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A unificação da categoria

Linha fina
Início de um novo tempo, com resgate da dignidade dos trabalhadores de bancos públicos e privados, agora juntos em uma só luta: a de toda categoria bancária
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São Paulo - O momento histórico é marcado pela chegada do metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, episódio fundamental para compreender o novo contexto que se abriu ao sindicalismo bancário.

> Página especial com a história dos 90 anos

A conjuntura política que se estabeleceria no país era o oposto do modelo neoliberal até então vigente. Por meio de uma série de medidas, o novo governo retomou o crescimento do país, fomentou a geração de empregos, o aumento da renda dos trabalhadores, além de reduzir a pobreza e a desigualdade social.

Num governo baseado em ampla coalizão de forças, o movimento sindical tinha clareza\e que conquistas não ocorreriam automaticamente, mas com a capacidade dos trabalhadores de se organizar para a luta.

Com essa convicção, os bancários iniciaram a campanha salarial de 2003. O movimento sindical passou a ser respeitado e recebido em negociação. Após anos de separação, a categoria se engajou em um grande movimento pela aplicação integral da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) a todos os bancários do país. Rompendo uma década de desintegrações, bancários de bancos públicos e privados conquistaram o mesmo reajuste, abono e regra básica da PLR
acordados com a Fenaban.

No ano seguinte, as direções do BB e da Caixa passaram a respeitar as cláusulas econômicas firmadas na CCT. Isso permitiu aos bancários organizar uma campanha nacional e unificada, retomando as grandes mobilizações de massa como não se via há anos.

Em 14 de setembro de 2004, os bancários de instituições públicas e privadas entraram em greve, iniciando a primeira mobilização unifica da desde 1993. Ainda bastante vinculada à cultura do abono salarial, a categoria avaliou que os banqueiros poderiam oferecer mais do que o intenso processo de negociação havia extraído dos bancos.

Após 30 dias, seguindo a orientação da Executiva Nacional dos Bancários, os funcionários decidiram voltar ao trabalho. Todos obtiveram aumento salarial real, valorização do piso e a PLR previstos na proposta inicial, mais um vale-alimentação extra de R$ 700 aos bancários de bancos privados e R$ 1.000 de abono aos trabalhadores de bancos públicos.

A retomada da mobilização de massa possibilitou a conquista de aumento real de salário a cada ano, além da importante consolidação do entendimento de que as condições de trabalho precisavam melhorar. O Sindicato combateu intensamente o assédio moral e as metas abusivas, buscando preservar a saúde dos bancários, além de ampliar a atuação no que diz respeito à luta por igualdade de oportunidades, independentemente de gênero, raça, orientação sexual ou deficiência.

Lula é reeleito – A vitória de Lula nas eleições presidenciais de 2006 confirmava as expectativas dos trabalhadores de garantir mais quatro anos de um governo que os respeitasse.

Os bancários, por sua vez, intensificaram a luta contra o processo de terceirizações e a rotatividade no setor. Além disso, tiveram de travar intensas mobilizações nas fusões que ocorreram no período, resultando, em alguns casos, em milhares de demissões.

Crise financeira – Em 2008, o Sindicato e outras entidades ligadas à CUT apresentaram ao governo propostas para minimizar os possíveis efeitos da crise mundial sobre os trabalhadores. A política de valorização do salário mínimo, a diminuição da taxa básica de juros (Selic), a queda do spread e a redução temporária de tributos, fizeram com que os efeitos fossem bem menos devastadores do que em outros países.

No caso dos bancários, apesar do crescimento da economia brasileira e da conquista de aumentos reais de salário nos acordos firmados no primeiro semestre de 2008, muitos banqueiros sugeriam que a crise financeira mundial interromperia a trajetória de conquistas dos anos anteriores. A categoria não permitiu. Em 7 de outubro, foi deflagrada greve, que resultou na conquista de aumento real de salário pelo quinto ano consecutivo, além da alteração, em CCT, da regra básica da PLR.

Para os bancários, a lição do período era clara: mesmo diante de um governo favorável aos trabalhadores, novas conquistas só viriam com amplas e diversificadas lutas. Foi com esseentendimento que a categoria iniciou 2010, fechando um ciclo que se encerraria com o final do segundo mandato de Lula e a eleição de sua sucessora, Dilma Rousseff. Início de um novo tempo, com resgate da dignidade dos trabalhadores de bancos públicos e privados, agora juntos em uma só luta: a de toda categoria bancária

Fusões e aquisições - Quase sempre as incorporações no setor financeiro significaram grandes lucros para os bancos e demissões para os trabalhadores. Essa lógica injusta e perversa foi o que motivou a mobilização do Sindicato na luta contra as consequências das privatizações, especialmente no que diz respeito à redução de postos de trabalho.

A partir dos anos 1990, o Sistema Financeiro Nacional passou por uma reorganização marcada por diversas fusões e aquisições. O processo deslanchou com a primeira edição, em 1995, do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), do governo de Fernando Henrique Cardoso, que funcionou como um mecanismo de garantia da sobrevida de bancos privados com problemas de caixa.

Após essas alterações e a histórica venda do Banespa, em 2000, o Sindicato colocou-se como protagonista da luta contra as privatizações e fusões no setor. E assim aconteceu quando o Santander comprou o ABN-Real; o Itaú adquiriu o Unibanco; e o Banco do Brasil incorporou a Nossa Caixa.

No caso do último banco público do estado de São Paulo, a perda só não foi pior graças à forte atuação do Sindicato junto ao governo federal. A Nossa Caixa escapou da privatização, sendo incorporada pelo Banco do Brasil, uma vitória importante para os bancários.

Já no caso das aquisições feitas pelo Santander e Itaú, apesar da luta permanente do Sindicato, as demissões nesses bancos refletem ainda a falta de compromisso dessas instituições com o emprego bancário e com a função social que deve exercer o sistema financeiro nacional em prol do desenvolvimento do país.


Tatiana Melim - 8/5/2013

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