O Ministério da Educação confirma que vai ter Enem nos dias 1º e 8 de novembro. De acordo com professores e alunos, no entanto, essa decisão não leva em conta o cenário de isolamento social, decorrente da pandemia de coronavírus e as dificuldades que os estudantes estão enfrentando para seguir com a rotina de ensino e poder realizar o Exame Nacional do Ensino Médio em boas condições.
A reportagem é da Rede Brasil Atual.
A decisão reiterada pelo ministro Abraham Weintraub em diversas ocasiões foi chancelada pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), na última semana.
A vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Élida Elaine, afirma que o Weintraub quer excluir a população de baixa renda do ensino ensino superior. “Ele não está preocupado que os estudantes mais pobres acessem a universidade, por isso defendemos o adiamento das provas, para debatermos com as secretarias estaduais um plano de organização do calendário, levando em conta os limites pedagógicos”, afirmou ao repórter José Eduardo Bernardes, do Brasil de Fato.
Entre os entraves relatados está a baixa participação dos estudantes nas aulas de ensino à distância, devido à falta de infraestrutura e tecnologia, e as condições psicológicas de uma preparação que já tem peso mais importante do que o vestibular.
Ensino prejudicado
A UNE e outras organizações estudantis estão organizando um ato virtual contra a postura do MEC, nesta sexta-feira 8. A entidade elaborou um abaixo-assinado para tentar reverter a decisão da Justiça que confirmou a realização do Enem no cronograma original – com inscrições
Os estudantes, que ainda tentam se adaptar à realidade do ensino à distância, agora terão que correr uma maratona para recuperar o tempo perdido com a paralisação das aulas. No entanto, eles têm se queixado da baixa efetividade da EaD, que não resolve grande parte das dúvidas dos alunos.
Para Bianca Miranda dos Santos, estudante do terceiro ano da escola Comendador Mario Reis, na zona leste de São Paulo, as aulas à distância têm sido ruins. “Por mais que tenhamos as aulas on-line, convenhamos que não é a mesma coisa que o professor frente a frente”, diz a estudante. Ela tentará pela terceira vez via Enem ingressar em um curso de Medicina.
Sua colega Jéssica de Souza Andrade, que vai tentar vaga em Fisioterapia, o tempo que os professores estão disponíveis para tirar as dúvidas é insuficiente. “Na aula presencial, ele explicava e você entendia mais. Em casa é mais difícil. Não estou conseguindo aprender quase nada, vou ter muita dificuldade”, afirma.
Comercial
Segundo o professor de Sociologia Leandro Ramos Gonçalves, que leciona para o ensino médio da escola Salvador Rocco, na Vila Carrão, zona leste de Paulo, “há um hiato entre a inscrição para a prova do Enem e a realização do exame. Um percurso de aflição do estudante do terceiro ano, sobretudo na escola estadual”.
“Ele começa a ingressar na ideia de ir ao vestibular, que vai ter Enem, uma retomada e finalização de estudos. Nós temos feito isso, mas virtualmente. Envia o conteúdo, tira dúvida, responde por áudio. Essa dinâmica não é a ideal para esse tipo de situação. Lembrando que apenas 30%, 40% dos alunos conseguem acompanhar aulas à distância”, explica.
Nesta semana, o MEC divulgou um vídeo de um minuto, reforçando que vai ter Enem. A publicação causou revolta em educadores e entidades estudantis. Afirmam que o ministério desconsidera a situação de grande parte dos alunos do país, que estão nas periferias e sem acesso à tecnologia.
“O vídeo diz para os estudantes: estudem, na internet ou em livros. E essa não é a realidade que nós temos na educação brasileira. Ele [Abraham Weintraub] maquia a realidade de forma intencional. Ele sabe que o povo pobre não acessa à internet da mesma forma que a classe média. O projeto que ele defende é o de uma universidade sem povo”, aponta Élida Elaine, da UNE.
Assista à reportagem do Seu Jornal, da TVT
Além do vestibular presencial do Enem com data marcada para os dias 1º e 8 de novembro, o MEC também realizará uma versão digital da prova, em 22 e 29 de novembro, para aqueles que não puderem se deslocar no período.
Na terça-feira 5, Weintraub esteve no Senado e reuniu-se com líderes da Casa, novamente defendendo a manutenção do edital. Na visão do ministro, o país só estará em situação de isolamento social em novembro se houver “uma hecatombe”.
Tramitam no Congresso, projetos que preveem o adiamento das provas, como dos senadores Humberto Costa (PT-PE) e Daniella Ribeiro (PP-PB). Na Câmara dos Deputados, foi protocolado um Projeto de Decreto Legislativo nº 167/2020 que suspende o edital da prova de 2020. Parlamentares de ambas as casas pressionam para que o tema entre na pauta legislativa.