O Sindicato dos Bancários de São Paulo, junto com a CUT e demais centrais sindicais protestaram em frente ao prédio do Banco Central (BC) para cobrar a redução da taxa básica de juros da economia (Selic). O protesto foi realizado nesta quarta-feira 4, mesmo dia em que o Comitê de Políticas Monetárias (Copom), do BC, voltará a se reunir para rediscutir o índice. Atualmente, a Selic está em 15% ao ano.
“Já que os banqueiros e a grande imprensa têm espaço para discutir os seus interesses na política econômica no Brasil, que os trabalhadores também sejam ouvidos. (...) A política de juros representa que uma minoria vai colocar dinheiro para render a 15% ao ano, e isso vai tirar o dinheiro que deveria ir para a saúde, educação, segurança pública e a melhoria da qualidade de vida da população, mas que está engordando o bolso de meia dúzia de empresários e banqueiros apoiados por um setor da imprensa que vem com a desculpa de que é para conter a inflação. Em um país em que o emprego está crescendo e o dólar vem baixando, as oportunidades só não são maiores por causa dessa taxa de juros absurda”, afirmou Antonio Netto, dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo e dirigente da CUT-SP.
Os movimentos sindicais também apontam que a manutenção da Selic elevada colabora somente para o rentismo, termo para um sistema econômico em que poucos se apropriam dos recursos de muitos. Como os títulos da dívida pública no Brasil são, em sua maioria, remunerados pela Selic, os recursos financeiros que poderiam ser direcionados para a economia real, portanto à produção de empregos, acabam sendo desviados para o ganho fácil das aplicações financeiras.
Entenda
O Copom se reúne a cada 45 dias por dois dias consecutivos para, com base em avaliação do cenário econômico e na inflação, redefinir a Selic. Nos dois últimos encontros, realizados em julho e setembro, a entidade decidiu manter o índice em 15% ao ano.
“Não há dúvidas de que é, sim, possível reduzir a Selic. A inflação no Brasil não tem nada a ver com a taxa Selic, porque não é uma inflação de demanda (de uma economia superaquecida). A inflação de hoje é por elevação dos preços pelos oligopólios, ‘profit inflation’ (inflação gerada por elevação de lucros), para terem lucros maiores", explicou o economista e professor da PUC-SP Ladislau Dowbor. "Ou seja, a taxa Selic nas alturas está gerando lucros para os mais ricos”, completou.
O economista lembrou que no Japão, por exemplo, a taxa básica de juros subiu, em julho passado, de 0,25% para 0,5%. “Aqui no Brasil, a Selic em 15% não é política monetária, é uma apropriação indevida de recursos públicos, dos nossos impostos. Reduzir a taxa Selic vai redirecionar o dinheiro para investimentos produtivos, que é o que precisamos", observou Dowbor, reconhecido por pesquisas nas áreas de desenvolvimento econômico e sistemas financeiros nacional e global.