Bancários de todo o país, reunidos na capital paulista, aprovaram, neste domingo 9, a pauta de reivindicações da categoria, que será entregue à Fenaban (federação dos bancos) para dar início às mesas de negociação da Campanha Nacional Unificada 2024. Entre as prioridades estão: aumento real de 5%, manutenção dos direitos e defesa dos empregos. A 26ª Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro iniciou na sexta-feira 7 e encerrou-se neste domingo, reunindo 632 delegados de norte a sul do país.
“Chegamos ao fim da nossa Conferência Nacional com uma pauta construída democraticamente, que toma como base uma consulta nacional à categoria, e as conferências regionais de bancários em todo o país. É, portanto, uma pauta que reflete as reais necessidades e questões enfrentadas pelos bancários e bancárias nos locais de trabalho. É com essa minuta que vamos às rodadas de negociação com os bancos, fortalecidos pela grande representativa e legitimidade das nossas reivindicações”, disse Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato e uma das coordenadoras da Comando Nacional dos Bancários, que representa a categoria na mesa de negociação com a Fenaban.
Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato e uma das coordenadoras do Comando
A dirigente também destacou a qualidade dos debates ocorridos na Conferência e ressaltou que, para além de salários e empregos, a Campanha dos Bancários também defende questões cruciais para o país. “Fizemos aqui muitos debates importantes, que nos possibilitou uma análise sobre o cenário político e econômico no qual se dará nossa Campanha. Mostramos nossa capacidade de organização e saímos daqui fortalecidos, na certeza de uma Campanha vitoriosa”. Ela ressaltou que a defesa dos empregos é uma questão fundamental para os bancários de bancos privados, que vivem constantemente sob o medo de serem desligados.
Lembrou ainda que é fundamental discutir a tecnologia e a digitalização dos bancos e a regulamentação do sistema financeiro: “O que estamos vendo é um avanço das startups sem qualquer regulamentação e os bancos grandes querendo imitá-las com demissões e precarização dos empregos. Temos também que lutar contra a autonomia do Banco Central e contra os juros altíssimos que o atual presidente do BC insiste em manter e que impedem o desenvolvimento do país.”
Neiva chamou atenção ainda para a necessidade de mobilização. “É preciso, mais do que nunca, que nós, bancárias e bancários, estejamos unidos e atentos a cada etapa da Campanha e sempre prontos para a mobilização, seja nas ruas, seja nas redes sociais. Juntos vamos lutar por valorização; por nossos empregos; pelo fortalecimento dos bancos públicos, fundamentais para o desenvolvimento com redução das desigualdades; pelo combate às metas abusivas e ao assédio moral; e para manter e avançar nos direitos previstos na nossa CCT nacional. Vamos à luta!”
“Os debates que realizamos aqui nesses três dias de conferência sintetizaram as propostas trazidas desde nossas bases pela Consulta Nacional e conferências regionais e estaduais, que foram realizadas em todo país e se somam às resoluções dos congressos e encontros específicos de trabalhadores de cada banco”, explicou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, Juvandia Moreira. “Faremos uma campanha que dialoga com os anseios da categoria e que nos levará, mais uma vez, à manutenção dos direitos garantidos em nossa CCT, à novas conquistas e ao aumento real, além de avanços nas pautas que são de toda a sociedade, como a redução da desigualdade social e econômica”, disse Juvandia. “Todas essas lutas nos conectam! E vamos juntos reconstruir o país que valoriza a classe trabalhadora e a população mais carente de nosso país”, concluiu.
Eixos da Campanha
Foi aprovado que a Campanha terá como eixos:
- Aumento real e ampliação de direitos;
- Fim do assédio e dos Instrumentos Adoecedores na Cobrança de Metas.
- Representação de todos os Trabalhadores do Ramo Financeiro;
- Defesa dos empregos, impactos dos avanços tecnológicos no trabalho bancário;
- Redução da taxa de juros para induzir o crescimento econômico e geração de emprego e renda;
- Reforma tributária: tributar os super ricos e ampliar a isenção do IR na PLR;
- Fortalecimento das entidades sindicais e da negociação coletiva;
- Ampliação da sindicalização;
- Fortalecer o debate da importância das eleições de 2024 para a Classe Trabalhadora na defesa de seus direitos e da Democracia, eleger candidatos e candidatas que tenham compromisso com esta pauta.
