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Chapéu
Trabalhadoras do Campo

Pela transformação na vida e no trabalho, margaridas irão à Brasília pela 6ª vez

Linha fina
Em 2019, as trabalhadoras vão denunciar, nos dias 13 e 14 de agosto, os retrocessos do último período e dizer qual país elas precisam para viver e trabalhar com dignidade
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Foto: MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL

O que move milhares de trabalhadoras rurais a participar da Marcha das Margaridas, organizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), é a certeza de que a ida à capital federal mudará a realidade do trabalho e da vida das camponesas de todos os cantos do país.

A reportagem é do Portal CUT.

“É a certeza de que só a luta e a resistência, a persistência e a coragem podem transformar vidas daquelas que eram  invisíveis para o estado brasileiro”, afirma a vice-presidenta da CUT, Carmen Foro.

E ela fala com a propriedade e experiência de uma agricultora familiar do Pará que participou da primeira marcha no ano de 2000, época em que cuidava de suas terras em Igarapé Miri. “a marcha é capaz de mover nosso coração, nossa alma, é uma paixão verdadeira para transformar o país”.

Isso acontece de quatro em quatro anos, quando camponesas de todos os sotaques - do sertão, do sul, do norte, de todas as regiões do Brasil - cruzam céus, rios e terras para “florir” Brasília. As trabalhadoras rurais pegam seus colchonetes, suas roupas, utensílios de higiene pessoal, cobertor, medicamentos, protetor solar, bonés e o chapéu de palha com sua margarida de enfeite, se organizam em caravanas e vão marchar nas ruas de Brasília para lutar pelos seus direitos. Até chegar a capital federal, seguem de barco, de ônibus, de carona e até de avião.

Pelo que elas lutam?

Diferente dos que vivem na cidade, no meio rural não se reivindica salários se reivindica casa boa para morar, galinha no quintal, uma estrada para ir e vir à cidade para vender a produção, transporte, escolas e postos de saúde perto de onde moram e produzem.

Elas lutam por um conjunto de políticas públicas básicas para uma vida e trabalho dignos, porque a agricultura familiar é um modo de vida e trabalho. É uma produção que envolve membros de uma família e precisa ter a presença do Estado para garantir condições dignas de vida e produção de alimentos saudáveis.

A secretária da Saúde do Trabalhador da CUT, Madalena Margarida da Silva, que também é agricultora familiar de Pernambuco, ressalta a solidariedade e união das margaridas de todos os cantos do Brasil.

“Há uma teia, uma rede de centenas e milhares de mulheres que estão fazendo o debate nas suas comunidades rurais, nos movimentos de mulheres, nas periferias e que de algum jeito constroem coletivamente a ida das mulheres à Brasília”.

Segundo Madalena, elas fazem atividades, bingos, jantares, vendem rifas, fazem eventos, pedem para os amigos para conseguir ir à marcha e potencializar as denúncias de todas as formas de violência e retrocessos que vivem.

“Tem um boneco do capital governando o país que está destruindo nossas riquezas, privatizando as empresas públicas, destruindo a amazonas, as políticas públicas que conquistamos”, diz Madalena se referindo ao governo de Jair Bolsonaro (PSL).

“E a marcha é luta, enfrentamento, resistência e também denúncia de toda forma de retrocesso e opressão que o governo está fazendo contra a classe trabalhadora, em especial da vida das mulheres rurais”, finalizou Madalena.

Margaridas vão denunciar retrocessos

A “6ª Marcha das Margaridas de 2019, por um Brasil com Soberania, Democracia, Justiça, Igualdade e Livre de Violência” acontecerá entre os dias 13 e 14 de agosto, em Brasília, e terá uma característica de denúncia de retrocessos e também de reivindicação do país que as camponesas querem.

“Tivemos perdas profundas nos direitos da classe trabalhadora, mais especificamente das trabalhadoras rurais. Sabemos que não é esse país que queremos, mas também sabemos que as nossas reivindicações não podem ser entregues a um governo que não dialoga com os trabalhadores e trabalhadoras”, afirmou a vice-presidenta da CUT, Carmen Foro.

“A ideia é fazer uma plataforma geral para dizer o que pensamos para o país e denunciar o que foi desmontado, porque queremos soberania, democracia, justiça, igualdade e um povo livre de violência, tudo que está sendo destruído por este governo que também quer nos matar”, frisou Carmen, se referindo ao apoio do governo ao agronegócio,  a liberação de mais de 260 tipos de venenos e do porte de armas aos fazendeiros.

