Pular para o conteúdo principal
Chapéu
ecos do passado

“Identificação de bancário assassinado é simbólica”, afirma historiador

Linha fina
Diretor executivo do Instituto Vladimir Herzog destaca que Aluizio Palhano foi morto em órgão de repressão sob o comando do então major Carlos Alberto Brilhante Ustra, militar enaltecido pelo presidente eleito Jair Bolsonaro
Imagem Destaque

A identificação dos restos mortais do bancário Aluizio Palhano, assassinado durante a ditadura civil-militar (1964-1985) é simbólica no momento atual pelo qual o país atravessa. A opinião é de Rogério Sottili, diretor executivo do Instituto Vladimir Herzog e mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

De acordo com o Dossiê dos Mortos e Desparecidos a Partir de 1964, baseado em testemunhos de ex-presos políticos, o bancário Aluizio Palhano foi preso em 9 de maio de 1971 e assassinado no dia 21 do mesmo mês, no DOI-Codi do II Exército (São Paulo), órgão encarregado da repressão a grupos de oposição à ditadura militar e a organizações de esquerda que atuavam na região.

“O responsável direto pelo assassinato sob tortura de Aluizio Palhano chama-se Carlos Alberto Brilhante Ustra. E essa pessoa é a referência, é um ídolo daquele que foi eleito presidente da República. Isso é muito triste para o Brasil, mas a identificação desse bancário também sinaliza que nós não cansamos e continuaremos lutando para que o Brasil seja definitivamente democrático, e para evitar que torturadores como Brilhante Ustra sejam vangloriados”, afirma Sottili.

De setembro de 1970 a janeiro de 1974, Ustra chefiou o DOI-Codi do II Exército, localizado na Vila Mariana, zona sul de São Paulo. A Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo reuniu 502 denúncias de tortura no DOI-Codi paulista no mesmo período. 

Em 2008, por decisão em primeira instância do juiz Gustavo Santini Teodoro, da 23ª Vara Cível de São Paulo, o coronel Ustra tornou-se o primeiro oficial condenado pela prática de tortura durante a ditadura civil-militar, mais de trinta anos depois dos fatos ocorridos. Ustra morreu em 2015 sem nunca ter sido preso. 

Para Sottili, que foi secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo na gestão Haddad, enfrentar esse momento é necessário para que um dia o país possa vislumbrar a democracia. 

“A identificação dos restos mortais representa a luta de 50 anos de familiares de mortos e desparecidos e de instituições empenhadas em estabelecer o direito à memória e à justiça no país. Se o Brasil não conhecer o que aconteceu com a sua história, nós não conseguiremos fazer justiça. E se não fizermos justiça, nós repetiremos os mesmos erros que viemos cometendo em toda nossa história.” 

A identificação de Palhano – a segunda ocorrida em 2018 – é resultado do trabalho do Grupo de Trabalho de Perus – GTP, laboratório criado pela Unifesp, em parceria com a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo (SMDHC) na gestão de Sottili, e do Ministério de Direitos Humanos.

seja socio