Quem são os agentes do sistema financeiro? Esta pergunta abriu a primeira mesa do seminário sobre o ramo financeiro, realizado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo nesta quinta-feira 23 e na sexta 24 para compreender as mudanças no setor e definir estratégias a fim de representar os trabalhadores e proteger seus direitos.
“É muito importante para o nosso Sindicato se atualizar, organizar os trabalhadores e acompanhar cada mudança que impacta no emprego, nos direitos e na vida dos empregados no setor financeiro. E o Seminário do Ramo Financeiro é mais uma iniciativa neste sentido”, destaca Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários.
Para se ter uma ideia das mudanças no setor financeiro, em 1994 os trabalhadores de bancos correspondiam a 80% dos 718 mil trabalhadores do ramo. Trinta anos depois, representavam 42%, ou 424 mil do total de um milhão de empregados do setor.
A transformação se acentuou a partir de 2012. Naquele ano a categoria bancária compunha 61% do total, os securitários eram 22% e as cooperativas de crédito, 5%. Doze anos depois, essa proporção mudou respectivamente para 42%, 27% e 12%. Os dados são da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e foram compilados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Um ator que no mesmo período ganhou força no ecossistema financeiro foram as fintechs, empresas que introduzem inovações no mercado financeiro por meio do uso intenso de tecnologia e atuam por meio de plataformas online com potencial para criar novos modelos de negócios.
Regulamentadas desde 2018 pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), as fintechs, apesar de boa parte dessas empresas realizarem trabalhos similares a dos bancos/financeiras, muitas vezes estão em “categorias genéricas” na Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE), dificultando a definição da sua categoria profissional.
A proporção desses trabalhadores aumentou de 3% para 8% no Brasil, entre 2012 e 2024. Atualmente, existem mais de duas mil fintechs no país, em categorias como crédito, pagamento, gestão financeira, empréstimo, investimento, financiamento, seguro, negociação de dívidas, câmbio e multisserviços.

“A atual configuração do sistema financeiro nacional traz novos desafios para a representação dos trabalhadores, e discutir essas mudanças é uma ótima iniciativa do Sindicato no sentido de ampliar o conhecimento sobre este tema com o objetivo de fortalecer e ampliar os direitos dos empregados do ramo financeiro”, destaca Catia Uehara, economista do Dieese que apresentou os dados no seminário.
“Diante dessas transformações, é nítida a importância da organização dos trabalhadores, da luta coletiva e do processo negocial com as empresas do setor financeiro. Ao mesmo tempo, é urgente enfrentar o desequilíbrio regulatório e trabalhista que permite às fintechs competir em condições desiguais, explorando trabalhadores fora do enquadramento sindical e com redução de direitos. Nossa luta é para que os trabalhadores das fintechs sejam abrangidos por todos os direitos da Convecção Coletiva de Trabalho da categoria bancária”, finaliza Neiva Ribeiro.