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Ato lembra 40 anos da Operação Condor

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Vítimas recordam a brutalidade da conspiração entre as ditaduras do Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai contra a soberania e a democracia na América Latina; e reforçam que é preciso conhecer o passado para evitar retrocessos
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São Paulo – “Foi muita emoção ao desembarcar em Brasília e ouvir as palavras de Juscelino Kubitschek e João Goulart. Com a queda de Goulart começava a Operação Condor”, contou Martin Almada, cidadão paraguaio que se levantou contra o regime ditatorial em seu país. Na noite de quinta-feira 26, ele participou de um ato público na Casa dos Professores da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo), na capital paulista, que lembrou as vítimas das ditaduras na América Latina e os 40 anos da Operação Condor.

“Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai sofreram com a brutalidade da Operação Condor, que foi uma conspiração contra a soberania e a democracia. Das vítimas, 60% a 70% eram dirigentes sindicais, estudantes, jornalistas, camponeses, artistas, intelectuais e militantes constitucionalistas. Por isso estamos órfãos de lideranças”, declarou Almada, bastante emocionado.

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O encontro também contou a presença de Paulo Vannuchi, membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e ex-ministro de Direitos Humanos do governo Lula; com João Felício, da executiva nacional da CUT e presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI); Wahdi Hamous, ex-presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro; Laert Teixeira, da Confederação Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA); e Jane Silverman, da AFL-CIO (Federação Americana do Trabalho).

Almada foi uma das vítimas da repressão que descobriu o “arquivo do terror”. Teve acesso a documentos abandonados em uma delegacia próxima à capital Assunção que comprovavam a existência formal da organização, orquestrada para articular a cooperação entre as ditaduras da América Latina e suas forças armadas.

A Operação Condor foi formalizada em reunião secreta realizada em Santiago, no Chile, no final de outubro de 1975. Foi uma aliança entre as ditaduras instaladas nos países do Cone Sul na década de 1970 – Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai – para a realização de atividades coordenadas, de forma clandestina e à margem da lei, com o objetivo de vigiar, sequestrar, torturar, assassinar e fazer desaparecer militantes políticos que faziam oposição, armada ou não, aos regimes militares da região.

Vannuchi lembrou que a criação de uma comissão que apurasse os crimes durante a ditadura militar era um desejo do ex-presidente Lula. “Quando assumi o cargo eu mergulhei meu entusiasmo durante cinco anos para criar a Comissão da Verdade. O golpe do Chile teve reunião aqui no Brasil e isso já foi provado pelo WikiLeaks. A ditadura ainda deixa muito dos seus cacos ativos e nós estamos enfrentando um ciclo de violência, ódio e intolerância de regresso civilizatório”, afirmou.

A Comissão Nacional da Verdade examinou um conjunto de documentos, obtidos junto a acervos no Brasil, Argentina, Estados Unidos e Paraguai, que atestam a participação de órgãos e agentes da ditadura brasileira em atividades no marco da Operação Condor.

De acordo com João Felício, é importante politizar a base sindical para levar o debate de conflitos pela verdade para a sala aula e, também, colocar na pauta sindical o tema que vai além das questões trabalhistas. “O sindicalismo que fazemos na CUT procura fazer essa combinação, desde nossa origem. Temos uma responsabilidade muito grande, não é a de fazer a sala de aula um espaço de discurso político partidário, mas transformá-la num espaço de debates dos problemas sociais para fazer uma conexão entre o passado, presente e futuro”, afirmou.

Felício lembrou ainda o projeto que tenta despolitizar a educação, em tramitação na Câmara Federal. “Isso depois da conquista da democracia no país, de centenas de sindicalistas que foram assassinados, de mais de 400 mil que morreram pelas ditaduras militares na região... olha aonde chegamos.”

Vannuchi também ressaltou que é preciso retirar os nomes de pessoas que contribuíram com a ditadura das escolas e avenidas. “Não pode ter uma universidade chamada Bandeirantes, uma rodovia chamada Bandeirantes, Anhanguera, Raposo Tavares. É preciso batizar com nomes de Sepé Tiaraju e Zumbi, e nós não conseguimos fazer isso e os nossos antecessores não tinham força política para fazê-lo, mas hoje temos.”


CUT - 30/11/2015

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