São Paulo – Um grupo de mães fechou uma pista da Avenida Prestes Maia usando apitos, faixas e cartazes, durante toda a manhã de sexta-feira 22. Elas têm filhos matriculados no Centro Municipal de Educação Infantil (Cemei) Dom Gastão, uma das três em que a gestão do prefeito da capital paulista, João Doria (PSDB), anunciou que planeja encerrar o ensino integral na educação infantil – para crianças de 4 e 5 anos. As três unidades ficam no Bom Retiro, região central da cidade. “Estamos pedindo que o prefeito mantenha o período integral. Vai causar muita dificuldade para as famílias, a gente trabalha o dia todo. Se for só meio período eu não vou ter como buscar (a filha), não tenho condições de pagar alguém”, explicou a comerciante Elisabete Sairem Pinheiro, em entrevista à Rede Brasil Atual.
As mães protestavam em frente à escola, mas decidiram bloquear a avenida para chamar a atenção da população e da imprensa. Elas estão fazendo um abaixo-assinado para reivindicar a manutenção do Ensino Infantil no Cemei Dom Gastão e o não fechamento dos períodos integrais das Escolas Municipais de Ensino Infantil (Emei) Antonio Figueiredo Amaral e Alceu Maynard.
A gestão Doria decidiu encerrar o atendimento em período integral de três escolas da Diretoria Regional de Ensino (DRE) do Ipiranga, sem qualquer diálogo com as famílias que hoje são atendidas. O Cemei Dom Gastão deixará de atender as crianças na pré-escola, mantendo somente a creche, que recebe crianças de 0 a 3 anos em período integral. Serão 84 crianças de 4 e 5 anos distribuídas entre as escolas municipais de ensino infantil Antonio Figueiredo Amaral e Alceu Maynard, que deixarão de atender em período integral para receber as crianças transferidas.
A medida contradiz o discurso de Doria na campanha eleitoral, quando prometeu expandir o ensino integral na rede municipal de educação.
Para a auxiliar de cozinha Rayane Rodrigues Soares, a situação é bastante complicada. O filho Ryan, de 5 anos, tem microcefalia e, atualmente, fica em período integral na Cemei Dom Gastão. “Ele teria mais um ano ainda nessa escola. Era tempo pra gente se organizar. Se ele for para outra escola, não sei como vou levá-lo, nem buscá-lo, nem tenho com quem deixá-lo no resto do dia. Somos só nós, não temos nem parentes por perto.
Rayane ainda destaca o desenvolvimento do filho, que aprendeu a andar e só conseguiu deixar de usar fralda depois de conviver na escola. “Eu vou lutar até o fim porque nós precisamos muito desse atendimento em período integral. Não temos condição de pagar alguém ou uma escola particular em período integral. Ou terei de largar o emprego pra ficar com ele”, lamentou ela, que tem outro filho, de três anos, aluno da mesma escola. “Como vou fazer com cada um em um lugar?”, questionou.
Para o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, Doria está fazendo “mais do mesmo” na educação. “Ao longo da história, sempre se precariza pra expandir. A gestão Doria já reduziu espaços de atividades para aumentar vagas. Agora propõe reduzir o horário em nome de uma expansão (de vagas) completamente duvidosa, desvinculando o número de matrículas da qualidade da educação”, afirmou. Ainda segundo Daniel, a prefeitura está preocupada apenas em apresentar números para a população. “Doria trata a educação como problema a ser resolvido como variável eleitoral, em números. Não vê a educação como política capaz de elevar o desenvolvimento da cidade”, completou.
A conselheira tutelar Lualinda Toledo considera que a medida afeta diretamente os direitos das crianças. “Acompanhamos várias situações em que os pais são obrigados a deixar os filhos sozinhos ou com terceiros. É uma situação que prejudica o desenvolvimento, a alimentação saudável. Vai causar muito problema, porque eles (os pais) trabalham o dia todo. Não podem ter de escolher entre trabalhar e cuidar das crianças”, afirmou ela. Segundo Lualinda, o conselho tutelar da região vai emitir posicionamento ao Ministério Público e à Câmara Municipal.
A falta de outro programa educacional ou social para atender as crianças é mais uma preocupação para os pais. Todas as crianças que ingressam no ensino fundamental na rede municipal paulistana, a partir dos seis anos, podem ser inscritas em atividades socioeducativas nos Centros da Criança e Adolescente (CCA), com atividades geralmente realizadas em ONGs conveniadas, durante o contraturno escolar. Porém, não há programa desse tipo para atender as crianças de 4 e 5 anos. “Não há possibilidade de atividade socioeducativa para essas crianças. Manter o ensino integral é fundamental”, destacou a conselheira.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Educação informou que "toda e qualquer projeção feita neste momento referente a 2018 se trata apenas de estudo feito no âmbito da Diretoria Regional de Educação, que ainda deve passar por apreciação do gabinete. Portanto não há nada definido para o próximo ano letivo", ignorando, porém, que os pais estão sendo notificados sobre as desativações.