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Câmara dos Deputados

Saúde e condições de trabalho dos bancários é tema de audiência pública em Brasília

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Fotografia mostra pessoas sentadas e uma em pé durante a audiência em Brasília

Entre 2012 e 2024, segundo levantamento do Ministério Público do Trabalho (MPT), mais de 50 mil bancários relataram problemas de saúde mental relacionado ao exercício da profissão decorrentes do assédio moral, sexual, discriminação, excesso de jornada nos bancos do Brasil.

A situação enfrentada pelos trabalhadores dos principais bancos com o Bradesco, a Caixa Econômica Federal, o Itaú Unibanco, o Banco do Brasil e o Santander chegou à Câmara dos Deputados e foi objeto de audiência pública na terça 23, com o tema “Situação dos trabalhadores e trabalhadoras do setor bancário” na Câmara dos Deputados, em Brasília.

O debate foi convocado pelo deputado federal Vicentinho (PT-SP), atendendo uma reivindicação do movimento sindical bancário. (assista aqui)

Na abertura dos debates, Cirlene Luiza Zimmermann, procuradora do MPT, mostrou que os números refletem apenas a ponta do iceberg, já que a subnotificação é gravíssima: menos de 10% dos casos são reconhecidos oficialmente pelos bancos como doenças relacionadas ao trabalho.

“Precisamos combater as correntes de discriminação contra os trabalhadores adoecidos e mudar a organização do trabalho. Não adianta culpabilizar quem adoece sem tratar as causas do adoecimento”, afirma Cirlene.

Vigilância digital e demissões em massa

Fatos recentes também entraram nos debates com o avanço das ferramentas de monitoramento após o banco Itaú fazer a demissão em massa de 1.100 trabalhadores que atuavam em home office. Denúncias apontam que sistemas de vigilância digital eram usados para controlar a produtividade de forma abusiva. Bancários relataram não ter direito de defesa e muitos deles, cerca de 40% dos demitidos, haviam sido promovidos meses antes, mas acabaram desligados sob a justificativa de baixo desempenho.

Valeska Pincovai, secretária de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato, denunciou que o banco fez demissão sem nenhuma possibilidade de defesa dos trabalhadores e sem qualquer diálogo com o movimento sindical e que o processo de monitoramento feito por IA foi realizado sem o conhecimento do trabalhador. “Isso é um absurdo, nós precisamos regulamentar esse monitoramento feito por IA e não dá para esperar mais depois desse processo todo”.

 “Desde a pandemia, os trabalhadores transformaram suas casas em ambiente de trabalho e muitas vezes, isso significa para algumas instituições, que o empregado está disponível 24h, o que não se pode aceitar, já que em muitos casos há a exclusão do pagamento de horas extras nessa modalidade deixando brechas que favorecem jornadas excessivas e invisíveis. O empregado precisa de um tempo de desconexão, de descanso e a empresa precisa entender que há outras série de questões que ocorrem no ambiente familiar. Cada caso precisa ser analisado. Transformar a casa em ambiente de trabalho trouxe novas questões para saúde e segurança. É preciso garantir condições efetivas também nesse espaço, além de abrir diálogo com os trabalhadores para discutir melhorias”, explica Dercylete Lisboa Loureiro, coordenadora-geral de Fiscalização e Promoção do Trabalho Decente no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Valeska ainda mostrou que pelos atendimentos realizados pelo Sindicato, os números pioraram pós-pandemia, e eles só reforçam o avanço do adoecimento mental nos bancos.

De acordo com a Secretaria, em 2024, o Sindicato dos Bancários de São Paulo atendeu 2.361 trabalhadores adoecidos por doenças psicológicas. Até junho de 2025, foram 1.183 atendimentos;

Canal de Denúncias do Sindicato recebeu, em 2024, 518 denúncias só de assédio moral. Até junho de 2025, foram 236; a pressão nos locais de trabalho gerou 105 denúncias em 2024, e 51 em 2025. 358 denúncias de assédio moral até 31 de agosto; além de dois casos de tentativas de suicídio, um consumado, por trabalhadores do mesmo banco por conta da pressão diária.

Valeska Pincovai, secretária de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato

Valeska reivindicou também que o banco ofereça novas formas de tratamento aos trabalhadores adoecidos e pede atenção dos deputados.

“Os bancos não acolhem, não dão atendimento humanizado, não orientam o trabalhador como ele tem que se afastar ou até mesmo como fazer o tratamento. O que vemos é uma política de perseguição aos trabalhadores que adoecem, os bancos oferecem dinheiro em troca da estabilidade do trabalhador adoecido, não respeitam o atestado médico e ainda chegam a contestar o resultado da perícia do INSS”, denuncia Valeska.

Ameaça de descomissionamento afeta saúde dos empregados da Caixa

Já em relação aos empregados e empregadas da Caixa, Sergio Takemoto, presidente da Fenae, diz que a situação não é diferente, nos anos 1990, as doenças de maior incidência eram as chamadas Ler/Dort, hoje em dia, a saúde mental afeta mais os trabalhadores.

Pesquisa recente com 2.400 empregados, mostra a evolução dessa epidemia: 37% deles afirmam ter sido diagnóstico com problemas mentais relacionado ao trabalho desenvolvido no banco, 61% dos respondentes avaliam que a Caixa não oferece apoio adequado relacionado a ansiedade, estresse, depressão.

“Dados são preocupantes e aumentaram demais em relação a pesquisa anterior, já que o empregado se submete a pressão diária para o cumprimento de metas por meio de ameaças de perder o comissionamento. Além disso, é preciso rever também o quadro de funcionários já que em 2014 e 2015, a Caixa chegou a ter mais de 100 mil empregados e, hoje, estamos com 84 mil. Ou seja, trabalhamos mais porque aumentou o número de clientes e com menos pessoal já que houve redução no quadro de funcionários”, relata.

O papel dos sindicatos

Para o deputado federal Vicentinho (PT-SP), a atuação sindical é indispensável na fiscalização e no acompanhamento das medidas implementadas pelos bancos. E destaca que lá no Congresso Nacional a bancada dos bancos é tão forte que basta fazer uma crítica para que muitos parlamentares saiam em defesa deles e contra a categoria bancária.

“Eu tenho um relacionamento de longos anos com os metalúrgicos e bancários e já fizemos parcerias em muitas lutas em prol da dignidade deste país. É fundamental que a população comece a enxergar os bancários e o papel dos sindicatos para garantir não só os direitos de uma classe como a de todos os trabalhadores neste país. Podem contar comigo para avançar em novas conquistas, elaborar projetos e para uma atuação parlamentar no nível do poder judiciário ou nas lutas diárias”, finaliza Vicentinho.

Os participantes dessa audiência elaboraram um dossiê que foi entregue ao deputado no fina da sessão.

Compuseram a mesa da audiência pública, além de Valeska Pincovai, Cirlene Zimmermann, e Dercylete Lisboa, Adauto Duarte, negociador da Federação Nacional dos Bancos (FENABAN), Mauro Salles, secretário de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (CONTRAF-CUT), André Guerra, doutor em Psicologia Social e advogado, assessor sindical, Gheorge Vitti, Presidente do Sindicato dos Bancários do ABC e Adriana Bergamin, Gerente Relacionamento Empresas (23 anos de Itaú).

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