Pular para o conteúdo principal

Revogação do desarmamento oficializa 'bang-bang'

Linha fina
Segundo tenente-coronel da Polícia Militar paulista, com flexibilização do estatudo do desarmamento, "população andará armada se defendendo de si mesmos e será o vale-tudo de todos contra todos"
Imagem Destaque
São Paulo – “Se o Legislativo aprovar esse estatuto estamos decretando oficialmente o fim do Estado, já que é ele o responsável pelo bem comum. Mas o Estado virou as costas para a sociedade e a entregou para a própria sorte”, afirma o tenente-coronel da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Adilson Paes de Souza, em entrevista à repórter Marilu Cabañas da Rádio Brasil Atual, na quinta-feira 29, sobre a aprovação do texto-base que altera o Estatuto do Desarmamento, na Comissão Especial da Câmara.

“Com a revogação do Estatuto do Desarmamento estamos oficializando o bang-bang. A população andará armada se defendendo de si mesmos, será o vale-tudo de todos contra todos. É o reconhecimento da falência do Estado, que foi incapaz de tratar a segurança do cidadão”, conclui.

Para o tenente, além do perigo representado pelo armamento de civis, há outras formas de garantir a segurança da população. “As pessoas estão com o emocional abalado, e acham que com uma arma de fogo terão poder a mais para enfrentar uma situação grave. Não digo que as pessoas devem assistir tudo de maneira passiva, mas existem outras maneiras de reação, como exigir do Estado mais segurança pública.”

> Ouça a entrevista completa

Na terça-feira 27 uma comissão especial da Câmara aprovou o projeto de lei que altera o Estatuto do Desarmamento. O texto revoga o Estatuto anterior, reduz de 25 para 21 anos a idade mínima para a compra de armas e autoriza o porte para pessoas que estão respondendo a inquérito policial ou processo criminal e para parlamentares.

A posição progressista do tenente, segundo ele, é motivada pelo tempo que dedicou ao estudo para “conduzir algumas inquietações”. Ele conta que nunca sofreu represália dentro da corporação, e à medida que conquistava postos de comando buscava estimular o raciocínio crítico dos colegas, algo que nunca foi visto como indisciplina.

“Eu buscava estimular isso em meus oficiais e garanto que não houve quebra de disciplina. Sempre disse que violência gera violência, e se torna uma espiral que não se sabe quando vai terminar. Antes de uma questão legal, é uma questão sociológica.”

Para Adilson, medidas como a redução da maioridade penal, agravamento de pena e a revogação do Estatuto do Desarmamento vêm coroar a onda de conservadorismo. “Nós estamos assistindo um grande retrocesso no Brasil. Temos um Congresso conservador, falas conservadoras estouram na mídia, propostas conservadoras aprovadas nas casas legislativas, condutas conservadoras e não transparentes nos poderes Executivos. Isso não é um ambiente democrático.”

O oficial conclui que não adianta armar a sociedade se o Estado não cumpre o papel de diminuir a violência. “Já ouvi que tenho que ‘levar bandido para casa’, mas não é essa a questão, marginal tem que ser tratado com rigor, mas nos termos da lei. A prisão tem que ser um estabelecimento corretivo e de ressocialização, porque estamos falando de seres humanos, não de animais, já que temos humanos tratados como animais. O Estado desumaniza as pessoas, devolve-o para a sociedade e depois quer que ele tenha uma conduta humana.”


Rede Brasil Atual – 30/10/2015
seja socio