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Falta análise nacional de violência contra idoso

Linha fina
Promotor do Ministério Público do Rio de Janeiro afirma que dados coletados pelo Disque 100 deveriam traçar um diagnóstico da questão abrangendo o país todo
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Rio de Janeiro - Os dados sobre violência contra o idoso que chegam ao Disque 100 de Direitos Humanos deveriam ser mais bem detalhados com o objetivo de traçar um diagnóstico nacional do problema. A opinião é do promotor Luiz Cláudio de Carvalho Almeida, coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Proteção ao Idoso e à Pessoa com Deficiência do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).

Ele participou na segunda 15 do Fórum Violência e Maus-Tratos contra o Idoso, organizado pela Secretaria de Estado de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida, para marcar o Dia Internacional de Combate à Violência contra a Pessoa Idosa. De acordo com Almeida, as denúncias feitas precisam ser checadas e gerar novos dados.

“O Disque 100 é uma porta de entrada de informação. Temos que evoluir no sentido de construir um fluxo de trabalho para que esses dados possam ser checados e totalizados, saber quais eram as denúncias verdadeiras, as que não eram, quais eram repetidas. Então, é preciso refinar um pouco mais esse trabalho para ter dados mais apurados.”

O promotor disse que o próprio Ministério Público não tem dados apurados sobre a questão, mas destacou que estão sendo feitas duas pesquisas para suprir essa lacuna, que devem ser divulgadas em dois anos. “Estamos fazendo um trabalho com o Centro de Estudo e Pesquisa em Envelhecimento, do Instituto Vital Brasil, e com o Ipup, da UFRJ [Programa de Residência Médica do Instituto de Psiquiatria]. Oferemoos nossos bancos de dados para que eles sejam destrinchados. Está tudo sendo tabulado de acordo com critérios científicos deles.”

Segundo a presidenta do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Idosa, Sandra Rabelo, no segundo semestre do ano passado, foram feitas cerca de 3 mil denúncias pelo Disque 100 em todo o estado do Rio de Janeiro, com prevalência de negligência, abuso financeiro, abandono e violência psicológica. Sandra destacou que isso também envolve questões de gênero.

“A mulher vive mais, então, em consequência disso, é também a mulher que desenvolve mais patologia degenerativa. Ela fica mais frágil, ela perde a rede familiar, os filhos casam e vão embora, o marido morre, ela fica sozinha e não encontra ninguém para cuidar dela. Mulher lidera disparado [o índice de violência contra o idoso] entre homens e mulheres, 90% da violência é contra a mulher”, destacou.

Sandra explica que, em 2006, durante a 2ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, foi definida a criação da Rede Nacional de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa, porém o projeto ainda não foi implementado. “Uma rede nacional [foi criada], com os entes: Ministério Público, conselhos, delegacias, centros de referência de assistência social e referência especializado de assistência social e poder local atuando em conjunto, mas tivemos dificuldade de efetivação, não houve pactuação entre as entidades.”

Criada em 2013, a Secretaria de Estado de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida desenvolve ações ligadas ao bem-estar do idoso, como a instalação das academias da terceira idade em espaços públicos e a orientação de profissionais de nutrição e fisioterapia. O secretário José Luiz Nanci adianta que está em estudo o projeto piloto para a construção de um centro dia.

“Estamos vendo se vamos fazer, em Itaboraí ou em São Gonçalo, um projeto piloto com a Fundação Leão XIII. No centro dia, a pessoa chega, toma café da manhã e depois participa de várias atividades físicas, ginástica para a terceira idade, jogos, dominó e conversa entre eles. Depois, tem o almoço, a pessoa descansa, faz a sesta, retoma outras atividades e toma o café da tarde. Daí, levamos para a residência. Enquanto isso, a família vai trabalhar.”

De acordo com o promotor Almeida, muitos casos de violência contra o idoso decorrem da impossibilidade da família de oferecer o cuidado necessário, por falta de tempo ou de dinheiro.


Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil Edição: Maria Claudia
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