A presidenta do Sindicato, Ivone Silva, em artigo, comenta a flexilibização da quarentena anunciada pelo prefeito Bruno Covas na cidade de São Paulo e pelo governador João Doria em alguns municípios paulistas a partir de 1º de junho. Para ela, trata-se de pressão de grandes empresários, mesmo com o número crescente de casos pelo novo coronavírus (Covid-19) e contrariando orientações de autoridades sanitárias mundiais. Leia abaixo:
Apesar de São Paulo ter um número crescente de casos pela Covid-19, com uma média de aproximadamente cem mortes por dia na capital, o governador do estado, João Doria, e o prefeito paulistano, Bruno Covas, anunciaram o início da flexibilização da quarentena em algumas cidades, a partir de 1º de junho.
A cidade de São Paulo se enquadra na chamada fase 2-laranja do nível de restrição, podendo abrir shoppings, comércio em geral, atividades imobiliárias, concessionárias de veículos e escritórios, com adequação aos protocolos de saúde elaborados pelo comitê econômico do governo paulista.
A chamada "retomada consciente e segura das atividades econômicas" que Doria destaca nada mais é do que a pressão sofrida pelos empresários para abrir, embora todas as recomendações mundiais mostrem que ainda não é a hora para isso. No Chile, a precipitada tentativa de reabertura deu errado porque a epidemia não estava controlada. O resultado foi o aumento no número de casos e mortes e o sistema hospitalar perto do colapso.
Um dia após o anúncio da flexibilização da quarentena, somente a cidade de São Paulo chegou a 92% de ocupação das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) dos hospitais municipais. O discurso contradiz a própria diretriz estabelecida pelo Comitê de Contingência do Coronavírus de São Paulo. Para uma reabertura segura é preciso uma redução consistente no número de casos por 15 dias seguidos, taxa de ocupação de UTI de 60% ou menor e adesão ao isolamento social mínima de 55%. A capital paulista não atingiu nenhuma dessas condições.
A flexibilização da quarentena é oficializada apenas uma semana depois de o coordenador do comitê de contingência, Dimas Tadeu Covas, declarar que a situação era muito grave em São Paulo. “Estamos perdendo essa batalha contra o vírus, essa é a realidade. O vírus neste momento está vencendo a guerra”, disse Dimas.
O estado já tem mais de 86 mil casos confirmados da doença e mais de 6 mil óbitos. Na capital paulista são mais de 51 mil casos confirmados e mais de 7 mil mortes em casos suspeitos ou confirmados de covid-19, aumento de 543% nas mortes entre 9 de abril e 25 de maio.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece critérios claros para uma flexibilização da quarentena. A transmissão da doença deve estar sob controle, com queda sustentada por um período razoável de tempo do número de novos casos. O sistema de saúde deve ser capaz de detectar, testar, isolar e tratar todos os casos e de rastrear todos os contatos de casos positivos. Além disso, é preciso que a população esteja bem adaptada ao novo cenário e às condições necessárias para retomar as atividades em segurança.
O prefeito Bruno Covas e o governador João Doria erram ao não decretar o lockdown, para não perder o apoio dos grandes empresários, que defendem a volta das atividades e a retomada de seus negócios, em detrimento a proteção à vida. Ao contrário do que as cidades mais populosas do mundo fizeram, São Paulo segue aumentando os casos da doença.
Na economia são necessárias medidas dos governos municipal e estadual que preservem os empregos e renda, com a destinação de recursos para as médias, pequenas e microempresas. E o governo federal também deve manter o auxílio emergencial, durante e após o pico da COVID19, para que essas pessoas possam recuperar ou manter as mínimas condições de sobrevivência.
É fundamental que se estabeleçam critérios e parâmetros objetivos para pensar cenários para possíveis processos futuros de relaxamento do isolamento social, porém isso não deve ser feito de forma apressada para responder demandas de determinada parcela irresponsável do empresariado. Deve ser realizado através de um intenso diálogo com as organizações representativas dos trabalhadores e trabalhadoras, os movimentos sociais e populares e da sociedade civil para discutir previamente as medidas a serem implementadas e as condições de implementação, para que elas possam ter um resultado eficaz e que tenha como eixo principal a preservação da vida.
* Formada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), com MBA em Finanças, Controladoria e Auditoria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Bancária do Itaú-Unibanco desde 1989, foi secretária-geral do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região no período de 2014 a 2017, quando tomou posse como a segunda mulher a presidir a entidade.