História e conquistas da Marcha das Margaridas

Organizada pela Contag para ser realizada de 3 em 3 anos, a Marcha das Margaridas teve sua primeira edição no ano de 2000 e mesmo com a reação do então presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) de receber a pauta das camponesas e engavetar, a mobilização em Brasília naquele ano foi considerada um sucesso no sentido de organização e fortalecimento da luta das mulheres do campo.

De acordo com Carmen, essa primeira marcha tirou as mulheres do campo da invisibilidade total ao ocupar a capital do Brasil num período de muita fome e de uma situação extremamente difícil.

Mas, na volta aos seus estados, as trabalhadoras rurais perceberam a grande  conquista: a organização de base das mulheres do campo.

Com Lula, surgiu o diálogo

Já em 2003, como secretária de mulheres da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Pará (FETAGRI-PA), Carmen disse que a mobilização para a Marcha das Margaridas foi muito maior. Só do Pará, a quantidade de ônibus foi 20 vezes maior. Além da capacidade de organização e luta ter aumentado, as mulheres do campo encontrariam outro governo em Brasília.

“Mesmo com o orçamento ainda do governo anterior, o governo do presidente Lula abriu definitivamente o diálogo com as trabalhadoras rurais. Não só nas marchas, mas sempre que precisamos discutir melhorias para nossa categoria, Lula abria as portas do Planalto para gente”, afirmou Carmen.

Em 2005, a dirigente CUTista assumiu a direção da Contag e alterou o período de realização da Marcha das Margaridas para 4 em 4 anos. Assim, a Marcha voltou a acontecer somente em 2007.

Diálogos se transformam em políticas

Entre os anos de 2007 e 2011, os diálogos foram se transformando em políticas de governo e as trabalhadoras rurais viram suas vidas melhorando, com a Política Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural e a Titulação de Terras em nome das mulheres.

Em 2011, a Marcha das Margaridas foi recebida pela presidenta Dilma Rousseff, primeira mulher presidenta do Brasil, que chegou a anunciar o Plano Nacional de Agroecologia, uma demanda das trabalhadoras rurais. Até 2014, as camponesas foram ouvidas e conseguiram ampliar várias políticas com recorte de gênero.

Depois do golpe

Mas a partir de 2015, as políticas públicas para a categoria  começaram a se desmanchar por falta de orçamento. Depois do golpe a situação só piorou para as trabalhadoras rurais.

Com o governo do ilegítimo e golpista de Michel Temer (MDB-SP) e agora com Bolsonaro, as políticas do campo quase não existem mais. E é neste cenário que as Margaridas vão florir Brasília.

Para a secretária da Juventude da CUT, Cristiana Paiva, que também é agricultora familiar em Roraima, os retrocessos e os ataques deste governo contra a classe trabalhadora não vão enfraquecer a marcha, pelo contrário.

“As trabalhadoras rurais são mulheres ousadas e levam com elas a força e representatividade de Margarida Alves, que morreu lutando por direitos e justiça. Brasília ficará florida e receberá milhares de trabalhadoras que não querem este país e sim um lugar que possam viver e trabalhar com dignidade”, afirmou Cristiana.

Homenageada da Marcha das Margaridas

  A Marcha das Margaridas é homenagem das trabalhadoras rurais a sindicalista Margarida Maria Alves, que foi assassinada por um matador de aluguel, na porta da sua casa, aos 40 anos, no dia 12 de outubro de 1983.

 A paraibana foi morta por lutar pelos direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores rurais de Alagoa Grande, por lutar pela reforma agrária, pelo direito à terra, igualdade entre as pessoas, por denunciar abusos e desrespeitos aos direitos da classe. Hoje, Margarida Alves é um símbolo da maior ação de mulheres do campo da América Latina.

 A líder sindical paraibana disse em um discurso de comemoração pelo 1° de maio, Dia Internacional do Trabalhador e da Trabalhadora, que era melhor morrer na luta do que morrer de fome.

Trinta e seis anos depois de sua morte, as palavras de Margarida Maria Alves ainda ecoam entre as mulheres trabalhadoras rurais e dão força para a luta diária por representatividade e melhores condições de trabalho e de vida no campo.

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