Não bastassem as demissões e o aumento constante de cobranças por cumprimento de metas – inclusive com ameaças aos bancários – o Santander resolveu, agora, questionar se trabalhadores aceitariam se “voluntariar” a abrir mão de parte de salários e benefícios para trabalhar em home office. Funcionários da TI que atuam no prédio Geração Digital foram convocados a responder uma pesquisa para saber quais deles aceitariam perdas de direitos.
Em uma live realizada nos últimos dias, o presidente do Santander no Brasil, Sérgio Rial, já havia afirmado o interesse do banco em manter trabalhadores em home office permanentemente, e não descartou cortes de verbas para estes bancários.
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“Se tudo isso [o home office] te poupa tempo, você deixa de gastar combustível, tua vida fica mais fácil, até sob o ponto de vista econômico, por que não dividir alguma coisa dessas com a empresa? Por que não pode ser voluntário com alguma abdicação de algum benefício, de algum salário desde que seja voluntário?”, disse o banqueiro durante a transmissão.
“A resposta é simples: porque o Santander já tem um lucro bilionário, que cresce ano a ano, graças ao sacrifício dos trabalhadores. Porque os bancos já receberam aporte financeiro do governo federal - ou seja, dinheiro público – para enfrentar a crise. Agora querem abocanhar também os salários e benefícios dos trabalhadores”, criticou a dirigente sindical Maria Rosani, bancária do Santander. “A proposta do é indecorosa e descolada da realidade. Primeiro porque o custo do home office não é menor: tem custos de equipamento, internet e outros insumos, que até o momento o banco não fez proposta para arcar com isto no Brasil como fez na Argentina, onde há remuneração para isso. Segundo porque não existe contexto para redução salarial já que não haverá redução do trabalho”, completou.
Os trabalhadores que receberam a pesquisa estão sendo cobrados a responder por vídeo aos questionamentos, diretamente para os gestores, o que gera constrangimento e configura abuso e assédio.
“A consulta por si só já sugere uma implementação, sem nenhuma negociação prévia com o Sindicato o que fere o direito de organização e de negociação coletiva, previstos em compromissos internacionais dos quais o Santander é signatário. Ainda mais forçando a responder por vídeo, em uma situação constrangedora e humilhante. O Sindicato fará tudo que for possível para barrar essa vergonha, mas é fundamental que os trabalhadores participem e se manifestem”, convocou Rosani.
Na última terça-feira 16, o Sindicato lançou, em conjunto com outras entidades representativas dos funcionários do banco, a campanha “Santander, quero paz”. O lançamento no Twitter mobilizou bancários, trabalhadores de outras categorias e clientes de tal modo que a hashtag da campanha #SantanderRespeiteOBrasil foi um dos assuntos mais comentados na rede naquela tarde.
*Ocupado ou produtivo?*
Na mesma live, Sergio Rial também dá declarações sugerindo que estar ocupado não necessariamente significa ser produtivo. “A gente tem que diferenciar estar ocupado e ser produtivo. Estar ocupado não é necessariamente começar uma call às 7 da manhã e terminar às 8 da noite esgotado. Pode ser que em alguns casos não tenha realizado nada que seja relevante para o cliente”, disse.
“A postura do Rial é de total desrespeito com os trabalhadores que estão sendo massacrados no dia a dia dentro banco, mesmo os que estão em home office. O tal ‘motor de vendas’ está sufocando os trabalhadores, que ainda são ameaçados de demissão. E agora mais esta leva de desrespeitos, com frases absurdas e uma proposta ultrajante de redução salarial”, concluiu Rosani.