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Chapéu
Júlio Lancellotti

Temos de reagir. Num dia é o pobre e no outro são todos

Linha fina
"O que o prefeito precisa fazer é dar ordem para não tirar os cobertores. Porque tem muitas pessoas que estão dando cobertores e tem um grupo só que tira: a prefeitura de São Paulo"
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Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil

São Paulo – “O que o prefeito precisa fazer é dar ordem para não tirar os cobertores. Porque tem muitas pessoas que estão dando cobertores e tem um grupo só que tira: a prefeitura de São Paulo." É assim que o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, avalia a ação do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que na quarta-feira 19 distribuiu cobertores a moradores de rua. A iniciativa aconteceu após a repercussão negativa do episódio em que a equipe de limpeza urbana da prefeitura acordou pessoas em situação de rua na Praça da Sé com jatos de água.

"Tristemente, a limpeza urbana jogou água fria nos moradores de rua que estavam lá e o prefeito disse que foi por acaso, que erraram o alvo. É inaceitável. Há um decreto nesse sentido de tirar as coisas do povo da rua durante o inverno e só tem uma palavra para explicar isso: covardia", aponta o religioso, em entrevista concedida à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual.

O padre também comentou a respeito da retirada dos pertences de moradores de rua feita pela prefeitura. Em 21 de janeiro, Doria alterou decreto do ex-prefeito Fernando Haddad (PT) que proibia a Guarda Civil Metropolitana de recolher colchões e cobertores. "Pedi, supliquei, exigi que não se tirem as coisas dos moradores de rua, especialmente no inverno. Não é para ser feito nunca, mas no inverno significa iniquidade. Mais do que o prefeito sair pela rua dando cobertores, ele tem que sair exigindo que os funcionários da prefeitura não tirem remédios, cobertores, calçados, agasalhos. Isso é crime de lesa-humanidade."

Negão - Lancellotti, que participou ontem da missa de sétimo dia em homenagem a Ricardo Silva Nascimento, o Negão, morto pela polícia na semana anterior, analisou como um fato positivo moradores do bairro de Pinheiros, de classe média, terem reagido contra o assassinato do catador.

"Foi uma coisa muito boa esse grupo ter reagido, e por isso eles tiraram rapidamente o corpo de lá. A reação estava muito forte e ontem também o povo da rua reagiu quando foram distribuir cobertores na Marechal Deodoro. Aqueles mesmos que tiram, o povo disse para ir embora. E aconteceu isso em Pinheiros, a população se revoltou e a população tem que reagir, porque num dia é o pobre e no outro são todos", pondera. "Essa cidade será linda e humana se os pobres forem defendidos".

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