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Ciclovia da Paulista é marco para mobilidade em SP

Linha fina
Inaugurada oficialmente no domingo 28 de junho, estrutura é fruto da mudança na forma de pensar a locomoção na capital paulista
Imagem Destaque
São Paulo – O domingo 28 será uma data histórica para a cidade de São Paulo. Sua mais emblemática avenida, a Paulista – cenário de pelo menos três acidentes fatais envolvendo ciclistas –, vai finalmente receber uma ciclovia. Na inauguração oficial, os dois sentidos da via serão interditados para os automóveis entre 10h e 17h. Associações planejam uma grande festa para celebrar a conquista.

“O mais importante da ciclovia é que ela vai atender uma demanda clara que existe ali. Segundo a CET, a Paulista é a avenida onde mais acontecem acidentes, por quilometro de extensão, com morte de ciclistas. Em 2012, a Ciclocidade fez uma contagem e, em 14h, passaram 702 ciclistas pela avenida. Isso três anos atrás”, explica o cicloativista e criador do projeto VádeBike, William Cruz.  “Além disso, existe uma demanda reprimida muito grande, já que muitas pessoas querem utilizar a bicicleta, mas têm medo de passar na Paulista por medo do tráfego intenso”, acrescenta.

De acordo com Thiago Benicchio, gerente de transportes ativos do ITDP Brasil (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento), a ciclovia da Paulista é ainda mais importante por estar localizada em um grande eixo viário. “A Avenida Paulista faz a conexão do Jabaquara até o Pacaembu, Pinheiros, um importante eixo da cidade. O espigão da Paulista é uma ligação bastante utilizada por quem não quer descer o morro. É o caminho de desejo do ciclista”, explica.

Para Cruz, a inauguração de uma ciclovia na Avenida Paulista é também um marco simbólico em uma cidade historicamente pensada para os carros.  “A Paulista é a avenida símbolo de São Paulo. Ter uma ciclovia ali mostra que a cidade finalmente entendeu a importância da bicicleta para a mobilidade urbana”, comenta.

A ciclovia da Paulista não é uma obra isolada. No sábado 20, com a entrega das ciclovias na Avenida Rangel Pestana e Rua da Figueira, no centro; das ruas Canindé e Pasteur, na zona norte; e da Rua Coriolano, na Lapa; a capital paulista ultrapassou a marca de 300 quilômetros de vias exclusivas para ciclistas (veja abaixo). Até o final do ano, a Prefeitura planeja chegar aos 400 quilômetros.

Por outro lado, as ciclovias de São Paulo são criticadas pelos seus “hiatos”, trechos onde a via termina em avenidas de grande fluxo de automóveis ou sem fechar o circuito completo. Em resposta, a CET afirma que “as implantações [de ciclovias] realizadas até o momento, e as que serão promovidas, ligarão os bairros através de conexões”. Além disso, a CET defende que a malha cicloviária está integrada com outros modais de transporte da cidade.

A causa é a cidade – Além das ciclovias, a gestão municipal também tem investido no transporte coletivo. Desde 2012, a Prefeitura implantou 475,4 km de faixas exclusivas e corredores de ônibus. No início deste ano começou a funcionar o Noturno, uma rede de linhas que atende todas as regiões da cidade entre 0h e 4h.

Segundo Bennichio, esta mudança na forma de pensar a mobilidade urbana em São Paulo, e também a ocupação do espaço público, é fruto de um processo de saturação da população que encontrou respostas no poder público. “São Paulo foi construída de uma forma predatória e privatista, com a individualização no espaço privado, seja nos carros ou em condomínios. Isso gera uma saturação na população, inclusive nas pessoas que estão isoladas”, explica.

“Neste sentido, a bicicleta não é uma causa em si, a causa é a cidade. Quando você está de bicicleta, tem um contato maior com a cidade. Cria-se um movimento para torná-la um espaço de convivência e troca. Deixa-se de atender interesses individuais para atender o coletivo, como no caso dos corredores de ônibus. Ainda bem que este movimento está tendo respostas do poder público”, afirma o gerente de transportes ativos do ITDP Brasil.

De acordo com os dados mais recentes da CET, a mudança está beneficiando inclusive aqueles que optam por utilizar automóveis. Entre janeiro e abril deste ano, a média diária de congestionamentos na cidade caiu de 135,1 km para 121,7 km, uma redução de 9,9%.

 
Felipe Rousselet – 26/6/2015
 
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