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Chapéu
Sipat

Itaú aborda saúde mental, mas segue adoecendo bancários

Linha fina
Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho do banco destacou doenças psiquiátricas - enquanto forma organizacional da empresa, baseada no cumprimento de metas abusivas e impostas sem discussão - segue adoecendo trabalhadores
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Montagem: Linton Publio

Os bancos respondem por apenas 1% dos empregos no Brasil, mas foram responsáveis por 5% do total de afastamentos por doença no país, entre 2012 e 2017. Os dados são do Ministério Público do Trabalho.

O total de trabalhadores que tiveram de acionar o INSS para requerer benefícios acidentário ou previdenciário foi de 13.297 em 2009. Oito anos depois, 17.310 tiveram de se afastar do trabalho por conta de enfermidades. Aumento de 30%.  Mais de 50% dos casos referem-se a transtornos mentais (aumento de 61,5%) e enfermidades relacionadas a lesões por esforço repetitivo (crescimento de 13%).

O ano de 2018 apresentou novo aumento de bancários adoecidos, mesmo diante do encolhimento do número total de trabalhadores nos bancos: 17.654 bancários se afastaram do trabalho. O número leva em conta auxílios acidentário e previdenciário.

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Sob este pano de fundo, o Itaú realizou a Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho (Sipat). O evento, realizado no Ceic entre os dias 4 e 8 de novembro, abordou assuntos como ansiedade, depressão, síndrome de burnout e estresse.

Contudo, os trabalhadores não participaram da sua construção.  “Nós lamentamos que o Sindicato foi apenas informado sobre a realização da Sipat, sendo que nós pedimos um espaço para debater a saúde do trabalhador”, critica Carlos Damarindo, secretário de Saúde do Sindicato e bancário do Itaú.

A Sipat teve a participação de especialistas como Drauzio Varella e também do presidente do banco, Cândido Bracher.

“A presença e participação de Bracher na Sipat é importante e positiva, mas não adianta apenas o presidente da empresa reconhecer o problema dos adoecimentos mentais, sendo que os trabalhadores ficam doentes justamente devido a estrutura organizacional do banco baseada na imposição de metas abusivas e jornadas extenuantes que geram assédio moral e resultam na epidemia de doenças psiquiátricas entre os bancários”, avalia Damarindo.

O dirigente Sérgio Francisico denuncia também a omissão da área médica do Itaú. “Nós identificamos um distanciamento entre a realidade do ambiente de trabalho do banco com a sua política de saúde, que muitas vezes ignora as doenças e o sofrimento dos bancários. Os médicos do trabalho desconhecem a atividade bancária. Servem ao interesse exclusivo do banco. Um descaso”, afirma.

Os bancários não sofrem apenas com doenças psiquiátricas, mas também com enfermidades relacionadas a movimentos repetitivos ou manutenção de posturas inadequadas (osteomusculares). “O Itaú criou novos modelos em centros administrativos, como Ceic e CTO, nos quais os bancários trabalham em pufes e sofás, sentados no chão. Parece algo moderno, mas que poderá trazer consequências para a saúde ergonômica dos trabalhadores no futuro”, alerta Damarindo.

“O Itaú sabe de todos estes problemas, mas não se esforça para reverter o quadro. Não queremos que a Sipat seja um evento meramente protocolar. O banco deve promover uma política permanente de saúde por meio de uma gestão na qual os trabalhadores tenham acesso e participem da sua elaboração”, reivindica o dirigente.

“Cobramos também que a forma de organização baseada em metas, muitas vezes individuais e muitas vezes inatingíveis, seja revista para um modelo em que elas sejam elaboradas por todos e estipuladas e cobradas coletivamente”, reforça Damarindo.

Ao longo de 2019 três reuniões do Sindicato com integrantes  da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) foram realizadas a fim de apontar problemas de saúde no Itaú. “Muitos reforçaram que falta uma política mais séria de combate ao adoecimento e a existencia do presenteísmo [quando o trabalhador doente e com atestado médico insiste em trabalhar a fim de evitar ser punido ou demitido]. A Cipa pode ser uma esfera de mudança dentro do local de trabalho”, afirma Damarindo. 

“O banco não pode alegar que doenças como depressão e síndrome do pânico têm origem apenas fora do local de trabalho. O problema está dentro do banco, pois como os números do INSS atestam, 50% dos casos de afastamento referem-se a transtornos mentais, e este número não se reflete no conjunto da população”, finaliza o dirigente.

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