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Represas perdem 14 bilhões de litros em sete dias

Linha fina
Esse é o saldo apresentado pelos reservatórios que abastecem a grande São Paulo entre 15 e 22 de julho; por um lado a Sabesp não ajuda na preservação de mananciais, apontada por estudioso como origem do problema, e por outro não trata o esgoto, situações que reduzem oferta de água limpa
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São Paulo – As represas que abastecem a Grande São Paulo perderam 14 bilhões de litros de água entre 15 e 22 de julho. A falta de chuva é apontada como a responsável pela situação que vai agravar ainda mais o já crítico quadro de desabastecimento na região. Por trás disso tudo existe um fator ainda mais preponderante, segundo o pesquisador e consultor na área de recursos hídricos Renato Tagnin: a degradação do meio ambiente.

“A água que está aí existe desde o tempo dos dinossauros, mas para ela se renovar depende de um monte de fatores como a preservação da vegetação, que mantém a umidade e regula as chuvas, e para isso são necessárias áreas naturais protegidas. À medida que a gente destrói essas condições, a regularidade das chuvas vai se perdendo e a oferta de água limpa também”, afirma.

E a Sabesp e o governo do estado têm sua parcela de culpa neste processo, afirma Tagnin. “A empresa enxerga a água apenas como recurso, mas sabe da importância dos mananciais protegidos, só que isso não se faz de graça. Há muito tempo não se aplica dinheiro na proteção das áreas vegetadas dos mananciais.”

A compensação financeira aos municípios afetados economicamente pela criação e preservação de mananciais está garantida inclusive por lei (9866/97), para evitar que as cidades busquem alternativas de desenvolvimento que possam prejudicar a produção de água limpa.  Só que isso não é cumprido, segundo Tagnin.

Esgoto sem tratamento – Para piorar, a Sabesp não é capaz de tratar todo o esgoto produzido, mesmo com a população pagando pelo serviço. Metade do valor da conta de água é destinado para esse fim. Ou deveria ser. O despejo de esgoto sem tratamento diretamente nos rios e mananciais diminui a oferta de água limpa.
Segundo levantamento do Instituto Trata Brasil com base em dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), a Sabesp perde 36% da água devido a vazamentos na distribuição, ligações clandestinas, roubos e falta de medição, e trata apenas 52% do esgoto em SP.
A companhia é alvo de uma ação do Ministério Público do Estado que pleiteia indenização de R$ 11,5 bilhões da companhia pelo despejo de esgoto sem tratamento nos rios e represas da região metropolitana de São Paulo

“A Sabesp não produz água, ela dá um trato e distribui. Mas parte do dinheiro das contas que pagamos não está indo para esses serviços, porque a empresa continua pagando dividendo para acionista e bônus para diretor ao invés de investir em contenção de vazamentos e em proteção de ecossistema que renovam a água. Temos que investir mais na origem do problema. Tivemos que chegar ao limite para a ficha cair, mas parece que do lado de lá ainda não caiu.”

De acordo com relatório de sustentabilidade da Sabesp referente a 2014, sete diretores receberam, em plena crise de abastecimento, bônus de R$ 504 mil cada um pelo desempenho à frente da companhia. Além disso, a empresa vai pagar a cerca de cinco mil acionistas R$ 252,3 milhões em juros e dividendos relativos a 2014. O governo paulista é o maior deles, detendo 50,3% do total dos papéis.


Rodolfo Wrolli – 24/7/2015
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