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Tempos de Privatizações de Resistência

Linha fina
Na década de 1990, em meio à luta para que direitos não fossem retirados, as palavras de ordem dos bancários eram “Fora FHC e FMI”
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São Paulo - O período de 1993 a 2002 retrata a década em que os trabalhadores brasileiros viveram uma tragédia, cujos principais desafios eram o desemprego, a privatização, o arrocho salarial e a precarização das relações trabalhistas, com ataques aos direitos estabelecidos na legislação.

> Página com a história dos 90 anos

O Brasil inicia e termina a década de 1990, auge do neoliberalismo, submisso às regras do FMI. Muitos sindicatos são obrigados a negociar perdas em troca do emprego. No caso dos bancários, o alto volume de demissões e o  acelerado processo de terceirização colocaram os trabalhadores na defensiva.

Resistência – Empreendendo uma ampla atuação, que ia das “sardinhadas” na frente das agências às negociações com o governo federal, passando por ações jurídicas e assembleias surpresas no local de trabalho (conhecidas como Kinder Ovo), o Sindicato buscara resistir e, ao mesmo tempo, ampliar direitos. E assim aconteceu. Apesar das dificuldades, o período também foi de conquistas, como o vale-alimentação e a Participação nos Lucros e Resultados, fruto das campanhas salariais de 1994 e 1995, respectivamente.

Entretanto, os bancários do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal foram excluídos desses direitos. O isolamento político a que o governo federal, sob a gestão de Fernando Henrique Cardoso, submeteu os trabalhadores do BB e da Caixa durante toda a década de 1990 foi um duro golpe no potencial de mobilização e luta da categoria. Os trabalhadores de bancos públicos saíam frustrados das várias greves deflagradas, cujos resultados eram reajuste zero e decretos do governo autorizando a demissão sem justa causa.

A greve após o real - Em 1996, apesar do esforço do Sindicato em negociar, os banqueiros e o governo FHC mantiveram-se intransigentes, levando a categoria à greve em 26 de setembro (foto à direita). Além das ameaças para forçar os bancários aos contingenciamentos, uma nova forma de limitar o direito de greve passou a ser usada pelos bancos: os interditos proibitórios, instrumentos juridicos que até hoje prejudicam a organização e mobilização da categoria.

Mesmo assim, as estratégias do Sindicato ampliaram o engajamento dos trabalhadores. Em 4 de outubro foi aprovada a proposta que assegurou PLR de 60% do salário + R$ 270, reajuste salarial e abono de 45% do salário. Apesar de mais uma vez os bancos públicos federais serem excluídos das conquistas, a campanha resultou em significativos ganhos para a consolidação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT). Naquele momento, 70% dos trabalhadores da base do Sindicato passaram a ser abrangidos por ela.

Banespa – Em 1999, Fernando Henrique Cardoso, começando seu segundo mandato após emenda que permitiu a reeleição, intensificou o processo de privatizações, aumentando os receios dos bancários do BB, Banespa e Caixa. Era o sinal do que ocorreria no final de novembro de 2000. Mesmo com a resistência dos banespianos, o Banco do Estado de São Paulo foi vendido ao Santander.

Foram seis anos de intensa mobilização dos bancários, desde 1994, quando o Banco Central decretou intervenção. FHC, para facilitar o processo devenda em meio à resistência dos trabalhadores, baixou uma medida provisória que remetia qualquer recurso à apreciação direta do presidente do STF, ministro Carlos Veloso.

Havia uma liminar que impedia a realização do leilão, mas foi cassada na noite de domingo por Veloso, o que possibilitou a venda do banco para o Santander na manhã de 20 de novembro. Uma grande concentração ocorreu diante do edifício-sede, no centro de São Paulo, onde muitos bancários se emocionaram e choraram.

Década da esperança – Apesar de o início dos anos 2000 ter sido marcado pelo recrudescimento do processo de privatização, como a do Banespa, e pela sinalização de que vender a Nossa Caixa era questão de tempo, os bancários viam reascender a esperança de uma década que permitiria a retomada de direitos. Era a chegada do primeiro operário à presidência da República, representando a vitória de um novo projeto político para o país. O metalúrgico do ABC, Luiz Inácio Lula da Silva, tornou-se o primeiro presidente oriundo da classe trabalhadora, com apoio do movimento sindical.


Tatiana Melim - 3/5/2013

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