A ginasta Simone Biles, estadunidense de 24 anos, nesta Olimpíada do Japão abriu mão de diversas provas das quais era favorita ao ouro por conta de problemas psicológicos que, além de afetarem sua saúde mental, também prejudicam a capacidade da atleta de se orientar enquanto gira no ar.
O caso da atleta, multicampeã olímpica, colocou em evidência a importância dos cuidados com a saúde mental. No caso dos bancários, constantemente submetidos a um ambiente de enorme pressão e cobrança abusiva por metas, desde 2013 doenças psicológicas como depressão, ansiedade, pânico e burnout ultrapassaram as Ler/Dort como principais causas de afastamentos na categoria.
“O caso da Simone Biles na Olimpíada mostra o quanto os cuidados com a saúde mental são importantes, sendo você um atleta olímpico ou um bancário. Ignorar estes aspectos da nossa saúde pode trazer graves consequências. Parar e cuidar da nossa saúde mental não é de forma alguma um fracasso, uma derrota, e sim autocuidado e uma responsabilidade de todos os envolvidos. Nós vendemos nossa força de trabalho para o banco, não a nossa saúde. Nossa olimpíada acontece todos os dias e, infelizmente, permanecer saudável e no ‘pódio’, como o banco exige, não é nada fácil."
Carlos Damarindo, secretário de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato e bancário do Itaú
“O bancário não é uma máquina. Ele possui limites, que muitas vezes são ignorados pela gestão imoral e perversa do banco. Apesar disso, o bancário não deve nunca esconder sua condição de saúde para continuar trabalhando. Nossa Convenção Coletiva de Trabalho assegura direitos para os trabalhadores adoecidos, que podem e devem contar com o Sindicato”, acrescenta Damarindo, reforçando ainda que o Sindicato está em constante negociação com os bancos para buscar maneiras cada vez mais efetivas de combate à cobrança abusiva por metas e o assédio moral.
> Assédio moral? Não se cale, denuncie ao Sindicato!
Adoecidos e endividados
Na última sexta-feira 29, o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região denunciou a prática do Itaú de zerar holerites e até mesmo negativar contas correntes de bancários que voltam de licença médica por conta de débitos oriundos do adiantamento emergencial de salário ou adiantamento previdenciário, o que adoece ainda mais o trabalhador e o deixa sem salário e endividado, colocando em sério risco a sua saúde mental em um momento no qual já está fragilizado.
> Adoecidos, sem salário e endividados: o drama de bancários do Itaú
A denúncia do Sindicato, publicada no site da entidade, provocou uma série de relatos de bancários do Itaú nas redes sociais sobre como os trabalhadores são tratados pela instituição financeira. Na maioria dos depoimentos surge uma dinâmica muito cruel para o trabalhador: primeiro sofrem com pressão abusiva por metas, assédio moral, quando não são demitidos adoecem e, no retorno ao trabalho ou até mesmo durante a licença possuem os holerites zerados e contas correntes negativadas.
“Estou na mesma situação da matéria. Um descaso total com o funcionário. Erros na gestão e mais erros no RH”, relatou um bancário.
“Em 2015 me afastei e o INSS me concedeu o auxílio doença como acidente de trabalho, mas demorou para a perícia ocorrer e o dinheiro do auxílio ser creditado, mas o adiantamento foi descontado na minha conta o total de uma só vez e quando entrou o crédito do INSS estava todo endividado. Fiquei no vermelho por mais alguns anos até conseguir regularizar minha conta novamente”, diz outro trabalhador.
“Sou mais uma vítima também, afastado por crise de pânico e ansiedade generalizada, fiquei sem salário. Tive que usar o que eu tinha guardado”, reforçou um colega.
Outros bancários afirmaram nos comentários da matéria que foram demitidos doentes e até mesmo gestantes perderam o emprego. “Demitida grávida. Financiamento pra pagar, três doenças ocupacionais e sem renda além do meu marido”, disse uma trabalhadora. “Demitido doente e sem nenhum suporte. E quando se processa eles vem com migalhas, nem um tratamento contínuo eles fornecem para os funcionários e ex-funcionários que adoeceram por causa desse trabalho”, acrescentou outro bancário.
“Eu sai doente, psicologicamente e com doença ocupacional. Nunca mais quero trabalhar em banco, principalmente privado, os funcionários são como números e descartados quando não produzem dinheiro”, enfatizou mais um trabalhador.
Os relatos dos bancários provocaram também manifestações de solidariedade de clientes. “As vezes cuidar do mental vale mais que tudo! Espero que essas pessoas consigam se recuperar tanto no financeiro quanto no emocional!”, destacou um dos comentários. “Se isso ocorre com os colaboradores, imaginem o que ocorre com os clientes em geral. Eu já fui vítima desse banco” acrescentou outro.
Procure o Sindicato
Carlos Damarindo orienta que trabalhadores nas situações relatadas nos comentários acima procurem imediatamente o departamento Jurídico do Sindicato (CLIQUE AQUI). O sigilo é garantido.
“Qualquer demissão de gestante ou de trabalhador adoecido é irregular e cabe reintegração. No caso dos bancários que tiveram holerites zerados, também devem acionar o Sindicato. Diante da gravidade da situação, analisaremos a possiblidade de uma ação civil pública”, conclui.