Os planos do governo para privatizar o banco público estão sendo colocados em prática. A agenda de venda das subsidiárias foi ampliada e o presidente da empresa, Pedro Guimarães, já sinalizou a abertura de capital da Caixa para outubro deste ano. As outras subsidiárias na lista da privatização são Cartões, Loterias e a gestão de ativos, já para 2021. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, Guimarães colocou mais um nome no pacote, o banco digital, que está sendo usado para o pagamento do auxílio emergencial. A plataforma poderá ser transformada em uma nova subsidiaria e teria o capital aberto também no ano que vem.
Ao abrir o capital de partes estratégicas da Caixa, o governo privatiza e enfraquece o papel social do banco. A situação é ainda pior neste momento de crise. Com a instabilidade do mercado, a Caixa poderá ser vendida por valores bem abaixo do que realmente vale. Para o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Sérgio Takemoto, a abertura de capital é a privatização do banco. “A abertura de capitais é o enfraquecimento brutal da Caixa e isso para nós é a privatização. Por isso somos contra”, afirmou.
Ainda segundo Takemoto, a população será a mais atingida se a Caixa perder suas subsidiárias. São essas áreas que permitem que o banco financie menores taxas para a compra da casa própria e realize a operação de toda a área social, como benefícios ao trabalhador, acesso a produtos e serviços por meio da bancarização, além do Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), por exemplo.
“Uma série de programas sociais são beneficiados com a arrecadação das loterias. 40% do que é arrecadado nas Loterias, por exemplo, vão para programas sociais, como o Fies. É um prejuízo muito grande para a população e para o Estado essa abertura de capitais”, defendeu.
Ao jornal Metrópoles, Pedro Guimarães chegou a afirmar que o “banco em si” pode enfrentar o processo de abertura de capital, caso o modelo funcione bem com as subsidiárias. “Mas podemos, no futuro, considerar sim uma abertura de capital. Para isso, temos que primeiro fazer abertura das subsidiárias e ver a reação”.
Para o presidente da Fenae, ao fazer o IPO o que irá prevalecer serão os interesses dos acionistas. “A empresa deixa de ter o interesse social e da população e passa a trabalhar única e exclusivamente para os interesses dos acionistas, ou seja, o lucro a qualquer custo, sem se preocupar com o social”, afirmou.
A representante dos empregados da Caixa no Conselho de Administração, Rita Serrano, também vê com preocupação a decisão dos IPOs das subsidiárias. “Privatizar as operações da Caixa é privatizar o banco. O que o banco arrecada gerenciando sozinho com essas operações será partilhado com acionistas privados e o único interesse de um acionista privado é o lucro. Não há interesse no desenvolvimento do país, em programa social”, ressaltou Rita.
Defesa da Caixa 100% pública
A Fenae e as entidades representativas dos bancários têm mobilizado os trabalhadores e a sociedade contra a privatização da Caixa e das áreas estratégicas. A campanha #ACaixaÉTodaSua está ativa em todo país alertando sobre o papel social do banco público e os prejuízos que a venda das partes lucrativas do banco público causaria ao país. Em sua segunda etapa, a campanha reforça o trabalho essencial dos empregados na linha de frente do auxílio emergencial.
A Federação também encaminhou carta ao Presidente da República solicitando que não sejam vendidas as partes rentáveis da Caixa e de outras empresas públicas.
Diante dos ataques frequentes à Caixa e as empresas públicas, a Fenae e demais entidades representativas dos empregados da Caixa se engajaram na campanha “Parem de vender o Brasil”, com o objetivo alertar sobre os prejuízos que a privatização das estatais pode trazer ao país. Uma das iniciativas é o apoio ao Projeto de Lei 2715, que suspende as privatizações até 2022. O PL, de autoria do deputado Enio Verri (PT) e das deputadas Perpétua Almeida (PCdoB-AC), Fernanda Melchionna (PSOL-RS) e Joenia Wapichana (Rede-RR), visa impedir o avanço dos planos privatistas do governo Bolsonaro durante a pandemia da Covid-19.
Linha fina
Venda enfraquece o papel social do banco público e compromete os investimentos em desenvolvimento no país
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