A necessidade de um sindicalismo forte e unido para garantir o futuro dos sindicatos foi defendida por dirigentes durante o debate “Desregulamentação, precarização do trabalho e as alternativas de organização dos trabalhadores e das trabalhadoras” , que ocorreu na segunda-feira 7, durante o 13º Congresso Nacional da CUT (ConCUT), que está sendo realizado em Praia Grande (SP).
A reportagem é do Portal CUT.
Na abertura do debate, Susanna Camusso, da Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL Itália), afirmou que os trabalhadores não têm mais direitos e que as tecnologias e a digitalização e a quarta revolução industrial não foram criadas para todos. E, por isso, é preciso mudar esse modelo por meio de um sindicalismo internacional mais fortalecido e mais engajado pela luta pela liberdade.
“Se o trabalho for, por exemplo, o Uber e 99 Táxi, o trabalhador está sozinho, não tem uma associação para apoiar. Mas, se o trabalho é precário, informal ou autônomo, não importa, todos são trabalhadores e temos de ter consciência dos direitos universais para todos. Os direitos dos trabalhadores são direitos humanos”.
Segundo a dirigente italiana, os sindicatos devem estar sempre mobilizados contra o fascismo e o autoritarismo. “A luta pelos trabalhadores é uma luta pela democracia”, afirmou.
Já Luciana Itikawa, do “Women in Informal Employment: Globalizing and Organizing” (Wiego), que em tradução para o português significa “Mulheres no Emprego Informal: Globalizando e Organizando”, falou sobre o trabalho da entidade inglesa, que é focada na melhoria das condições dos trabalhadores na economia informal.
Ela iniciou sua fala criticando uma propaganda do cartão Cielo que mostra um trabalhador ambulante e a empresa diz que se não fosse a Cielo ele não seria nada.
“Eles querem mostrar que a luta dos trabalhadores é individual. É uma narrativa de culpar o trabalhador pela sua situação. A culpa é sempre do trabalhador”, critica a representante da Wiego.
De acordo com Itikawa, este é apenas um exemplo dos motivos para que os sindicatos não sejam apenas organizações da base, mas uma politização da base.
“A informação é muito importante. O que aconteceu na eleição?, questiona Itikawa, que ao mesmo tempo responde: “ Um monte de fake news. Precisamos produzir, mostrar e fazer a nossa defesa. Na organização coletiva e em vários âmbitos”, enfatiza.
Para isso, segundo ela, a organização coletiva é fundamental para os trabalhadores informais.
“É preciso lutar pela legitimação dos trabalhadores como atores e sujeitos de negociação e de direitos. Eles precisam de espaço, infraestrutura e trabalho perto de suas casas”, defendeu.
Sobre as novas tecnologias que têm mudado o mundo e destruído empregos, o representante da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (Intersindical Nacional- CGTP-IN), Augusto Praça, defendeu a necessidade de capacitação como forma de garantir direitos.
“Para transformar essa discussão a nosso favor, é preciso aumentar a capacitação e, com isso, realizar uma melhora econômica”.
A luta por direitos de todos os trabalhadores e trabalhadores sejam formais ou informais de todo o continente latino-americano e Caribe foi defendida por Rafael Freire, da Confederação Sindical de Trabalhadores das Américas (CSA).
Para ele, debater o futuro do trabalho é debater a organização sindical, é defender os direitos trabalhistas dos ataques que vêm sendo realizados por governos neoliberais na América Latina.
“Não podemos esquecer que, mesmo o Brasil, com um sindicalismo forte e com uma esquerda organizada, com atores políticos, foi alvo de uma reforma Trabalhista. O exemplo brasileiro abriu uma oportunidade para ataques aos direitos dos trabalhadores em outros países latinos”.
O dirigente citou como exemplo a repressão brutal no mês passado aos trabalhadores de Honduras , o estado de sítio que se encontra o Equador hoje e os assassinatos e ataques a sindicalistas daquele país, a disputa entre o presidente do Peru e congressistas e o governo neoliberal econômico do presidente Maurício Macri, na Argentina.
Para Rafael Freire é preciso responder a três frentes importantes: o primeiro é lutar pela democracia porque sem isso será muito difícil responder à reforma sindical. A segunda é responder às relações do trabalho de hoje diferentes das que muitos dirigentes sindicais ainda se apóiam e a terceira é saber qual a estrutural sindical necessária para responder a todos os desafios.
Ele acredita que há três pontos a serem debatidos pelos sindicalistas: a opção por um sindicalismo sócio político, de organização de movimentos que façam parte luta democrática, que lute contra a direita; a opção por representar o que se tem hoje, e a terceira opção é renovar a estrutura sindical.
“A segunda opção de se manter o que representamos hoje é aumentar a crise. Ou nos renovamos em toda a América Latina ou optamos por não responder à classe trabalhadora!”
O dirigente reforça a necessidade de renovação da estrutura sindical ao citar que há 48 centrais sindicais na América Latina que representam 55 milhões de trabalhadores.
“Não adianta ter 4 mil sindicatos e 50 mil dirigentes. Ou renovamos para termos menos sindicatos e mais sindicalizados ou a tendência é desaparecermos. A resposta a este questionamento tem de vir de nós mesmos. Por isso, há uma grande expectativa da resolução final do Congresso da CUT ”, ressaltou.
Freire defendeu, ainda, a opção da CSA, de fazer um sindicalismo de luta internacional e manter a classe trabalhadora mobilizada e com forças para negociar coletivamente.
“Quem tem o poder é quem tem força”, avaliou o dirigente da CSA, o último palestrante do Seminário Internacional que abriu o primeiro dia do 13º Congresso Nacional da CUT.
A partir das 20h, será realizada a abertura oficial do 13º Concut, que contará com as presenças da ex-presidenta Dilma Rousseff, o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e a presidenta do PT, Geisi Hoffmann.