Pular para o conteúdo principal
Chapéu
MP 881

Trabalho aos sábados: CLT e CCT resguardam bancários

Linha fina
Ao aprovar MP 881, Senado barrou trabalho aos domingos, mas permitiu abertura de bancos aos sábados. Sindicato está mobilizado e destaca que a legislação e a convenção coletiva asseguram aos bancários a jornada com descanso aos finais de semana
Imagem Destaque
Foto: Roque de Sá/Agência Senado

O Senado aprovou, na noite dessa quarta-feira 21, a MP 881, mas retirou do texto seu ponto mais polêmico: o que liberava o trabalho aos domingos e feriados, sem necessidade de respeitar acordos trabalhistas, e sem a necessidade de pagamento de horas extras em dobro, que poderia ser substituído por uma folga em qualquer outro dia da semana, determinada pelo empregador.

Os senadores, entretanto, mantiveram os outros pontos do texto, inclusive a revogação da lei 4.178/62, que proíbe a abertura de bancos e outros estabelecimentos de crédito aos sábados e domingos. Esse ponto é mais uma ameaça à jornada da categoria bancária, determinada por lei (artigos 224 e 225 da CLT) e pela Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria, válida em todo o país.

A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, reforça que a legislação e a CCT resguardam a jornada dos bancários, e diz que a categoria, junto a seus sindicatos, estará mobilizada contra qualquer ameaça. “O artigo 224 da CLT é claro, e determina que o trabalho em bancos deve ser efetuado de segunda a sexta, ou seja, exclui sábados e domingos. Além disso, nossa CCT, que foi mantida em um acordo de dois anos, fechado na nossa campanha do ano passado, também assegura nossos direitos”, afirma a dirigente.

Ivone Silva: união e mobilização dos trabalhadores para barra retrocessos

Segundo ela, não é de hoje que as instituições financeiras tentam funcionar aos finais de semana, mas a categoria sempre se mobilizou para defender esse direito. “Os bancos há muito vêm fazendo lobbies para forçar seu funcionamento aos sábados. O Santander fez isso recentemente com a desculpa de oferecer ‘educação financeira’ a seus clientes. Nós conseguimos impedir essa iniciativa, assim como impedimos, em anos anteriores, tentativas similares de outras instituições financeiras. E mais uma vez estaremos organizados para garantir que nossos direitos sejam respeitados”, diz a dirigente.

A advogada Lúcia Porto Noronha, do escritório Crivelli Advogados Associados, que presta assessoria para o Sindicato dos Bancários de São Paulo, reforça que a categoria – formada por cerca de 485 mil trabalhadores em todo o país – está resguardada pela Consolidação das Leis do Trabalho e pela CCT, assinada em 2018 e válida até 31 de agosto de 2020. "Os bancos até poderão abrir aos sábados, mas os bancários não são obrigados a trabalhar", diz.

Governo e aliados não desistiram do trabalho aos domingos 

Com a retirada do trecho que acabava com as restrições para o trabalho aos domingos e feriados, continuam valendo as regras previstas atualmente na legislação trabalhista: a folga semanal deve ser no domingo, "salvo motivo de conveniência pública ou necessidade imperiosa de serviço"; e nesses casos, a empresa deve fazer uma "escala de revezamento quinzenal, que favoreça o repouso dominical". 

Esse ponto foi incluído na MP 881 pela Câmara dos Deputados, e tinha apoio do governo, mas enfrentou resistência no Senado. Diante disso, o Executivo preferiu recuar e aceitar sua retirada, já que se não fosse aprovada, a medida provisória perderia a validade no dia 27 de agosto. Como não houve mudança nem acréscimo ao texto, apenas uma retirada, ele não precisa voltar para a Câmara, e seguirá, portanto, para aprovação do presidente Jair Bolsonaro.

No entanto, nem governo Bolsonaro nem sua base aliada no Congresso desistiram da medida. No Twitter, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), disse que a permissão para trabalhos aos domingos e feriados será discutida futuramente em um projeto de lei.

“A retirada desse ponto foi uma vitória da mobilização do movimento sindical, que fez pressão sobre os parlamentares e se articulou com os deputados e senadores progressistas, mas sabemos que a ameaça está mantida. Desde o governo ilegítimo de Temer até o atual, os trabalhadores estão sendo atacados em seus direitos, seja com a aprovação da reforma trabalhista, seja com o atentado contra nossas aposentadorias, por meio dessa nefasta reforma da Previdência, que será votada no Senado. Mais do que nunca os bancários precisam estar organizados em seus sindicatos e precisamos nos unir às demais categorias para resistirmos a todos esses retrocessos”, ressalta Ivone Silva. 

seja socio