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São Paulo tenta superar modelo carrocêntrico

Linha fina
Secretário municipal de Transportes fala sobre inversão de prioridade na mobilidade urbana: pedestres, ciclistas e transporte público têm de vir antes dos carros
Imagem Destaque
São Paulo – “O problema do trânsito de São Paulo não é a falta de espaço. Espaço tem. O problema é a quantidade de carros. E se continuar assim a cidade vai travar. Então a solução é democratizar o espaço viário.” A defesa é do secretário municipal de Transporte, Jilmar Tatto, durante debate sobre mobilidade urbana no Auditório Azul do Sindicato, na noite de quinta-feira 13. Tatto ilustrou sua afirmação com uma foto da Radial Leste, em pleno horário de rush. “Nesta foto contamos 18 ônibus, que transportam 864 pessoas; 210 carros, transportando 294 pessoas, 28 motos e oito caminhões. Os ônibus transportam 7,7 vezes mais pessoas, com cinco vezes menos poluição”, informou.

Para um público formado principalmente por representantes de movimentos sociais e líderes comunitários, Tatto falou sobre inversão de prioridade, numa tentativa de superar o chamado carrocentrismo – a adoção do automóvel individual como forma predominante de transporte. “Nossa prioridade é o pedestre, seguido do ciclista e do transporte público, só depois vêm automóveis e motocicletas.”

Entre as ações da prefeitura para melhorar a mobilidade urbana ele citou a construção dos corredores exclusivos de ônibus (386 quilômetros implantados); as ciclofaixas e ciclovias (238 quilômetros de vias concluídas); a nova licitação para ônibus, que irá reorganizar o serviço em toda a cidade – a prefeitura prevê aumentar a oferta de viagens em 24% e número de assentos em 13% –; o passe livre para estudantes de baixa renda; os ônibus noturnos e a decisão polêmica de reduzir a velocidade nas vias da capital.

Por enquanto, a velocidade foi reduzida apenas nas marginais Tietê (70 km/h na expressa, 60 km/h na central e 50 km/h na local) e Pinheiros (50 km/h na local e 70 km/h na expressa). Mas a intenção da prefeitura é promover a diminuição da velocidade nas vias arteriais da cidade até dezembro. “Todos os estudos comprovam: além de diminuir acidentes, a medida melhora a fluidez do trânsito”, destacou. Ele também anunciou que nos próximos dias, a prefeitura divulgará números surpreendentes sobre as consequências da redução, que tem sido constantemente criticada na mídia.

Convidado para o debate, o superintendente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Luiz Carlos Mantovani Néspoli, destacou que a mudança de lógica que a prefeitura vem fazendo demanda muito enfrentamento. “É preciso ter ousadia e enfrentar os descontentes porque é claro que isso vai mexer com hábitos arraigados.” E citou quatro medidas que considera essenciais para a cidade: o Plano Diretor Estratégico (sancionado pelo prefeito Fernando Haddad em julho de 2014); o Plano de Mobilidade Urbana, construído pela prefeitura após audiências públicas e consultas à população; a construção de ciclovias; e a redução do limite máximo de velocidade das vias. “São emitidas em média 1 milhão de carteiras de motorista por ano no estado de São Paulo. E quem são esses novos motoristas? São os jovens de  18, 19 anos, então os pais deveriam agradecer pela redução da velocidade porque isso torna o trânsito mais seguro para seus filhos. Temos que tornar a cidade mais humana, a cidade é para as pessoas que vivem nela”, concluiu.

A cicloativista Cyra Malta, também na mesa, ressaltou que a luta por ciclovias é antiga. “São anos e anos de mobilização, algumas prefeituras nos davam mais atenção, outras menos”, lembrou. Ela destacou que a construção de vias cicláveis pela prefeitura partiu de um compromisso assumido por Haddad ainda durante a campanha. “Haddad assinou a carta dos ciclistas, que reivindicava ciclovias. A gestão anterior fez ciclofaixa de lazer, a atual está construindo uma estrutura fixa que permite que o ciclista ande com segurança”, afirmou.


Andréa Ponte Souza – 14/8/2015
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