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Sabesp está captando mais água de represa poluída

Linha fina
Empresa controlada pelo governo estadual descumpre norma de órgão regulador e retira 40% mais do que o permitido da Billings, contaminada com metais pesados; especialistas apontam riscos para a população
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São Paulo – Desrespeitando uma norma estadual, o governo Geraldo Alckmin está retirando mais água do que o permitido da ultrapoluída represa Billings, na zona sul de São Paulo.

Portaria do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) limita a captação de água da Billings para o sistema Guarapiranga – que abastece mais de 5 milhões de pessoas nas zonas sul, oeste e centro –  a 2.190 litros por segundo, na média anual.

Mas desde janeiro a empresa tem captado 40% a mais: em torno de 3.800 litros de água por segundo. As informações foram publicadas na Folha de São Paulo desta quinta-feira 12.

Eduardo Lucas Subtil, professor da Universidade Federal do ABC e especialista em saneamento, aponta que uma maior captação da represa – feita em um braço menos poluído – pode gerar uma mistura maior com a água mais contaminada, localizada no centro do reservatório, próximo de onde desagua o Rio Pinheiros em diversos dias do ano, afetando ainda mais a já comprometida qualidade da água.

“O problema é que a tecnologia de tratamento não foi concebida para a água com qualidade muito inferior. A Sabesp utiliza um sistema de tratamento convencional, que foi planejado para remover cor, turbidez, resíduos sólidos em suspensão e organismos patogênicos, que não tem eficiência para remover outros poluentes como metais pesados”, afirma.

Pesquisas realizadas no Laboratório de Limnologia do Instituto de Biociências da USP revelam que os sedimentos da Billings apresentam uma quantidade elevada de metais pesados como cádmio, chumbo, cobre, zinco, níquel e cromo, o que sugere uma alta toxicidade do sedimento.

Responsável pelo estudo, o biólogo e limnologista (ciência que estuda aspectos biológicos e químicos da água doce) Marcelo Pompêo lembra que o tratamento de esgoto na região metropolitana de São Paulo é muito insuficiente, o que contribui para o estado calamitoso dos mananciais. Para ele, o governo deveria investir pesadamente em tratamento de esgoto e na preservação dos mananciais.

“Mas não vejo isso do governo do estado. As medidas são sempre fracionadas tentando ser solucionadas a toque de caixa. É uma decisão politica deixar nessa situação. O estado está gerindo uma empresa de capital misto [Sabesp] como se fosse uma empresa privada, para dar lucro aos seus acionistas. Deixou de ser uma empresa pública que presta um bom serviço à população, e quando o lucro caiu por causa da crise de abastecimento, a proposta foi subir o preço da tarifa.”

Outro lado – Segundo a Folha de S. Paulo, a Sabesp, responsável pela captação de água, diz que cumpre acordo firmado por meio de uma troca de carta com o superintendente do Daee, também vinculado ao governo do estado de São Paulo.

Ainda de acordo com a Folha, essa carta usa como justificativa a criticidade dos níveis de armazenamento que abastecem a grande SP para praticamente dobrar a quantidade de água que pode ser captada da Billings.


Redação, com informações da Folha de S. Paulo – 12/11/2015
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