Entregadores de todo o Brasil que atendem aplicativos como iFood, Uber Eats e Rappi fizeram a primeira greve da categoria nesta quarta-feira 1º de julho por melhores condições de trabalho, saúde e segurança. Eles reivindicam aumento na remuneração das corridas e o fim dos bloqueios indevidos nas plataformas, dentre outras exigências. O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região apoia a manifestação.
Ao longo do dia, foram realizadas manifestações em diversas cidades do país. Segundo a Rede Brasil Atual, comboios, paralisações e bloqueios em centro de distribuições estão entre as ações registradas pelos trabalhadores. Em São Paulo, após percorrer diversas regiões, eles se encontraram na Avenida Paulista, no início da tarde, em frente ao Masp.
Nas redes sociais, é usada a hashtag #BrequeDosApps em apoio à manifestação. A greve foi um dos assuntos mais comentados do dia no Twitter.
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O protesto, que pretendia contar com a colaboração e a compreensão dos consumidores (os trabalhadores pediam que não se fizesse pedido de entrega de comida durante esta quarta-feira nas plataformas digitais), também foi um alerta contra o projeto neoliberal, que se alimenta de crises para beneficiar grandes empresas, precarizar as relações de trabalho e retirar direitos históricos conquistados pela classe trabalhadora.
Paulo Roberto da Silva Lima, o Galo, líder do movimento dos Entregares Antifascistas, afirma que as vidas dos ciclistas e motoboys que fazem os produtos chegarem aos consumidores não valem nada para os aplicativos. “O entregador é descartável. É como na música dos Racionais: o ser humano é descartável no Brasil”.
Em entrevista aos Jornalistas Livres nesta terça-feira 30, Galo disse que para os aplicativos importa apenas o cliente. “Se tiver algum problema com o cliente, ele vai para o concorrente. Já com o entregador, tem outros dez para entrar no lugar dele", enfatiza.
Na guerra pela concorrência, os aplicativos chegam a distribuir comida de graça para os clientes, na forma de cupons de desconto. A força do dinheiro é um dos fatores que dificultam a criação de um aplicativo autônomo, desenvolvido pelos próprios trabalhadores, que possa livrá-los da exploração, disse Galo. “Fico chateado, porque eles (os aplicativos) podiam dar comida para os entregadores também”.
Demanda cresce; rendimento cai
Apesar do aumento da demanda para as plataformas de entrega durante a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), por conta do número maior de pessoas em casa, o rendimento médio dos trabalhadores dessas empresas; como Rappi, Ifood e Uber Eats; diminuiu. De acordo com Ana Claudia Moreira Cardoso, pesquisadora e professora do programa de pós-graduação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), essa queda se deve a alguns fatores combinados: redução dos bônus e dos períodos de tarifas dinâmicas (remuneração que varia de acordo com a demanda e o número de entregadores numa determinada região), aumento do número de entregadores e crescimento do número de bloqueios realizados arbitrariamente pelas plataformas de entrega.
Segundo a pesquisa Condições de Trabalho de Entregadores via Plataforma Digital Durante a Covid-19 (a qual 252 entregadores de 26 diferentes cidades brasileiras responderam um questionário online), 52% dos entregadores entrevistados afirmaram que, durante a pandemia, estão trabalhando os sete dias da semana; e 56,4% que têm uma jornada de 9 ou mais horas por dia. Entretanto, apesar da extensa jornada de trabalho, cerca de 60% relataram uma queda em sua remuneração no contexto da pandemia.
Sindicato apoia a paralisação
Para a secretária-geral do Sindicato, Neiva Ribeiro, a luta contra a precarização e por melhores condições de saúde e segurança dos trabalhadores em plataforma é de todos. “Somos totalmente solidários com esta luta. Muitos de nós bancários, que têm um sindicato forte que negociou as condições e as garantias mínimas para 300 mil trabalhadores do setor estarem em home office durante a pandemia, além de outros setores da classe média, utilizam muito desses serviços. E isto nos permite trabalhar em casa com segurança e receber todo dia de serviço no conforto do lar”, salienta a dirigente.
Atento ao tema, em julho de 2019 o Sindicato dos Bancários promoveu um seminários sobre tecnologia e a precarização do trabalho.
“A contradição é que os trabalhadores em plataformas, que tanto facilitam e trazem segurança à vida de muitos, estão totalmente precarizados. Muitos entregam comida o dia todo enquanto estão com fome ou não conseguem dinheiro suficiente para levar alimento para casa. Essas empresas lucram muito, podem e devem remunerar melhor seus entregadores e dar segurança mínima para que eles exerçam sua função, essencial para tempos como estes de pandemia”, acrescenta.