiro” Mário Zan, o Trio Virgulino, a sambista LeciBrandão, grupos de pagode como o Negritude Júnior, e bandas de rock nacional como o Ira! e o Ultraje a Rigor (foto). Também presenciei lances emocionantes em disputadíssimas partidas de truco. Goleadas históricas em jogos de futebol de salão. E bancários se divertindo a valer em memoráveis festas do chope e aniversários do Sindicato. Também presenciei encontro anual da presidenta Dilma Rousseff com catadores de materiais recicláveis, iniciativa de seu antecessor, Lula – aquele mesmo metalúrgico que debateu com Prestes e conseguiu ser o primeiro representante da classe trabalhadora a ocupar a Presidência da República.

Integrantes de movimentos populares, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), nos anos 1990, também acamparam em minhas dependências para sair em passeatas – eles faziam uma fila indiana interminável nas ruas da cidade – e ajudar a categoria bancária na greve.

Outros momentos marcantes foram reservados às assembleias dos bancários. Vi muitas greves vitoriosas começarem aqui. Uma delas foi emblemática, quando os banespianos pararam não por reajuste salarial, mas em defesa do maior banco público estadual do país: o Banespa.

Após resistência de cerca de seis anos, o banco foi vendido e, no dia do leilão (20 de novembro de 2000), nessa grande assembleia, centenas de bancários cantaram o Hino Nacional. E num brado “Verás que um filho teu não foge à luta”, foram às ruas de cabeça erguida e se mantiveram unidos na defesa de seus empregos e direitos, dessa vez contra o Santander que adquirira o banco público.

Em outra assembleia, vi rostos felizes de bancários do Banco do Brasil, em julho de 2003, ao encerrarem processo trabalhista que durou quase 30 anos.

E não é que aquele peão de fábrica, barbudo e sindicalista, voltou a ser assunto? Engraçado como de tempos em tempos ele se confunde com minha história. Dessa vez, Lula foi capa da primeira edição de uma publicação que surgiu para contar a história dos trabalhadores pelos trabalhadores, a Revista o Brasil. Pois é, também tenho esse orgulho de ter presenciado o lançamento da RdB em 2006.

E na comemoração dos 90 anos do Sindicato, no dia 16 de abril de 2013, ele não poderia faltar. Lula, mais uma vez, marcou minha história. Além do discurso emocionante, foi o primeiro a aderir ao abaixo-assinado de iniciativa popular que pede por reforma política no país. Sou o Centro Sindical Bancário, os mais chegados me chamam de Quadra dos Bancários.

Mas, desde que ouvi elogios de um dirigente sindical em outra assembleia, prefiro que me chamem de a Casa do Bancário. Ele falou mais ou menos assim: “Essa é a nossa casa. É um lugar simples, humilde, mas é a nossa casa. O lar do escriturário, do caixa, do gerente, do comissionado, de todos os bancários para decidirem no debate franco e democrático os destinos da categoria.”

Quando puder venha me conhecer, em especial se for em uma assembleia. Estou bem perto do metrô Sé, na Rua Tabatinguera, 192.


Jair Rosa - 8/5/2013

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