São Paulo – O BTG Pactual lucrou R$ 9 bilhões nos últimos dois anos. O resultado expressivo para um banco de médio porte foi obtido por meio de uma prática institucionalizada na empresa: a exigência de jornadas exaustivas, e o que é pior, gratuitas. O Sindicato recebe inúmeras denúncias de bancários que chegam a trabalhar até 16 horas diárias e até aos finais de semana, sem receber um centavo a mais por esse período extra trabalhado.
“Entro às 9h e saio às 20h, só que na folha de ponto tenho que colocar que saio às 18h. A gente tem que omitir as horas extras que eles nunca pagaram desde que eu entrei lá. Se tiver que bater a meta, tem que trabalhar sábado, domingo, feriado. Eles falam que é padrão, que todo mundo trabalha esse horário. Lá a gente é escravo”, relata uma funcionária.
O Sindicato denunciou o problema no final do ano passado e se reuniu com representantes do banco a fim de cobrar o fim desse desrespeito por meio da instalação de ponto eletrônico. Os integrantes do RH alegaram que o banco não paga hora extra porque “remunera bem seus funcionários” e que as jornadas extenuantes fazem parte da “cultura profissional” do banco, e que mudar essa política é difícil.
“Eles também alegam que em torno de 25% dos funcionários possuem ações do banco, portanto são banqueiros. Mas nós estamos cansados de ver ‘banqueiros’ do BTG na homologação porque foram demitidos, ainda mais recentemente”, relata a secretária-geral do Sindicato, Neiva Riberio.
Na mesma reunião, apresentaram algumas medidas que seriam tomadas: escalonamento das equipes e novas contratações; organização de escalas com pagamento de adicional; e treinamento de gestores. Solicitaram um prazo de três meses para implantá-las e se comprometeram a informar os funcionários a respeito das mudanças que seriam efetivadas.
Ponto eletrônico – “Além de não terem sido implantadas, essas medidas não são eficazes e não resolvem o problema. O Sindicato reivindica a implantação de ponto eletrônico, e que os bancários não tenham mais acesso ao sistema após o fim da jornada, para que não seja possível trabalhar de graça”, afirma Neiva Ribeiro.
O Sindicato novamente cobrou uma posição do banco. Na segunda reunião, ocorrida em 8 de junho, os representantes do banco deram as mesmas desculpas, apresentaram propostas idênticas e pediram novamente um prazo de 90 dias para implantá-las.
“Esgotamos todas as tentativas de negociação e diálogo. Vamos buscar outras alternativas e não vamos mais tolerar esses abusos e desrespeitos”, afirma Neiva. “Diante dessa postura, estamos tomando medidas jurídicas cabíveis. Quem trabalha de graça é máquina ou escravo”, protesta a Neiva.
Jornada é de seis horas – A legislação trabalhista estabelece que a jornada de trabalho é de oito horas diárias, ou 44 horas semanais, acrescida de duas horas extras diárias, no máximo.
Mas os bancários conquistaram, ao lado do Sindicato, a jornada de seis horas diárias de trabalho, em 1933, e os sábados de descanso, nos anos 1960. Tanto que, quando acionada, é recorrente a Justiça sentenciar como extras as duas horas a mais da jornada de oito horas que praticamente todo bancário cumpre.
É possível denunciar extrapolação da jornada de trabalho e outros abusos pelo 3188-5200, entrando em contato pelo SAC via WhatsApp: (11) 97593-7749 ou acessando Assuma o Controle. O sigilo é absoluto.