
Mesmo trabalhando, em média, apenas três dias por semana, 70% dos deputados federais se posicionaram contra o fim da jornada 6x1 — uma das formas mais exaustivas e desumanas de organização do trabalho, de acordo com uma recente pesquisa Quaest. O projeto, que propõe uma escala mais justa e saudável, foi rejeitado por uma maioria parlamentar insensível à realidade de milhões de brasileiros e brasileiras que atuam no comércio, nos serviços e na indústria, enfrentando jornadas longas, folgas insuficientes e impactos severos na saúde física e mental.
Essa não é uma exceção. É parte de um padrão. O Congresso atual tem sistematicamente apoiado pautas impopulares, como o fim da política de valorização do salário mínimo;a desvinculação dos benefícios previdenciários da regra de reajuste do salário mínimo; a redução dos pisos constitucionais da saúde e da educação; nova reforma da Previdência e a reforma administrativa que desmonta o serviço público.
Essas propostas têm em comum o objetivo de cortar direitos da população em nome de um ajuste fiscal que poupa os mais ricos. Enquanto isso, propostas de justiça tributária — como taxar grandes fortunas, heranças, lucros e dividendos — enfrentam resistência feroz da maioria dos parlamentares.
A crítica ao governo Lula feita por esses mesmos deputados, portanto, não tem legitimidade popular. Eles representam um Congresso onde grande parte dos parlamentares é composta por empresários, grandes proprietários de terra, banqueiros, pastores e representantes diretos do capital. Essa elite legislativa não fala em nome do povo, mas sim em nome de seus próprios interesses e dos setores econômicos que financiam suas campanhas.
Um governo eleito com uma plataforma popular e progressista é bombardeado por uma Casa Legislativa que não representa o Brasil real, aquele das trabalhadoras domésticas, dos operários, dos bancários, das comerciárias, dos entregadores e servidores públicos.
O que está em disputa é o modelo de país. O Brasil que a maioria dos deputados quer manter é excludente, injusto e desigual. Já os movimentos sociais e sindicais defendem um Brasil que valorize o trabalho, distribua renda e amplie direitos.
A luta por condições de trabalho dignas, como o fim da jornada 6x1, faz parte dessa disputa. Assim como a defesa da reforma tributária solidária, da valorização do salário mínimo e da revogação de medidas que penalizam a população.
O povo trabalhador já mostrou nas urnas qual projeto quer para o país. O Congresso precisa ouvir a voz das ruas — não apenas a voz do mercado.