Moção
Houve ainda a aprovação de uma moção pelo fim do genocídio cometido contra o povo palestino.
Consulta Nacional
Como em toda a Campanha dos Bancários, o debate e a construção da pauta de reivindicações toma como referência os dados coletados na Consulta Nacional à categoria. Os dados da consulta foram tabulados e apresentados na Conferência Nacional.
Este ano, foram ouvidos 46.824 bancários e bancárias de norte a sul do país, entre 17 de abril a 2 de junho, um número expressivo de participantes. A maioria das questões do formulário era de múltipla escolha, com possibilidade de apontar até três delas.
Para as cláusulas econômicas, as três principais prioridades apontadas foram: aumento real nos salários (93%), aumento na PLR (63%) e aumentos nos VA e VR (51%).
Já para as cláusulas sociais, as três maiores prioridades foram: a manutenção dos direitos (70%), do emprego (49%) e o combate ao assédio moral (45%). O percentual dos que apontaram o assédio aumentou em relação à consulta do ano passado: em 2023, foram 31%. Esse ponto mereceu destaque durante a apresentação dos dados e foi frisado como um sinal de alerta de que a luta contra o assédio moral, há anos travada pelo movimento sindical, é cada vez mais entendida como importante para a categoria.
Saúde
Ao responderem sobre os impactos da cobrança excessiva de metas, os bancários e bancárias apontaram que as três principais eram: preocupação constante com o trabalho (67%), cansaço e fadiga constantes (60%) e desânimo e vontade de não ir trabalhar (53%).
Foi perguntado se o bancário ou bancária havia usado remédios controlados (antidepressivos, ansiolíticos, estimulantes) nos últimos 12 meses e 39% responderam que sim, um percentual bastante alto, consequência do fato de os bancários serem uma das categorias que mais adoecem psiquicamente.
Outro dado importante da consulta foi sobre assédio sexual: 33,4% responderam já ter sofrido ou presenciado algum caso de assédio sexual em seu local de trabalho, ou seja, 1/3 dos participantes, o que demonstra o empenho acertado do movimento sindical ao discutir o problema na mesa com a Fenaban, com avanços já na CCT.
Quando questionados sobre quais medidas deveriam ser adotadas para um ambiente ético, cooperativo e respeitoso nos bancos, os participantes apontaram como as três principais: a definição das metas levando em consideração porte, região, perfil de clientes e número de empregados na unidade (51%); que as metas deveriam ser readequadas em caso de redução de funcionários (46%); e a maior participação dos bancários na definição das metas e dos mecanismos de sua aferição (38%).
Endividamento
A consulta deste ano incluiu questões sobre o endividamento da categoria e 71% disseram ter dívidas, um percentual alto e que se aproxima do percentual de endividamento das famílias brasileiras (78,8% segundo pesquisa feita pela Confederação Nacional do Comércio).
Luta
Sobre o financiamento da luta para manutenção e conquistas de direitos, 92,4% acredita que deve ser responsabilidade de todos os bancários, pois todos se beneficiam das conquistas. Apenas 6,8% acreditam que somente sócios dos sindicatos devem financiar a luta.
A Consulta também questionou a forma preferida de participação nas assembleias: a grande maioria (87%) prefere participar por meio virtual/remoto, com votação por plataformas digitais na internet; apenas 12% prefere participar preferencialmente.
Reforma tributária e eleições
A categoria foi convidada a avaliar o grau de importância de alguns pontos referentes à reforma tributária e avaliou como:
- muito importante (85%) e importante (11%) a ampliação da faixa de isenção do imposto de renda (IR) na PLR. Para apenas 2% é pouco importante e para 1% não tem importância;
- muito importante (74%) e importante (19%) a isenção do IR para quem recebe salário de até R$ 5 mil. Pouco importante para 4% e para 2% não tem importância;
- muito importante (69%) e importante (16%) a cobrança do imposto sobre grandes fortunas (pessoas físicas com riqueza acima de R$ 10 milhões). Para 8% é pouco importante e para 7% não tem importância.
Com relação às eleições municipais, 74% avaliam como muito importante eleger candidatas e candidatos comprometidos com as pautas dos trabalhadores para as prefeituras e câmaras municipais e 18% avaliam como importante. Apenas 4% avaliam como pouco importante e outros 4% avaliam que não tem importância.
Mídia da Campanha
No domingo, também foi apresentada pela Contraf-CUT a proposta de mídia da Campanha.